Conquistaram nove títulos de campeãs nacionais seguidos e quando se estrearam na Europa foi uma alegria com direito a brincar na neve. O resultado? Foi uma boa experiência!
— Cá não havia concorrência?
— Maria José: Havia o Leixões.
— Maria Margarida: Depois de nós acabarmos, aparece o Leixões a vencer, creio, 11 vezes seguidas.
— E essa equipa do Benfica desfez-se por questões pessoais?
— Maria Madalena: Sim, a idade, o trabalho, a família. A equipa não se desfez, continuou, mas sem nós.Durou mais de 2 anos ou 3 e acabou.
— Como é que essa equipa aguentou tanto tempo no topo, foi só talento, foi o treinador/jogador…?
— Maria Madalena: Terá sido tudo isso e também o facto de sermos várias atletas da educação física, pode ter ajudado. Eu, por exemplo, fui para a educação física porque era Maria Rapaz, gostava de cabriolar e no liceu a educação física era vergonhosa, quer dizer, era incipiente. As pessoas iam para o INEF, porque faziam desporto federado, faziam ginástica em clubes
— Maria José: Na equipa não tínhamos só educação física. Eu sou enfermeira, havia médicas e professoras.
— Maria Madalena: E, claro, o espírito de equipa. O espírito de grupo é que era muito importante.
— Maria Teresa: A questão das famílias era crucial, porque acompanhavam os treinos. No meu caso pessoal, o meu pai deslocou-se a Braga e à Póvoa e não era fácil.
O Leixões era o rival preferido e não só porque era o que dava mais luta, mas porque as intermináveis viagens até ao norte era autênticas aventuras, com direito a palavrões e apalpadelas
— Mas na altura nem todas as famílias gostavam de ver as filhas com tanta atividade
— Maria Teresa: A minha não.
— Maria José: A minha também não.
— O desporto era associado ao masculino, sentiram esse estigma?
— Maria Teresa: Sentimos, mas querer é poder. Tínhamos um grupo muito coerente, algum jeitinho e o querer era importante.
— Maria Margarida: O grupo era coeso porque se se manteve o mesmo durante vários anos. Hoje isso não é possível. As jogadoras mudam do clube rapidamente.
Orgulho em Leipzig...apesar da tareia!
A primeira vez fomos jogar a um país de leste foi especial.Sabíamos que ia ser um desastre, mas íamos com uma alegria desgraçada, espantosa, felizes da vida. Foi em Leipzig. E acabámos o jogo, perdemos 3-0, os sets todos, o máximo que fizemos foi três bolas. E viemos cá para fora para a neve, rebolar, felizes da vida. Era um orgulho estarmos ali pela primeira vez.
— Porque recebem ofertas melhores, que no vosso tempo não existiam?
— Maria Margarida: Exatamente. E isso não favorece o espírito do grupo. Não é por acaso que nós vamos para o 55.º encontro de Marias. Essa amizade foi extraordinariamente importante para o grupo.
— A culpa das Marias é sua, Madalena
— Maria Teresa: Percebemos logo que estávamos num ambiente muito bom, de jogadoras, treinador e de dirigentes. Tínhamos um dirigente, o Carlos Brito, uma pessoa que soube promover a equipa. Não era só mérito nosso.
— Maria José: Lutava por nós, dentro do Benfica. Era aguerrido a defender as suas Marias.
— Essa equipa depois acabou por, naturalmente, ser a base da Seleção?
— Maria Madalena: Que Seleção? A Seleção que existiu foi uma seleção para um torneio, para um encontro com o clube de Medina, de Madrid, que estava a preparar-se para os Jogos Olímpicos. E foi uma seleção feita ADOC. Oficiosa, não oficial. Foi a única vez que cinco Marias foram recrutadas.
— Maria Margarida: Não fizemos nenhum treino antes de ir.
— Maria Madalena: Juntámo-nos na Guarda, levámos 15 horas a chegar até Madrid. De autocarro. Chegámos lá, era a véspera do Dia de Reis. Era um hotel com uma barulheira do baile, nós em cima, no andar de cima, não dormimos nada. E ganhámos. [risos]. Na altura elas eram ainda mais fracas do que nós. Houve um jogo bem renhido, mas nós estávamos exaustas.
— E as competições europeias?
— Maria José: A primeira vez fomos jogar a um país de leste. Treinavam como se fossem profissionais. Todos os dias, não sei quantas horas por dia, a carrinha do clube ias buscá-las aos trabalhos. Sabíamos que ia ser um desastre, mas íamos com uma alegria desgraçada, espantosa, felizes da vida. Foi em Leipzig. E acabámos o jogo, perdemos 3-0, os sets todos, o máximo que fizemos foi três bolas. E viemos cá para fora para a neve, rebolar, felizes da vida. Era um orgulho estarmos ali pela primeira vez.