A festa do futebol
Nas bancadas espera-se que se conserve o desportivismo no que será o último jogo da época
COM o jogo da Taça de Portugal encerra-se a temporada. No estádio do Jamor, por tradição ancestral e hábito, cria-se um ambiente diferente, específico, que habitualmente se torna uma festa a não perder. Desta vez o FC Porto, além da conquista do título de campeão nacional, apurou-se, juntamente com o Tondela, para esse momento, em clima que se aguarda de confraternização e luta pela vitória de um troféu com significado especial. Este jogo é sempre diferente, único e as emoções constroem ambiente especial. Desejamos que seja data marcante para todos os intervenientes e ao Tondela, com a natural tristeza da descido de divisão nos últimos minutos do campeonato, votos de que regresse rápido!
Na tribuna de honra, certamente, estarão, entre outras, as habituais personalidades do país e do futebol. Nas bancadas espera-se que se conserve o desportivismo no que será o último jogo da época. Que a festa seja um marco inesquecível para quem participar e também para quem assistir. A imagem final da época, que desejamos seja muito positiva e pacificadora, deverá permitir reforçar a convivência desportiva, com ética e sem provocações que empobrecem quem as faz.
No estádio do Jamor, por tradição ancestral e hábito, cria-se um ambiente diferente
O DRAMA DAS DESCIDAS
DEPOIS de esforço meritório, de investimentos exigentes, os clubes que ocupam os dois últimos lugares da tabela classificativa descem de divisão. Para o terceiro a apurar há ainda uma réstia de esperança no play-off entre o terceiro classificado da Liga 2 e o antepenúltimo da Liga. Seria útil realizar uma análise cuidada para identificar eventuais influências das arbitragens e razões para as perdas de pontos, contribuindo para o conhecimento e a pacificação do jogo. É urgente observar e analisar as decisões de quem ocupa cargos políticos relevantes acumulando, simultaneamente, funções nos órgãos da FPF, para detetar sintomas de fragilidade da liderança, pois só dessa forma se pode decidir célere e com eficácia.
Por outro lado, é desprestigiante a troca de acusações públicas, fazendo do clubismo um fator de divisão em vez de união e respeito. Só dessa forma se conseguem superar as intolerâncias, os conflitos, as provocações e os insultos, vindos de personalidades que ocupam posições de destaque nos seus clubes. A responsabilidade das funções tem de obrigar a conviver com respeito mútuo. Quem ferir essa premissa tem de ser sancionado. A transparência, o clima de serenidade, mesmo divergente, são obrigação de quem integra o futebol.
Como se pode esperar que os adeptos confiem na seriedade e justiça das decisões se, muitas vezes, quem coloca as guerras entre clubes são aqueles que têm de dar o exemplo?! Somem o valor das multas que os clubes pagam por atitudes inaceitáveis de adeptos e ficarão admirados com os milhões desperdiçados. A justiça nunca pode ser cargo em part time, porquanto só com exclusividade se pode encurtar prazos e criar clima de confiança e sabedoria. A maior proximidade de alguns presidentes de clubes com as tutelas deve ser alargada a todos os presidentes, porque, mesmo com condições e orçamentos maiores, ninguém pode ter mais facilidades do que os outros. Essa designação de clubes grandes, médios e pequenos é uma falácia, porque todos entram em campo para obter o mesmo resultado: a vitória. O tempo desperdiçado não volta mais. Evitar erros e confrontações pública, é dar passos atrás, porquanto temos de manter a sustentabilidade. O futebol tem de evoluir no sentido da responsabilização e do crescimento, para poder servir de modelo. Defender as nossas cores não implica guerrear os outros, mas antes pensar como avançar e vencer.
O clima de violência, que alguns países têm procurado manter mais controlado, é um atentado ao jogo e aos clubes, porque afasta muita gente dos estádios, caso não se consiga tornar o jogo uma manifestação emocionante mas pacífica. Ser exemplar é cumprir as regras e não se limitar a apontar o dedo aos outros. Tudo começa em cada clube e pelo mérito dos dirigentes. Participar na nossa liga principal exige um enorme esforço financeiro, bem como uma gestão eficaz e clara, sem correr riscos que podem criar situações impossíveis de solucionar: gastar o que se pode, poupar o possível, ter margem para investir sem criar problemas. Pretendemos que a pirâmide do futebol se mantenha equilibrada, pacífica, em diálogo construtivo. O nosso sistema desportivo carece de solução consistente, com futuro equilibrado e ajustado. Desde a atual lei de formação de treinadores, aos ingressos em cursos por convite, há hábitos e procedimentos personalizados, quando o sistema e a organização rigorosa deveriam ter princípios específicos, para se poderem manter com justiça e equilíbrio. Fatos à medida, nunca!
As nossas competições (assim como as regras do jogo e as interpretações) mudam sistematicamente mas têm de estabilizar: um jogo sem suspeições, disputado sem perdas de tempo, num ritmo vivo, sem pisões nem simulações. Os árbitros devem passar pelo jogo sem serem notados, porque a qualidade do futebol tem de depender dos jogadores, das estratégias dos treinadores e nada mais a não ser a imprevisibilidade natural. O futebol como negócio tornou-se inevitável, por isso as contabilidades e investimentos têm de ser sujeitos a graves penalizações para quem não cumprir as regras. O fair play financeiro, por vezes, dá ideia de um conto de fadas… Se é um negócio e de muitos milhões, então o controlo das verbas tem de ser eficaz e sem sugestões estranhas, nem momentos aflitivos. O futebol é muito mais do que um negócio, é uma ligação dos tempos e uma valorização da memória. É também um espetáculo de emoções, de talento e de momentos de genialidade, que se tornam imortais…
Voltando à questão das descidas de divisão, momento sempre terrível e custoso, há vários países que distribuem as verbas por esses clubes de forma muito equilibrada, sem grandes diferenças e, inclusivamente, criam planos de três anos para os clubes que descem de divisão não caírem a pique, mas para se poderem equilibrar e continuar a lutar por um lugar na principal competição. Por cá, quem desce fica à sua sorte ou azar. Esse é um aspeto que, em Portugal, ainda não foi encarado como urgência, porque apenas se funciona para o imediato e nunca para construir bases sólidas e solidárias. É preciso pensar o futebol, não só no presente e nos cargos que podem conseguir, mas essencialmente na falta de capacidade de análise do jogo com equilíbrio e desenvolvimento, com responsabilidade mais exigente para dirigentes.
As descidas de divisão não podem ser encaradas como uma ida ao inferno mas antes um tempo para estruturar com eficiência, definir projeto com futuro, apoio forte aos escalões de formação, às instalações e uma matriz ajustada pela qual vale a pena o sacrifício. Claro que isso pressupõe planos com verbas a dividir por várias épocas para que nunca se perca a identidade e o clube não mantenha apenas o nome, a fachada, porque tudo o resto pode ser frágil e aventureirismo financeiro.
Aos clubes que vão cair na Liga 2 (ou nos outros campeonatos), os desejos de rápido regresso, com forte ligação ao meio e preparados para superar os erros que não conseguiram ultrapassar. Pode ser útil pensar em escolher jogadores específicos para uma equipa e não um conjunto de jogadores, onde cada um tem objetivos diversos. Quando o clube consegue mobilizar a região, a paixão alimenta o clubismo e o apoio é uma forma de união que perdura e que pode dar bons resultados. Os tempos são controversos, a guerra instalou-se no planeta, as injustiças e sofrimento merecem maior atenção e apoio. Assim, comecemos pela nossa região, pelo apoio ao movimento associativo próximo, dando o contributo possível para mantermos essa mais-valia do clubismo e do desportivismo. Aos treinadores de jovens, fica a mensagem para se informarem com a qualidade e profundidade que permita entender as fases de desenvolvimento psicológico dos ou das jovens que escolheram o futebol como desporto favorito. Às famílias, nunca esquecer de apoiar e não de exigir, deixando crescer naturalmente, evoluindo no jogo e criando espírito de equipa.
REMATE FINAL
Após o último jogo da liga, os naturais festejos partiram do estádio do Dragão até à Câmara Municipal do Porto e Avenida dos Aliados. Além das manifestações de alegria, o clube atingiu novo recorde nacional: 91 pontos em 102 possíveis, em 34 jornadas, e 33 jogadores campeões (todo o plantel), incluindo os três que foram transferidos durante época.
Sérgio Conceição afirmou que «seria injusto, depois de um ano em que toda a gente trabalhou da mesma forma, que um jogador não fosse campeão». É essa coerência que faz do Olival e da atitude da equipa perante cada jogo, um grande vencedor.
Rio Ave e Casa Pia subiram ao escalão principal e Chaves e Moreirense jogarão o play-off que garante disputar a Liga.