«2023 é uma nova era do râguebi português»
Carlos Amado da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Râguebi, acredita em voos mais altos da modalidade

«2023 é uma nova era do râguebi português»

RÂGUEBI09.10.202323:51

Carlos Amado da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Râguebi, feliz pelo feito de anteontem; diz que vitória abriu várias portas e acredita no apuramento direto para 2027

«As Fiji... vencemos as Fiji». As palavras pausadas de Carlos Amado da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR) no dia seguinte à histórica vitória (24-23) de Portugal num Campeonato do Mundo pareciam saídas, sofregamente, dos instantes finais da partida realizada domingo à noite, em Toulouse, duelo número 40 (Grupo C) da fase de grupos, um encontro que assinalou o encerramento desta primeira fase.

Ao oitavo jogo, na segunda participação num Mundial de râguebi, os lobos transformaram, por fim, o sonho numa nova realidade: o primeiro triunfo de sempre na competição. «Quando partimos para França falei numa ou duas vitórias. Tivemos uma e meia e podia ter sido duas e meia», confessou Amado da Silva em conversa telefónica com a A BOLA a partir de Perpignan, França, localidade que serviu de quartel-general da seleção nacional no Campeonato do Mundo França 2023.

«Há hoje uma grande responsabilidade e só prova se tivermos um trabalho profissional como tivemos nos três meses de preparação, podemos bater-nos contra qualquer equipa retirando as grandes potências que estão no top-5. Os resultados estão à vista», exclamou Amado da Silva.

«Não se pode ignorar mais. É uma nova era, não vou falar de 2007, 2015 ou 2019, quando começamos com o Patrice [Lagisquet]. 2023 é uma nova era no râguebi nacional», assumiu o líder federativo.

«Adoro estes jogadores, nunca os esquecerei»

9 outubro 2023, 23:48

«Adoro estes jogadores, nunca os esquecerei»

Lobos sobem a um histórico 13.º lugar do ‘ranking’ após primeira vitória (24-23 às Fiji) num Mundial; Patrice Lagisquet, o selecionador, despede-se e abre uma nova era no râguebi nacional

A página que Portugal escreveu nos quatro jogos no Mundial de râguebi — um empate com a Geórgia (18-18), a vitória frente às Fiji e as exibições diante País de Gales e Austrália, nações do Tier 1 (a 1.ª divisão das nações de râguebi) — não passaram despercebidas ao mundo da bola oval, ganhou destaque na imprensa internacional e despertou a atenção das seleções e organizadores de competições. «Você não imagina, todos os países estão a convidar a seleção portuguesa para jogar na janela de novembro. Abrimos uma porta...», informou.

Uma porta está igualmente entreaberta para o próximo Campeonato do Mundo a ter lugar na Austrália, em 2027, uma das nações residentes nas fases finais que, pela primeira vez na história ficou de fora dos quartos de final de uma fase final de um Mundial.

Enquanto se aguarda as decisões da World Rugby sobre o modelo, acesso e o número de seleções (em equação está a possibilidade da presença de mais uma equipa europeia) no Austrália 2027 (por norma há 12 nações cativas, divididas pelas seleções que estão nos quartos de final e os quatro terceiros lugares da edição anterior, vindo as restantes de apuramentos regionais), o presidente da Federação Portuguesa de Râguebi revela um dos possíveis caminhos. «Ser apurado diretamente está em cima da mesa. Entre várias equipas, está Portugal», uma equação que se pode justificar pelo facto de a Austrália ser um país organizador e pelo possível alargamento a 24 nações. «Mudou radicalmente a ideia e é consensual que Portugal tem de estar no campeonato do mundo», sublinhou.

Recuando para 2023, a evolução da prestação dos lobos mudou o estado de espírito de Amado da Silva ao longo das quatro semanas de competição. «Antes, estava muito orgulhoso, mas triste, porque os resultados não correspondiam ao que se tinha passado. Agora estou muito orgulhoso e muito contente», expressou. «Demonstrámos o espírito de que podemos ganhar. Temos uma qualidade de jogo única, condição física e não se pode dizer outra coisa se não que tenho de estar orgulhoso e satisfeito», reforçou.

E a partir de agora? «Manter não será fácil, mas não se pode recuar de maneira nenhuma, de maneira nenhuma», realçou. «Temos de profissionalizar [a Seleção] não há dúvida nenhuma», rematou. Dá um exemplo e pega nos Lusitanos, equipa franchisada da FPR que compete na Super Rugby, competição europeia sob a égide da Rugby Europe e que reúne equipas de Espanha, Geórgia, Roménia, Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Israel. «Têm de ser profissionais ou semiprofissionais. Não implica deixar o emprego, implica treinar com profissionais e não a treinar a partir das 20 horas, mas a horas decentes, terem o nosso apoio e serem remunerados», adiantou, exemplificando com os Black Lions (Geórgia), Pumas (Argentina), e o trabalho atualmente desenvolvido pela seleção do Uruguai ou Chile.

«Temos de ter consciência que manter exige mais dinheiro e mais apoios. O Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, secretários de Estado, ministra-adjunta estiveram connosco. O Presidente da República ainda ontem me ligou. O seu jornal fez a primeira página ontem [anteontem]. O râguebi está a mostrar-se», regozijou-se.