A liderança tranquila
Roger Schmidt ganhou primeiro sobretudo o coração e a mente dos seus atletas
Otítulo desta coluna é inspirado no livro de Carlo Ancelotti Quiet Leadership - Winning Hearts, Minds and Matches, porém o tema surgiu-me pela forma como Roger Schmidt chegou e nos conquistou a todos, apesar das muitas - lembro-me bem! - dúvidas iniciais. Não sabemos como o alemão é nos treinos, mas vemos os jogos e raramente perde a compostura, passando precisamente a ideia que quer passar: tudo vai acabar por correr bem.
Antes dos adeptos, dirigentes e jornalistas, Schmidt ganhou os corações e as mentes dos seus atletas. Olha-se para o relvado e o único que não parece verdadeiramente feliz, traído pela própria fisionomia e pela ainda deficiente condição física, é Neres. Todos os outros divertem-se (com responsabilidade) e se falham muitos golos temos de perceber que no dia em que esse futebol barroco se extinguir ficarão mais longe de vencer. O treinador não precisa gritar, irritar-se, agitar os braços, pontapear garrafas ou vingar-se no banco para que façam o que quer, simplesmente porque acreditam no que estão a fazer, são parte integrante do projeto. Essa é a lição de liderança que todos deviam extrair. Outros perfis, mais agressivos, tiveram igualmente sucesso, contudo parecem andar sempre de mãos dadas com a possível rotura. É mais fácil chegar a bom porto com todos felizes.
P.S. Confesso que Chiquinho raramente me convenceu antes. Hoje, parece-me indiscutível que, face às circunstâncias - saída de Enzo, maior capacidade na circulação do que o mais simplista (embora excelente) Aursnes, a forma espantosa de Florentino como unidade de maior contenção e o crescimento brutal de João Mário desde que se aproximou da baliza adversária - que não há ninguém melhor para iniciar a primeira fase de construção. Mérito de Schmidt que, no meio do ruído, soube liderar de forma tranquila a transformação.