«A única medalha que me falta é a dos Jogos Olímpicos»
Diogo Ribeiro é o melhor do Mundo nos 50 e nos 100 metros mariposa mas o jovem nadador de 19 anos já sabe o que quer conquistar a seguir. E garante: não vai deixar de sonhar. Nunca!
— Queres muito ser campeão olímpico. Conseguir esse feito depende de...
— Vai depender do meu trabalho no futuro. Vai depender do meu descanso nessas três semanas na minha cabeça. Se consigo chegar antes dos Jogos Olímpicos com boa saúde mental. Se conseguir chegar aí é porque descansei bem a cabeça agora, porque o atleta não se trata só quando se está a treinar e durante a época a fazer as provas. Trata-se na vida pessoal também. E tens de estar bem, tens de descansar porque há momentos para descansar e há momentos para competir. Este foi um momento para competir e saiu-me bem porque consegui descansar no verão. E no Natal estive com a minha família. Estava contente com esta prova e é isso que as pessoas também têm de perceber. A vida pessoal também pesa muito na vida de um atleta. Eu estava bem e correu bem. Agora é descansar outra vez, aproveitar o meu tempo para continuar a trabalhar e a melhorar no que tenho a melhorar. Trabalhar depois os aspetos e detalhes da partida, o que correu mesmo mal. Olhar para a prova em vídeo e repetir no treino, mas melhor.
— Falaste agora de saúde mental. Estás atento aos sinais? Conheces-te bem também mentalmente?
— Sim, conheço, porque quando vim para Lisboa também não foi fácil. Também tive muitos problemas a nível de saúde mental. Estava sempre a pedir para ir para casa da mamã, até durante a semana. Por isso é uma coisa que acho que temos de ter sempre em atenção. Não podemos agora pensar que só porque lidei bem com a pressão nesta prova, e porque estou a conquistar medalhas num Campeonato do Mundo e a ser campeão do Mundo, que não posso ser afetado pela falta de saúde mental no futuro. Acho que é bastante importante termos descoberto que era um fator importante para os atletas.
— Depois de duas medalhas de ouro num Campeonato do Mundo, onde é que ainda podes chegar?
— O sonho é a medalha olímpica. Já tive medalhas em todos os campeonatos. Eu vou ser mesmo direto: a única medalha que me falta neste momento é nos Jogos Olímpicos. Não estou aqui a prometer nada porque sei que vou ficar dependente de muita coisa... Nem me quero limitar... Quero só prometer que vou trabalhar para isso e que vou tentar melhorar no que não fui bom, tanto como pessoa como atleta.
— Já viste o vídeo da prova?
— Já, várias vezes.
— A 10 metros do final, não estavas nem sequer num lugar do pódio.
— E é aí que as pessoas falham. Não se trata de 40 metros numa prova, trata-se de 50. E é o acertar a chegada, bater mesmo em cima da parede, não é deslizar ou mais uma braçada.
— Tiveste essa noção durante a prova ou só quiseste nadar até ao fim?
— Nos 50 metros é difícil ter essa noção, mas ali aos 35 metros costumo olhar sempre um bocadinho debaixo de água pelo canto do olho, mas sabia que estava atrás. Pensei seja o que Deus quiser e vou tentar chegar numa chegada perfeita mesmo em cima da parede. E foi o que fiz. Tanto nos 50 como nos 100 metros. Mas, nos 100, consigo ver as cabeças ao meu lado, porque respiro e é uma braçada com mais calma. Sabia que tinha um rapaz muito perigoso nos 100 metros numa pista da ponta, que é um rapaz que passa muito rápido, mas que chega aos últimos 15 metros da prova e começa ali a comer braçadas e parece que começa a patinar.
— Foi o que ficou em quarto.
— Ficou em quarto, nem ao pódio foi, mas estava em primeiro. Eu não estava no pódio, mas nós antes destas competições importantes temos provas de preparação precisamente com esses atletas para saber no que é que eles são fortes e para saber no que é que eles podem ganhar nas provas importantes. Eu nas provas de preparação não tinha ganho. As provas de preparação servem exatamente para perceber no que é que os outros vão estar fortes na prova importante. Cheguei à prova importante e sabia no que é que os outros eram fortes, sabia que tinha de passar rápido, e passei em segundo, e sabia que se estivesse lado a lado com eles nos últimos 15 metros eu ia ganhar essa parte. Sabia que tinha de chegar bem pois andei a treinar bastante as chegadas.
— Quando estás sozinho na tua vida e te deitas com a cabeça na almofada, o orgulho é maior ou é o sonho de ainda ser melhor?
— O sonho de ainda ser melhor. Quem me conhece sabe que eu não quero parar independentemente do que atinja. Já fui campeão do Mundo júnior, já fui vice-campeão do Mundo absoluto, já fui agora campeão do Mundo. Agora quero mais que isso. Quero continuar a lutar pelos meus sonhos.