A centralização do mau produto

OPINIÃO26.07.202122:37

A competitividade quando nivelada por baixo serve para quê, mesmo?

O S portugueses gostam de confiar em medidas únicas, capazes de mudar o mundo de uma vez. Foi assim com o VAR, ainda muito longe de resolver a eterna verdade desportiva, e é provável que o seja também com a centralização dos direitos televisivos. É certo que ainda faltam sete longínquas épocas para os mais pequenos (sete escassas para os grandes), mas já está elevado à categoria de novo Graal do futebol indígena.
De pouco valerá dividir melhor o bolo se este continuar pequeno. Os pobres continuarão pobres e os menos pobres, bem, menos pobres, infelizmente cada vez mais longe das Big-5. É necessário melhorar o produto, torná-lo mais valioso e apetecível e, consequentemente, mais rentável. A competitividade nivelada por baixo serve para quê, mesmo?
Portugal enfrenta vários desafios. O paradigma é conhecido: é um país formador e vendedor. É essa a sua riqueza e tem de ser por aí o caminho. Só novos Figos e Ronaldos despertarão interesse além-fronteiras, da mesma forma que França e Holanda nos dizem que estamos perante os craques de amanhã. Os jovens podem ainda reaproximar clubes e região, ao tornarem-se referências e é por isso que a centralização deveria fazer-se acompanhar de academias e regras para abrir espaço nas primeiras equipas. A formação de cada vez melhores técnicos e dirigentes sustentaria o processo.
Só que ainda não chega. É fundamental credibilizar, com uma justiça célere, a penalização dura do ruído e uma maior transparência do VAR. Melhorar o ambiente do jogo para o público, voltar a torná-lo familiar. Uma Liga forte e clubes com maior poder económico atrairão melhores jogadores. Depois, sim, dividam por igual.
É que até na Távola Redonda já tinham chegado à conclusão: o Graal não existe. É uma ideia, um modo de vida.