A minha curva sigmóide, nada linear e bastante irreal

OPINIÃO23.04.202004:00

ESTA semana vi o Sporting a ganhar ao Manchester City. Infelizmente foi em 2012. De resto, como também gosto de previsões, aqui vão algumas.
Quero, como nota prévia, pedir aos leitores adeptos de qualquer clube que não seja o meu, que vejam este texto como um simples exercício de humor. Não acredito nele, mas achei que numa época em que se preveem uma série de medidas sem que se saiba, de modo seguro, o que se vai passar, entendi que era mais do que lícito fazer as minhas próprias previsões.

Cá vão elas. Para mim era claro que na 25ª jornada da I Liga, a primeira que não se realizou devido à pandemia, o Sporting ia ganhar a Guimarães. Ao mesmo tempo, o SC Braga perdia nos Açores, o FC Porto em Famalicão e o Benfica, escandalosamente (e com algum azar), via o Tondela ganhar-lhe na Luz por 1-0. Nada de novo na frente, salvo o Sporting ficar a um ponto do SC Braga. O FC Porto continuaria com mais um ponto do que o Benfica, lá longe.

Na jornada seguinte, que se jogaria de 20 a 22 de março, tinha a previsão de que o FC Porto escorregava no Dragão perante um Marítimo cheio de sorte. Os da casa saíam com uma derrota, dando uma infundada esperança ao Benfica que, inexplicavelmente a desperdiçava, perdendo em Portimão.  O SC Braga continuava na saga dos maus resultados, perdendo em casa com o Boavista e o Sporting despachava, já tipo Rúben Amorim, o Paços por 3-0. Na frente, continuavam FC Porto e Benfica separados pelo pontinho, mas o Sporting ascendia ao terceiro lugar, já com dois pontos a mais do que os arsenalistas.

A 4 e 5 de abril, mais uma jornada em cheio: o FC Porto ia empatar a Vila das Aves e o Benfica perdia em Vila do Conde. O Sporting vencia o Tondela e o SC Braga afundava-se em casa levando um golo sem resposta do Boavista. Na frente, o FC Porto aumentava mais um ponto sobre o Benfica e o Sporting continuava em terceiro, mas só a 10 pontos, quando faltavam apenas sete jornadas.

A jornada 28, que teria sido a 10 e 11 deste mês, dava, de novo, esperança ao Benfica que via o FC Porto perder em casa com o Boavista, embora não conseguisse melhor do que um empate com o Santa Clara. O SC Braga vencia o Guimarães no dérbi minhoto, e o Sporting era sempre a andar: 2-0 ao falso Belenenses, no Estádio Nacional. O Porto voltava a estar com o Benfica a um ponto, mas o Sporting já ia apenas a sete.

Benfica põe fim à crise?

ESTE último fim de semana o Benfica parecia ter acabado a crise, vencendo o Marítimo, na Madeira, embora por escasso 1-0. Já o FC Porto não conseguia melhor do que um empate em Paços de Ferreira, o que permitia aos encarnados voltar a liderar a Liga com 63 pontos, contra 62 do FC Porto. O Sporting, que despachara o Gil por 3-0 é que já estava com 57 pontos. Mas eram seis para recuperar em cinco jogos. O Braga empatou.

Finalmente, nesta jornada atípica (a 30.ª), que começava na terça e acabaria hoje, o Sporting derrotava o Moreirense, lá no Minho, por 3-1 e o SC Braga, também antes de ontem, vencia o Aves por 1-0. Ontem, o FC Porto empatava com o Belenenses 0-0 em casa e o Benfica também, mas por 1-1 com o Boavista. Os da Luz continuavam à frente da Liga com mais um ponto do que o FC Porto. Mas o Sporting só estava a quatro, quando faltavam outras tantas jornadas.
No dia 25 de abril, sábado, o Sporting dá 4-0 ao Santa Clara colocando pressão sobre Benfica e FC Porto. De forma inacreditável o Benfica perde em Famalicão por 2-1 e o FC Porto em Tondela por 1-0. O Benfica, com 64 pontos, mantém-se à frente, mas só com um ponto de avanço sobre o FC Porto e o Sporting, que partilham o segundo lugar.

Final emocionante

SÁBADO , dia 2 de maio, o Sporting vai ganhar ao Dragão por 2-1. Sporar fez um belo jogo, com um golo e uma assistência para Vietto. Só que o Benfica não consegue melhor do que um empate frente ao Guimarães. E assim, o Sporting passa para a frente com 66 pontos, seguido pelo Benfica a um e o FC Porto a três. Mas falta o Benfica-Sporting da última jornada.

Na jornada 33, ninguém brinca em serviço. Ganham todos. O Sporting ao V. Setúbal, o Benfica nas Aves, o Porto ao Moreirense e o SC Braga ao Tondela. Na última, a 34.ª Jornada tudo se decide. Se o Sporting vencer ou empatar na Luz é campeão. Se o Benfica ganhar é campeão. E o Porto com hipóteses de chegar a segundo, passando o Benfica, tem de ir a Braga.

E chega o dia 17 de maio. Na Luz, o Benfica abre o marcador, mas aos 91 minutos Plata empata e dá o campeonato ao Sporting. Um minuto depois, em Braga, o Porto faz o 0-1 e consegue o segundo lugar com os mesmos pontos do que o Benfica.

Esqueci-me de dizer que todos estes resultados tinham sido limpinhos, como diria Jorge Jesus, sem contestações da arbitragem. Ainda teria havido quem questionasse o golo que deu o campeonato ao Sporting, mas Gonzalo Plata estava claramente em jogo. Varandas apareceu a dizer que, finalmente, se revelava Rúben Amorim como a melhor contratação deste século, bem como o preço modesto que custara em função dos resultados.

Luís Filipe Vieira, a braços com o que ainda se pode vir a saber com a colaboração de Rui Pinto, decide não se recandidatar a presidente, e o mesmo faz Pinto da Costa. O presidente do Sporting, num gesto magnânimo, convoca eleições para 8 de setembro, dois anos exatos depois de ter sido eleito. Os adeptos de Bruno de Carvalho decidem criar um clube com o nome do líder e nada ficará como dantes, avisam os comentadores.

E vamos à curva

TODO este exercício é impossível. Fartei-me de achatar a curva das probabilidades para o resultado ser a meu gosto, como terão compreendido. Não tomando muito partido, deixei o FC Porto e o Benfica empatados. Tendo os portistas ganho os dois jogos entre ambos, alcançariam o segundo lugar.

E que tem este exercício a ver com a realidade? Tudo! A reabertura da economia, o regresso do futebol, saber se todos os jogos serão num estádio ou em vários, com máscara, sem máscara, com as bancadas a um quinto da lotação ou vazias, depende dos modelos que utilizemos. O que aqui utilizei é, também um modelo. Muito menos credível do que aqueles que usam a OMS, a UE, os governos, a FIFA, a UEFA, a FPF e a Liga. Mas um modelo, que não significa a realidade.
Por isso, em coerência com o que escrevi desde que o campeonato foi suspenso, a 8 de março, insisto na ideia de que tudo o que possamos agora prever é efémero e pode ser mentira. É muito possível que haja outra vaga da pandemia, como é possível que a vacina que toda a comunidade científica busca seja encontrada em breve. É possível que o Benfica ganhe o campeonato, ou que seja o FC Porto a fazê-lo. Ou nenhum, caso não existam mais jogos. Para terminar com uma piada, quem dissesse que desde o fim de fevereiro até hoje o Sporting não mais perderia um ponto, ao passo que Benfica e FC Porto perderiam dois por cada jogo que fizessem, seria tomado por louco. Mas foi o que aconteceu. Do final de fevereiro até hoje apenas houve uma jornada: o Sporting venceu 2-0 o Aves; FC Porto e Benfica empataram ambos a uma bola; o FC Porto em casa, com o Rio Ave, e o Benfica em Setúbal.

Assim são os números. Não estraguem os sonhos a quem assistia a um campeonato pavoroso do seu clube!