A (dura) realidade do Benfica
Rui Costa, presidente do Benfica, no anúncio oficial de Bruno Lage como treinador dos encarnados (Foto: MIGUEL NUNES)

A (dura) realidade do Benfica

Mercado de Valores é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo jogador

Analisando o caso em questão (acusação do Ministério Publico), parece-me que a defesa dos interesses do clube deve seguir dois caminhos distintos. O primeiro, e mais óbvio, é a defesa às acusações que lhe são imputadas na via judicial. Já o segundo caminho deverá passar por defender de uma forma intransigente os interesses do clube. Na base deste processo estão várias questões, entre as quais fraude fiscal (acusação feita a LFV). De uma forma simples, o Ministério Público alega que houve saída de dinheiro da SAD do Benfica sem justificação ou sem um propósito lícito aparente. Este não é um facto novo, uma vez que, há uns tempos, foi noticiado um caso de alegadas faturas falsas, numa situação muito similar.

A questão que devemos colocar é: sabendo que houve saída de recursos sem justificação aparente, qual deve ser a atitude da administração perante tais suspeitas? A primeira, deveria ser analisar toda a situação, chegar a uma conclusão e apresentar os factos aos seus acionistas/associados. A segunda, se se confirmar que houve saída simulada de recursos, será averiguar quem foi o responsável por esses movimentos e apresentar uma queixa às autoridades competentes de forma a punir os responsáveis e defender a marca Benfica.

Apesar de, aparentemente, ter a sua assinatura em alguns dos documentos que estão a ser alvo de analise e incluídos no processo em curso, a realidade é que Rui Costa não foi considerado arguido, como tal, aparentemente, não deve ter nada a temer relativamente ao apuramento dos factos e à defesa dos interesses do clube/SAD que lidera. Por fim, não posso deixar de mencionar que a resposta do Benfica a todo este caso podia ser muito mais ágil, rápida e credível, se a auditoria forense, que demorou três anos a realizar, tivesse sido concretizada de uma forma mais abrangente e não apenas a alguns processos, alegadamente, escolhidos a dedo!

Passado 'vs' presente

Este é apenas mais um caso entre tantos outros que têm surgido. A ideia que todos temos da organização Benfica não é positiva, pelo contrário. Se dúvidas houvesse, nos últimos tempos, todos percebemos a forma como o Benfica tem vindo a ser gerido. As decisões eram centralizadas no presidente (LFV) que, aparentemente, fazia o que queria. As vitórias ou os resultados positivos suportavam toda esta forma de atuar. Complementarmente, foi criada uma máquina comunicacional para distrair os mais desatentos ou para criar a retórica de que todos estes casos são uma perseguição generalizada ao clube.

Na realidade, estes processos ou desconfianças que têm vindo a lume, não são mais do que o reflexo da forma como o clube tem sido gerido. Se no passado estas caraterísticas estavam muito vincadas, e aos olhos de todos, no presente o cenário não se alterou. Rui Costa teve a hipótese de cortar com o passado e de evitar uma herança pesada. Se o tivesse feito, se tivesse cortado com o passado e dado outro rumo e dinâmica ao clube, hoje, estes processos não teriam o impacto que estão a ter, simplesmente porque a imagem do Benfica no mercado seria diferente. Ao contrário de André Villas-Boas que cortou com o passado, alterando por completo os quadros dirigentes do FC Porto, Rui Costa preferiu não o fazer, continuando agarrado ao passado e a uma equipa de pessoas com quem partilhou as direções anteriores, estando agora a assumir o risco e as consequências de tal decisão.

A marca Benfica

O futebol hoje é uma indústria e quem não perceber isto ficará para trás. Os resultados desportivos serão sempre muito importantes, mas cada vez mais se dá valor à forma como as organizações se posicionam, aos valores que passam e à imagem que têm no mercado.

O ESG (Environment, Social e Governance) é um dos temas do momento na União Europeia. Analisando apenas o Governance, as novas exigências da União Europeia nesta matéria focam-se na sustentabilidade financeira, nas boas práticas, na transparência, na confiabilidade, na conduta empresarial, na prevenção à ocorrência da corrupção e suborno e nas atividades de lobby, entre outras matérias que permitem criar métricas de avaliação de empresas.

Em função de todos estes indicadores, irão ser criados ratings empresariais que permitirão comparar práticas e definir as empresas mais confiáveis dentro dos seus sectores de atividade. Aquelas que não se conseguirem adaptar às novas exigências ou que não se conseguirem adaptar às boas práticas irão ficar para trás, porque irão ter maiores dificuldades em atrair investidores ou parceiros de qualidade, que ajudem a credibilizar e valorizar a sua marca.

No caso do Benfica, todos percebemos que estes constantes casos judiciais contaminam a marca Benfica e ferem o orgulho dos seus adeptos. Como é que se inverte este caminho? Inverte-se não só com as diretrizes da União Europeia, mas também com a exigência dos associados que têm de perceber que as boas práticas na gestão geram transparência, credibilidade, sustentabilidade, equilíbrio e permitirão tornar os clubes / SADs mais fortes e preparados para a obtenção do sucesso desportivo.

A valorizar

A forma como Luis Enrique, atual treinador do PSG, falou da sua filha, que já não está entre nós, é um exemplo de vida. O desporto precisa desta humanidade.

A desvalorizar

Com esta nova acusação cai por terra a esperança de Luís Filipe Vieira se poder voltar a candidatar à presidência do Benfica.

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