Educar pelo desporto (artigo de Vítor Rosa, 134)

Espaço Universidade Educar pelo desporto (artigo de Vítor Rosa, 134)

ESPAÇO UNIVERSIDADE11.11.202017:56

A educação legitima-se pela transmissão de saberes e funda-se em valores. Pela sua diversidade, fazer um inventário parece-nos muito difícil. Tomando como referência a classificação do filósofo francês Oliver Reboul (Les valeurs de l’éducation, Paris, 1992), três categorias de valores emergem:

1) aqueles que se consideram como sendo os objetivos da educação, designadamente os valores para os quais ela prepara e que variam segundo as sociedades e as culturas. Neste sentido, uns privilegiam a integração no meio social, outros a autonomia individual, o espírito crítico e o sentido de responsabilidade;

2) os valores indispensáveis na organização de uma educação. Se a obediência, o respeito pelos mais velhos ou o espírito de disciplina foram durante muito tempo privilegiados, atualmente a atenção vai para a iniciativa, a criatividade ou a livre cooperação;

3) privilegia-se nesta terceira categoria os valores que servem de critério de julgamento. Para uns, é preciso privilegiar ainda mais a capacidade de iniciativa, o desenrascanço ou o espírito de equipa, enquanto que para outros é preciso aumentar a capacidade de reprodução de conhecimentos, o respeito pela troca de informações ou atingir um determinado nível de performance.
 

Os valores associados ao desporto, quando ele é organizado num quadro educativo, são diversos. Eles promovem um sentido, definindo as condições de exercício e de reconhecimento social. O fato de se educar não implica naturalmente valorizar certos valores, mas releva de uma escolha em função das missões atribuídas pela educação desportiva. Se é certo que o desporto se inscreve numa perspetiva educativa, as diferenças, ou as fortes divergências, podem caraterizar os fins da prática desportiva, em função dos estatutos dos intervenientes, dos modos de prática (profissional/amador, associativo/livre, etc.). Mas o “efeito camaleão” não está muito longe e não ajuda a promover a clareza. Todas as tendências podem se reagrupar em torno do campo desportivo sem que se partilhem os mesmos valores. De qualquer forma, ele é considerado como uma atividade benéfica, é utilizado para lutar contra as indelicadezas, participa na formação para a cidadania ou serve para integrar os jovens com maiores dificuldades, que são, em geral, os mais interessados por uma prática desportiva ou pelos seus espetáculos.

Os projetos de educação pelo desporto apresentam uma grande diversidade de formatos de ação, dependem das finalidades procuradas e dos constrangimentos sociais e organizacionais.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa