24 janeiro 2024, 16:10
Portugal está no pré-olímpico de andebol!
Triunfo da Islândia sobre a Áustria garante vaga à seleção
Paulo Jorge Pereira enaltece objetivo alcançado, em entrevista exclusiva
As primeiras palavras do selecionador com A BOLA são de desabafo. «Fizemos algo fantástico e até o homem do talho diz que foi uma desilusão!». «Cansadíssimo», mas orgulhoso pela «missão cumprida», o treinador elogia o grupo que liderou ao 7.º lugar e à segunda presença consecutiva no acesso aos Jogos Olímpicos.
Gosta que lhe chamem «maluco» por apontar a objetivos altos. Como se sente o maluco neste momento, agora que o torneio pré-olímpico foi alcançado?
— Estou extremamente cansado. Sou um maluco cansadíssimo a precisar mesmo de descansar. Mas com uma sensação incrível, daquelas em que se respira fundo e tudo de bom que fizemos vem à memória.
Imagino que tenham sido semanas duras de trabalho de grande intensidade.
— Foram semanas duríssimas. E tenho muito orgulho dos meus jogadores. Viveram-nas com um sentido de humor fantástico. É gente que gosta de música portuguesa, ouve-a no autocarro e até fizemos um videoclip com uma música do Jorge Palma. Estivemos um mês inteiro juntos e não houve um único desentendimento. Nem um problema durante este tempo.
24 janeiro 2024, 16:10
Triunfo da Islândia sobre a Áustria garante vaga à seleção
Fê-lo lembrar-se do grupo do Europeu de 2020?
— O Europeu 2020 foi incrível, em termos de dinâmica de grupo, mas acho que este ainda conseguiu ser melhor. Estamos mais fortes a encontrar soluções e todos se sentem mais importantes.
Em 2020 o jogo da Seleção Nacional dependia mais das dinâmicas da equipa do FC Porto, que era a base da seleção. Agora foi criada uma nova identidade quase de raiz. Acha que isso pesa?
— Pode ter a ver com isso. Mas vivemos cada momento de forma diferente do anterior. E temos quase sempre conseguido encontrar o nosso caminho. Nesta fase final, todos sentiram que tinham voz para se envolverem mais. E acho que não havia outra maneira. Temos um grupo de jovens e precisamos de fazer funcionar todas as sinergias para encontrar o rumo certo.
O tão ambicionado apuramento para o pré-olímpico dos Jogos de Paris-2024 indica que o foco foi o certo.
— É verdade. Atingimos o objetivo, que nunca foi outro do que chegar ao pré-olímpico. Em ano de Jogos Olímpicos, a abordagem tinha de ser diferente. Claro que fica o amargo de não termos ido à disputa do 5.º lugar, porque estávamos muito perto. Mas a missão foi cumprida, mais uma vez!
Acha que isso é o resultado de ter muita gente maluca a lutar por um objetivo?
— Quando dizem que somos malucos, é porque estamos no bom caminho. Basta ver que conseguimos dois ciclos olímpicos consecutivos. O que é fantástico! Acho que as pessoas não sabem o quão difícil é conseguir o apuramento para o pré-olímpico. E nós fizemo-lo duas vezes seguidas! Isso significa que temos de andar sempre no top-8 ou top-9 mundial. E agora vamos ter mais uma montanha difícil para escalar.
E já está a pensar nessa montanha?
— [suspira] Agora tenho mesmo de descansar uns dias, ou uma semana. Mas já estamos a pensar. Vamos aproveitar o plano deste Europeu e reforçá-lo. O pré-olímpico é uma competição muito difícil, na qual pode acontecer tudo. Mas também sabemos que estes atletas quando entram em alguma coisa entram para fazer algo especial.
Como sentiu o grupo no momento da despedida?
— Primeiro, eu fiz o que faço sempre: agradecer o que eles fizeram por Portugal. Pelo compromisso que tiveram. Não é por dinheiro que estes atletas vêm à Seleção, abdicando de férias para voltar logo a seguir aos clubes. Mas senti-os bem. Já nos habituámos a cair e levantar logo rapidamente. Estamos mais experientes a conviver com estas emoções e sabemos que não podemos ficar muito contentes, nem muito tristes. Porque vamos ter de reagir logo a seguir.
Mesmo um grupo tão jovem sabe isso?
— Sabe. A irreverência de miúdos com talento é fantástica. Eles têm tudo. A única coisa que podem melhorar é em termos emocionais. Para isso precisam de experiências e esta foi mais uma. Mas temos miúdos com muita qualidade que só podem melhorar.
Portugal sai de um Europeu no qual só perdeu dois jogos, um com a campeã do Mundo e outro frente à campeã da Europa.
— É verdade. Só perdemos esses dois jogos [Dinamarca, por 27-37, e Suécia, por 33-40]. Mas estamos para seguir. Temos de continuar a trabalhar.
O que foi mais difícil de gerir nestas semanas?
— Foi difícil gerir a recuperação dos atletas. É muito difícil quando há sobrecarga. Vamos ter de trabalhar nisso e arranjar formas de acelerar o processo de recuperação dos atletas. Para conseguir que a fadiga não se instale, ao ponto de chegarmos demasiado cansados ao último jogo. Mas também precisamos de soluções para podermos gerir o tempo de jogo que damos a cada um deles e aqui não havia essa possibilidade em algumas posições.
O Ricardo Brandão foi o único que não jogou.
— É verdade. Mas não podemos esquecer que em 2022 o Martim [Costa] também esteve no Europeu e não jogou. Isso faz parte do processo. Mesmo sem ir para dentro do campo, eles estão a jogar. Porque já se estão a preparar para esses momentos. Isso faz com que não se assustem. Ele estava ali para entrar, se fosse preciso. Felizmente, não houve problemas com os pivôs. Mas nunca nos esquecemos dele, nem do Gonçalo Vieira que só fez um jogo, e tivemos atenção para os manter fisicamente aptos para o caso de precisarmos de os utilizar.
Pronto, está tudo conversado. Estamos aptos para dispensá-lo então...
— Fantástico! Estou aqui no carro parado à porta de casa, quero ir tirar as malas e você não me deixa ir embora [risos]. Já posso ir descansar?