A pressa é sempre má conselheira...

OPINIÃO12.12.202205:30

É preciso deixar assentar a poeira, antes de avaliar o ‘estado da arte’ na Seleção Nacional depois do Mundial do Catar

SER selecionador nacional  tem muito que se diga, e está longe de ser uma tarefa caracterizada pela estabilidade. Que o diga, por exemplo, Luis Enrique, que abandonou o banco da Espanha depois de ter passado quatro anos a ouvir elogios de todas as bandas, quer por ter promovido a renovação geracional em La Roja, quer por manter fidelidade a um padrão baseado no Joga Bonito, quer ainda por só ter caído nos penáltis nas meias do Euro-20, frente à Itália que se sagraria campeã, e mais recentemente, por ter eliminado Portugal na Liga das Nações.

Bastou o desacerto dos seus pupilos no desempate da marca de onze metros contra Marrocos para ter caído, no país vizinho, o Carmo e a Trindade, antes da queda do próprio treinador campeão europeu pelo Barcelona. Tite foi outro tramado pelos penáltis, depois de os seus jogadores se terem deixado empatar infantilmente, no jogo com a Croácia, quando a vitória parecia certa. E lá foi Tite ao ar, sem consideração pela boa equipa que foi capaz de montar.

A lista de selecionadores que encerraram ciclos após este Mundial do Catar é longa, incluindo nomes como os de Paulo Bento (Coreia do Sul), Roberto Martínez (Bélgica), Carlos Queiroz (Irão), Tata Martino (México) e Diego Alonso (Uruguai).

Relativamente a Portugal, repito o que aqui tinha escrito há uma semana: ficar entre os oito melhores é aceitável para uma equipa que sendo candidata não era favorita. Fica, é certo, o sabor amargo de uma derrota cruel, em que os erros foram pagos com custos elevados e a sorte fez questão de andar sempre de costas. Mas é preciso deixar assentar a poeira, antes de ser tomada qualquer decisão quanto ao futuro da Seleção Nacional, rumo ao Euro-2024.

É a Fernando Santos, com quem Portugal conheceu os maiores sucessos da sua história futebolística, que cumpre, introspetivamente, avaliar se sente, ou não, o seu ciclo terminado, ou se entende ter capacidade para liderar a próxima demanda. Ao mesmo tempo, Fernando Gomes e a sua equipa deverão retirar conclusões da participação no Catar-22, e aquilatar do estado da relação do selecionador com o núcleo duro que irá manter-se nos próximos anos. Só depois destes passos valerá a pena uma reunião de Santos com Gomes para a definição do futuro. Em casos assim, a pressa é má conselheira.
 

ÁS — BRUNO FERNANDES 

Aproveitou como ninguém o palco do Mundial para se confirmar como estrela de primeira grandeza. Melhor jogador de Portugal na competição, só deve lamentar que o petardo que disparou à baliza de Bono não tivesse saído um palmo mais abaixo. Tem condições, aos 28 anos, para ser líder de Portugal em 2026.
 

ÁS — GONÇALO RAMOS

Apesar de liderar os goleadores em Portugal, apesar de ter marcado em duas edições da Champions, e apesar de ser titular do Benfica, era um quase desconhecido no mundo do futebol. O hat trick à Suíça tirou-o do semianonimato, à boleia da mediatização de ter substituído CR7. Agora já sabem quem é...
 

DUQUE — PIERLUIGI COLLINA

Nem a mais sofisticada tecnologia de ponta conseguiu salvar a atuação de vários árbitros sem o mínimo de condições para estar num Campeonato do Mundo. À falta de preparação de muitos, acresce um critério de nomeações que ninguém entende, e que já tornou grandes jogos em palcos de vaudeville.