6.º sentido!

OPINIÃO11.03.202205:30

Rúben Amorim deve, pelo menos, admitir que já cansa ouvi-lo falar de ‘crescimento’

COM todo o respeito por Rui Patrício, campeão da Europa em 2016, e sem dúvida um dos melhores guarda-redes da Europa na última década, julgo que se defrontaram esta semana no dragão os dois melhores guarda-redes portugueses da atualidade. Diogo Costa, o jovem de 22 anos que chegou em agosto do ano passado a titular do FC Porto, e Anthony Lopes, mais experiente, que aos 31 anos cumpre a nona época como titular dos franceses do Lyon. O que não é pouco!

Os dois mostraram na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, quarta-feira, no Porto, a tremenda qualidade que têm - Anthony Lopes, que provavelmente já justificava a oportunidade de ser o titular da Seleção Nacional, e Diogo Costa, que o próprio Lopes reconheceu ser o futuro dono da baliza da equipa portuguesa.
Fala-se muito de Vitinha, e bem, fala-se muito de Fábio Vieira, e bem, mas nesta altura parece que já toda a gente se esqueceu que Diogo Costa conseguiu, ainda com 21 anos (tem agora 22), alcançar uma das posições mais difíceis no futebol, a titularidade como guarda-redes de uma equipa grande e de uma grande equipa como é a do FC Porto.

Quando ouço dizer, repetidamente, que Odysseas Vlachodimos é, ou tem sido, uma das grandes figuras do Benfica, lembro-me logo de o comparar ao jovem Diogo Costa. E se Vlachodimos é, como por aí dizem alguns especialistas, um grande guarda-redes, então Diogo Costa já é um dos melhores do mundo!
Mas não façam como eu, porém; não comparem, porque não se compara o que não tem comparação. Vlachodimos é, quando muito, um bom guarda-redes; mas Diogo Costa já é um grande guarda-redes. E todas as grandes equipas precisam de um grande guarda-redes, pelo que, na minha modesta opinião, Vlachodimos não é o grande guarda-redes que o Benfica precisa. Não o é hoje, e dificilmente o será amanhã. Com todo o respeito pelo profissionalismo do atleta grego-germânico da Luz, no andebol Vlachodimos seria fantástico; mas o futebol exige mais, muito mais do que aquilo que Vlachodimos dá de bom à equipa do Benfica. Bem mais!

Diogo Costa mostra grandes qualidades no jogo pelo ar, pelo chão, na baliza e fora da baliza, tem vindo até a melhorar muito o jogo com os pés, coisa que Vlachodimos, por exemplo, parece já não conseguir. Vlachodimos é bom naquelas defesas verdadeiramente à andebol, a fazer as manchas - beneficiando muitas vezes, se analisarmos com frieza e suficiente distanciamento, de os remates ou serem à queima-roupa, ou praticamente à figura do n.º 1 da Luz; pelo ar, não segura uma bola, e nem sequer é forte nos cruzamentos; é fraco com os pés, e pouco ágil a sair da baliza para tirar profundidade aos adversários, e raramente defende uma daquelas bolas verdadeiramente impossíveis que fazem dos guarda-redes realmente… grandes guarda-redes!
Diogo Costa, se virem bem, é em tudo isso, muito melhor do que Vlachodimos. Consegue ser tão bom e até tão elegante na baliza que atirou para o banco de suplentes um grande guarda-redes como é o argentino Marchesín. Já é Diogo Costa, a meu ver, um grande guarda-redes, mas tem tudo para vir a ser um dos melhores da Europa na sua geração.
Anthony Lopes, bem, com toda a admiração que tenho pela carreira e pelo trabalho de Rui Patrício,  Anthony Lopes é, a meu ver, simplesmente o melhor guarda-redes português. E já não é de hoje!

POR muito que queiramos elogiar o comportamento da equipa do Sporting no jogo, agora, em Manchester, é impossível ignorar o contexto de uma eliminatória que era favorável aos campeões ingleses por 5-0! O que vale, pois, a análise à exibição de uma equipa que está em desvantagem por cinco golos? Valerá, seguramente, pouco, porque, à partida, a circunstância do jogo não poderá deixar de estar fortemente condicionada por isso.

O Sporting jogou bem? Sim, jogou benzinho, melhor na segunda parte (mais atrevido) do que na primeira, e melhor quando passou a ter Marcus Edwards, num jogo que podia ter perdido, mas que podia, também, ter ganho, assim Paulinho tivesse feito, apenas, o que lhe competia, na melhor oportunidade de golo de todo o jogo. Mas, mais uma vez, não fez!

E o City? Bom, o City queria ganhar, evidentemente que queria ganhar, porque todas as equipas querem sempre ganhar, mas sabia que não precisaria de fazer tudo para ganhar, nem precisaria de jogar com todas as principais estrelas para ganhar, nem de jogar ao mais alto nível para ganhar, porque a eliminatória já estava mais do que ganha. Ou não estava?!

Para a coleção de cromos de Rúben Amorim, mais uma estreia, de outro miúdo, desta vez Rodrigo Ribeiro, de 16 anos (faz 17 em abril), um avançado que tem vindo a jogar na equipa B leonina, e teve direito, pela primeira vez, a meia dúzia de minutos na primeira equipa, e logo na Liga dos Campeões. Confesso que não percebo que sentido têm estes relâmpagos de Amorim, e volta a fazer-me lembrar a incompreensível utilização de Dário Essugo, outro miúdo, que apareceu na primeira equipa oito ou nove minutos em toda a época passada (com o V. Guimarães, 1-0 em Alvalade, em abril de 2021) e voltámos a ver apenas no campo do Ajax mais seis minutos já esta época (em dezembro último), para se tornar então o mais jovem estreante na Champions, ou seja, um total de 15 minutos em mais de 50 jogos entretanto jogados pelos leões - 11, ainda da época passada, mais os 40 e tal entretanto já feitos esta época. Não me digam que faz sentido.

Passei, entretanto, a questionar, confesso, onde pararia Dário Essugo, a quem, no fundo, sucedia um bocadinho o mesmo que sucedia a Nazinho, a Catamo, a Gonçalo Esteves, e o que, pelo andar da carruagem, passa a suceder com Rodrigo Ribeiro. Mas eis que o jovem médio Essugo aparece a titular da equipa leonina, no último jogo da Liga, com o Arouca, e até fui eu agora, o surpreendido. Jogou apenas a 1.ª parte, sim, mas jogou bem, e creio que saiu apenas porque tinha visto (injustamente, por sinal) um cartão amarelo e, pela inexperiência, ficaria mais vulnerável a eventual expulsão.

A surpresa, porém, não apaga o essencial, e uma menos compreensível política de estreias de jovens na equipa principal levada a cabo por Amorim, como se fossem, com o devido respeito, uma espécie de troféus de caça do treinador leonino, que tem tudo (e até, já, títulos!!!) para vir a ser um grandíssimo e marcante treinador de futebol, mas deve, pelo menos, admitir que já cansa um bocadinho ouvi-lo falar de crescimento, seja dos jogadores (alguns deles bem amadurecidos...), seja dele próprio, só porque tem 37 anos.
Sven-Goran Eriksson chegou ao Benfica com 34 anos e não passou a vida a falar disso. Lembro-me que falava muito, sim, de mentalidade para se ganhar. E era mais jovem do que Amorim!

TIRANDO o Liverpool, naturalmente, que no final de setembro do ano passado ali venceu por 5-1, o Lyon foi a equipa que melhor futebol jogou no Estádio do Dragão esta época. E quem, porventura, estaria à espera de um adversário muito acessível ao forte FC Porto de Sérgio Conceição, acabou surpreendido. O Lyon tem um treinador muito experiente (com o Ajax, Peter Bosz perdeu uma Liga Europa para o United de Mourinho), tem muito bons jogadores, é uma equipa com boa organização e boa ideia de jogo, não é, afinal, tão frágil a defender como poderia supor-se (ou como Sérgio Conceição pareceu crer dar a ideia...), e foi, aliás, a defender bem que conseguiu ser melhor do que o FC Porto e chegar com importante vantagem, ainda que escassa, ao final da primeira parte desta eliminatória.

Haverá quem julgue que a Liga francesa é uma Liga menor do ponto de vista competitivo. Não é. Pode ser menor, e é, na capacidade financeira e, por isso, menor em número de estrelas espalhadas pelas principais equipas. É o que lhe falta, dinheiro e mais estrelas espalhadas pelas principais equipas para que pudesse ser mais mediática, e não tanta estrela concentrada  num clube sem paixão como é o PSG, onde navegam, sem química e sem grande ligação emocional, génios como Messi, Mbappé ou Neymar.
Falta à Liga francesa, sim, mais peso também na tradição, mais história europeia, mais títulos, mais impacto junto dos adeptos em todo o mundo. Mas não lhe falta competitividade. Nem qualidade. E o Lyon voltou a confirmá-lo.

Esta eliminatória não está, obviamente, fechada, e o FC Porto tem mais do que capacidade para ir a França e vencer, também, batendo-se, no mínimo, de igual para igual com este Lyon, que não é, sublinho, pera-doce, e tem no brasileiro Lucas Paquetá, como se viu, um autêntico chefe de orquestra.
O FC Porto pareceu-me mais cansado mentalmente do que fisicamente. E pareceu-me ter pagado cara a saída forçada de Pepe ao intervalo. E pareceu-me, exceção feita a Vitinha (melhor portista, depois de Diogo Costa), que nunca conseguiu ligar suficientemente o jogo ou tomar boas decisões na zona de finalização. Não se pode dizer que tenha jogado mal, mas não foi o FC Porto que esperávamos. Nem pode ser sempre, essa é que é a verdade!