A conspiração Vini
Vinícius Júnior, internacional brasileiro do Real Madrid (Imago)

A conspiração Vini

OPINIÃO02.11.202409:00

'JAM sessions' é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil

Vini Jr é um jogador espetacular, o melhor da atualidade, ou, pelo menos, o melhor de 2024, dribla, encanta, surpreende, cria e faz golos como ninguém ao serviço do crónico campeão europeu.

E os prémios devem consagrar, sobretudo, esses talentos, craques, génios e não os que apenas pensam e ditam o jogo como Rodri, caso contrário, Xavi e Iniesta, Modric e Kroos é que deveriam ter empilhado troféus, em vez de Messi e CR7.

Além disso, o racismo, chamem-lhe estrutural ou inconsciente, que Vini Jr corajosamente combate, existe.

Entretanto, é cansativo lidar com as teorias da conspiração em série da opinião pública brasileira que acha que os europeus, uma massa de 750 milhões de pessoas de umas 50 nações diferentes, muitas delas odiando-se entre si, não têm mais nada do que fazer além de se reunirem todas, muito apertadinhas, numa sala qualquer de comando a tramarem o país tropical abençoado por Deus.

Os mesmos europeus que premiaram naquele e noutros prémios parecidos Romário, Ronaldo fenómeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Kaká ou Marta e elegeram Pelé, sob a presidência da FIFA do suíço Sepp Blatter, jogador do século.

Correu no país, ainda antes do fenómeno das fake news se ter imposto na política e na sociedade brasileiras, a teoria de que o Mundial de 1998, ganho justamente pela melhor seleção, a França, à segunda melhor, o Brasil, foi um complô que envolveu a citada FIFA, os governos, o Papa, criptologistas, cabalistas e extraterrestres.

E, em 2014, os célebres 7-1 do Mineirazo resultaram de um esquema de corrupção que, portanto, envolveu os jogadores brasileiros, os jogadores alemães, os treinadores brasileiros, os treinadores alemães, os árbitros, os juízes de linha, os delegados de jogo, os criptologistas, os cabalistas e os extraterrestres.

Segundo a experiência empírica do muito viajado Simon Kuper, colunista inglês, nascido no Uganda, do Financial Times, quanto menos habituado à democracia é o país onde se cresce — e o Brasil ainda só vai em 39 anos seguidos de regime democrático ininterrupto — mais os seus cidadãos acreditam que forças ocultas determinam as suas vidas.

Para ilustrar, Kuper diz que no Iraque a maioria da população ainda acreditava, nesta década, que Saddam Hussein estava vivo algures por aí. Não só está como deve ter votado no Rodri só de pirraça.