— Cá não havia concorrência?— Maria José: Havia o Leixões.— Maria Margarida: Depois de nós acabarmos, aparece o Leixões a vencer, creio, 11 vezes seguidas.— E essa equipa do Benfica desfez-se por questões pessoais?— Maria Madalena: Sim, a idade, o trabalho, a família. A equipa não se desfez, continuou, mas sem nós.Durou mais de 2 anos ou 3 e acabou.— Como é que essa equipa aguentou tanto tempo no topo, foi só talento, foi o treinador/jogador…?— Maria Madalena: Terá sido tudo isso e também o facto de sermos várias atletas da educação física, pode ter ajudado. Eu, por exemplo, fui para a educação física porque era Maria Rapaz, gostava de cabriolar e no liceu a educação física era vergonhosa, quer dizer, era incipiente. As pessoas iam para o INEF, porque faziam desporto federado, faziam ginástica em clubes— Maria José: Na equipa não tínhamos só educação física. Eu sou enfermeira, havia médicas e professoras.— Maria Madalena: E, claro, o espírito de equipa. O espírito de grupo é que era muito importante.— Maria Teresa: A questão das famílias era crucial, porque acompanhavam os treinos. No meu caso pessoal, o meu pai deslocou-se a Braga e à Póvoa e não era fácil. — Mas na altura nem todas as famílias gostavam de ver as filhas com tanta atividade— Maria Teresa: A minha não.— Maria José: A minha também não.— O desporto era associado ao masculino, sentiram esse estigma?— Maria Teresa: Sentimos, mas querer é poder. Tínhamos um grupo muito coerente, algum jeitinho e o querer era importante.— Maria Margarida: O grupo era coeso porque se se manteve o mesmo durante vários anos. Hoje isso não é possível. As jogadoras mudam do clube rapidamente. — Porque recebem ofertas melhores, que no vosso tempo não existiam?— Maria Margarida: Exatamente. E isso não favorece o espírito do grupo. Não é por acaso que nós vamos para o 55.º encontro de Marias. Essa amizade foi extraordinariamente importante para o grupo.— A culpa das Marias é sua, Madalena— Maria Teresa: Percebemos logo que estávamos num ambiente muito bom, de jogadoras, treinador e de dirigentes. Tínhamos um dirigente, o Carlos Brito, uma pessoa que soube promover a equipa. Não era só mérito nosso.— Maria José: Lutava por nós, dentro do Benfica. Era aguerrido a defender as suas Marias. — Essa equipa depois acabou por, naturalmente, ser a base da Seleção? — Maria Madalena: Que Seleção? A Seleção que existiu foi uma seleção para um torneio, para um encontro com o clube de Medina, de Madrid, que estava a preparar-se para os Jogos Olímpicos. E foi uma seleção feita ADOC. Oficiosa, não oficial. Foi a única vez que cinco Marias foram recrutadas.— Maria Margarida: Não fizemos nenhum treino antes de ir. — Maria Madalena: Juntámo-nos na Guarda, levámos 15 horas a chegar até Madrid. De autocarro. Chegámos lá, era a véspera do Dia de Reis. Era um hotel com uma barulheira do baile, nós em cima, no andar de cima, não dormimos nada. E ganhámos. [risos]. Na altura elas eram ainda mais fracas do que nós. Houve um jogo bem renhido, mas nós estávamos exaustas. — E as competições europeias?— Maria José: A primeira vez fomos jogar a um país de leste. Treinavam como se fossem profissionais. Todos os dias, não sei quantas horas por dia, a carrinha do clube ias buscá-las aos trabalhos. Sabíamos que ia ser um desastre, mas íamos com uma alegria desgraçada, espantosa, felizes da vida. Foi em Leipzig. E acabámos o jogo, perdemos 3-0, os sets todos, o máximo que fizemos foi três bolas. E viemos cá para fora para a neve, rebolar, felizes da vida. Era um orgulho estarmos ali pela primeira vez.