Ténis Será que Djokovic vai comer relva em Wimbledon pela oitava vez?
Cabe ao campeão inaugurar, esta segunda-feira, a viçosa relva do court central de Wimbledon. Esta é uma tradição tão enraizada em Wimbledon como os equipamentos brancos exigidos aos jogadores no terceiro Grand Slam da temporada. Novak Djokovic, todavia, tem uma com a sua assinatura: comer um pedaço de relva a cada título. O sérvio número dois mundial fê-lo, pela primeira vez, em 2011, aquando da primeira conquista na catedral da relva. Outras seis se seguiram e já fez saber que está disposto repetir o gesto herbívoro pela oitava vez no próximo dia 16 de julho.
Semanas depois de se ter tornado no único tenista masculino com 23 títulos do Grand Slam, ganhando em Roland Garros, e de umas férias com a mulher Jelena nas belas paisagens dos Açores, Djokovic chegou ao All England Club com mais um recorde em mente: os oito títulos do já retirado Roger Federer.
«Continuo faminto de sucesso, de mais Grand Slams, mais conquistas no ténis. Enquanto sentir esta vontade, sei que vou conseguir jogar ao mais alto nível. Se tal não acontecer, terei de enfrentar outras circunstâncias e perspetivas as coisas de outra forma. Mas, para já, a vontade ainda continua presente», declarou o sérvio de 36 anos que não perde no court central desde 2013, quando Andy Murray o bateu na final, deixando de ser visto como mais um D. Sebastião do ténis britânico e pôs termo à espera de 77 anos por um campeão caseiro em Wimbledon, sucedendo ao lendário Fred Perry, campeão a década de 1930.
Não considerando o abandono nos quartos de final em 2017 entre as derrotas, apenas contabilizadas com um match point, Murray é efetivamente o único no ativo a ter ganho ao sérvio. Algo que o argentino Pedro Cachín, 68.º mundial, não é teórico favorito a fazê-lo na estreia de Djokovic no court mais emblemático do mundo.
«Durante muitos anos, senti dificuldades para conseguir elevar o meu ténis nos courts de relva porque para mim é mais natural deslizar e a relva não é condescendente para quem gosta de deslizar muito. Tive de aprender como mover-me, jogar e como ler o ressalto de bola. É das superfícies mais únicas que temos no ténis, ao contrário de há 40, 50 ou 60 anos em que três dos quatro Grand Slam eram jogados na relva. Na última década da minha carreira, adaptei-me e penso que os resultados são o testemunho disso», articulou o segundo cabeça de série, seguro de ter mais «concentração e devoção» à modalidade para continuar a fazer história.
Djokovic tem noção que essa voracidade de título tem em Carlos Alcaraz o seu pior adversário. O espanhol de 20 anos, que chegou a Wimbledon como número um mundial e do torneio, está na ponta oposta do quadro na qual começa a jogar com o experiente francês Jeremy Chardy. O sérvio e o maiorquino mediram forças nas meias-finais parisienses, numa final antecipada e concluída em total anti-clímax com o mais jovem dos protagonistas a ceder a batalha às cãibras sem dar, por isso, a resposta esperada. Perdeu a partida, mas não o respeito do adversário.
«O Carlos é um tipo muito bom que vai fazendo o seu percurso de forma muito madura para os seus 20 anos. Já tem inúmeras conquistas com o seu nome, está a fazer história muito novo. Penso que é fantástico para a modalidade, pois traz intensidade, energia no court e, ao mesmo tempo, é muito humilde e mostra grande personalidade fora dos courts», elogia Djokovic, reconhecendo não precisar deste ou daquele adversário para se motivar. «A minha atenção está no meu corpo e na minha mente, no meu jogo, tentar trazê-lo a um estado otimizado que me permita jogar no meu melhor nível a cada partida», exultou o sérvio vencedor das últimas quatro edições consecutivas.
Campeão no Queens Club, num dos ATP mais elitistas do circuito, Alcaraz chega ao All England Club para jogar pela terceira vez com cinco troféus no currículo de 2023. Foi travado por Jannik Sinner na quarta ronda em 2022, mas é em Djokovic que o pupilo de Juan Carlos Ferrero tem em mente, até porque o reencontro com o sérvio só poderá acontecer na final.
«Sinto-me muito bem, com boa energia, quero muito jogar o meu primeiro encontro aqui em Wimbledon. Do encontro de Roland Garros com o Novak fica a pressão que ele imprime em toda a gente, obriga-nos a ter de jogar ao nosso melhor nível durante as três horas de uma partida de Grand Slam. Terei de lidar com isso e quero muito jogar com ele uma final aqui. Não será fácil chegar lá», admitiu Alcaraz na sala de conferência de Imprensa magna, na qual apareceu de chapéu branco na cabeça e os olhos a brilhar.
O estatuto de melhor do mundo de pouco vale, segundo o maiorquino que cresceu a idolatrar o outro herói do ténis daquela ilha balear: Rafael Nadal. «Não sinto pressão por ser o número um, sei o que tenho de fazer. Tenho de jogar o meu melhor ténis e ganhar torneio. Não quero essa pressão de pensar que sou o número um. Comecei a jogar no Queens Club com grande expetativa. Sei que posso fazer bons resultados, posso pressionar outros jogadores, mas o grande oponente é o Djokovic, não faz nada mal», referiu o espanhol campeão do US Open. Num quadro de 128 jogadores, muito pode acontecer e não faltam jovens promessas a querer surpreender numa altura em que as grandes rivalidades se esbateram com a reforma de Federer e as lesões de Nadal.
Aos 21 anos, Jannik Sinner é número oito mundial e venceu sete das dez finais disputadas. O italiano, recorde-se, ganhou os dois primeiros sets a Djokovic nos quartos de final de 2022, antes do campeão ligar o rolo compressor. O dinamarquês Holger Rune, outro dos miúdos maravilha, chegou às meias-finais em Queens e o norte-americano Frances Tiafoe conquistou o primeiro troféu na relva em Estugarda. Não faltam rostos a querer fazer história. Resta saber se alguém vai conseguir degustar a relva como Djokovic nos últimos anos…