Os temas do coração estão muito mais vezes ligados aos casos de doping do que se possa imaginar. O sexo e os ciúmes são justificações frequentes e, convenhamos, das mais imaginativas…
A história da francesa Ophélie Claude-Boxberger, por exemplo, é digna de uma novela de cordel. A atleta testou positivo para EPO e acusou um elemento da sua equipa de lhe ter injetado a mesma, enquanto dormia, por vingança. Ophélie tinha despedido o treinador por alegadamente abusar dela e este acabou por envolver- se… com a sua mãe. Com o aval da ‘sogra’ regressou à equipa, mas de acordo com a atleta apenas para se vingar do que tinha acontecido no passado.
Infidelidade foi a desculpa do ciclista dinamarquês Michael Rasmussen para as três falhas de localização que lhe valeram a acusação de doping e a perda do Tour 2007. Rasmussen explicou que se encontrava em Itália, quando disse que estaria no México, por «questões pessoais» nomeadamente um caso extra-conjugal. Mais tarde acabou por reconhecer que estava dopado há vários anos.
No caso da canoísta Laurence Vincent-Lapointe a culpa também foi do sexo. Quando testou positivo para uma substância proibida, a canadiana disse que tinha sido infetada pelo seu parceiro. Devido a uma análise ao cabelo do namorado, descobriram que este tinha consumido um produto com ligrandol e um especialista validou que a pequena quantidade encontrada na amostra da canadiana podia ter origem numa transmissão de fluidos corporais e a atleta foi absolvida.
Ora foram também os fluídos a tramar o tenista Richard Gasquet, em Miami, em 2009. Na verdade a saliva, já que o francês explicou que foi um beijo apaixonado a Pamela, só sabia dizer o nome da rapariga com quem tinha estado na festa, o responsável pelo positivo para cocaína que acusou. O atleta alegou que a cocaína tinha entrado no seu organismo depois de ter beijado uma mulher que teria consumido a mesma e a sua pena inicial de 12 meses foi reduzida para dois.
O mundo do ténis foi abalado recentemente por pelos casos de doping de Sinner e Iga Swiatek, mas a batota é quase a mais velha profissão do Mundo no desporto. As causas e as razões são verdadeiros exercícios de criatividade. E agora foi a vez de Mykhailo Mudryk, extremo do Chelsea, ter sido apanhado num teste antidoping positivo...
Já o sprinter Dennis Mitchell justificou os seus elevados níveis de testosterona com muito sexo! Muito. A Federação dos Estados Unidos aceitou a desculpa e absolveu-o, mas a IAAF puniu-o com dois anos e o norte-americano apareceria num dos maiores escândalos de doping, o caso Balco.
Já o monegasco Donell Cooper, mais conhecido por 'DJ Cooper', foi suspenso pela Federação Internacional de Basquetebol (FIBA), por adulterar um teste de controlo antidoping ao qual foi submetido. Donnell entregou uma amostra de urina que detetou uma hormona produzida pela placenta, que deteta o estado de gravidez numa mulher.
Uma ideia pouco original, diga-se, se comparada com a criatividade de Michell Polletier.
O ciclista belga foi apanhado, em 1978, com um complexo sistema de tubos que que ia da axila até o pénis, debaixo do qual tinha uma lâmpada pneumática com urina limpa. Uma verdadeiro prof. Pardal nesta ciência.
Provavelmente inspirado nesta habilidade tecnológica, o italiano Devis Licciardi, que tentou enganar o controlo antidoping com um pénis postiço, escondido nas cuecas. Depois de uma prova de 10km, Devis foi chamado ao controlo e pediu para ficar sozinho, o que levantou de imediato suspeitas. O italiano explicou que comprou o pénis na internet mas que o tubo cheio de urina limpa não era para fazer batata. «O pénis falso é meu, não posso negar, mas não foi para esconder doping. Tive uns problemas pessoais, mas não sou louco. Não quero revelar publicamente qual foi o verdadeiro motivo que me levou a fazer isto», disse ao corredor ao jornal Gazzetta dello Sport.
O pénis foi também uma dor de cabeça para LaShawn Merrit. O campeão olímpico dos 400m em Pequim-2008 testou positivo para DHEA e foi suspenso 21 meses apesar de ter explicado que comprou um produto de venda livre para aumentar o tamanho do pénis. «Nenhuma pena que receba pela minha ação pode eclipsar a vergonha e a humilhação que sinto», disse o atleta, que acabou por ver a suspenção reduzida para defender o título mundial em Daegu 2011.
Sem recursos a pénis artificiais seguramente, a tenista búlgara Karantantcheva testou positivo para nandronlona e alegou que seu corpo o produziu naturalmente porque estava grávida, sem que, no entanto, soubesse e que a gravidez não teria chegado a termo devido a um aborto espontâneo.
Já depois de ganhar a medalha de ouro na maratona nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Jemima Sumgong acusou EPO e foi suspensa oito anos. Para se defender a queniana disse que tinha tido uma gravidez ectópica e por isso teria feito uma transfusão sanguínea e levado uma injeção de EPO. Os investigadores descobriram que a maratonista não tinha sido internada sequer nas datas apresentadas.
A gravidez também foi um problema para o ciclista Tyler Hamilton e o seu irmão gémeo que nunca nasceu… A defesa do ciclista explicou que as células estranhas encontradas no seu sangue seriam de um irmão gémeo, que morreu no útero, e que por isso teria células-tronco, não dele mas do irmão, a produzir glóbulos vermelhos sutilmente diferentes. Foi suspenso oito anos, acabou a carreira e tornar-se ia fundamental a revelar, mais tarde, o escândalo de Lance Armstrong.
Ao mesmo nível, só Daniel Plaza, o marchador espanhol, campeão olímpico em Barcelona 1992, que explicou que o seu controlo positivo a nandrolona se devia a cunilingus. A substância teria entrado no seu organismo por causa do sexo oral que tinha feito com a mulher que estava grávida e que produzia nandrolona.