Volta a Itália arranca este sábado: «Pogacar é uma besta,  mas pode ser batido»

Volta a Itália arranca este sábado: «Pogacar é uma besta, mas pode ser batido»

CICLISMO04.05.202408:15

Esloveno é súper favorito à vitória no Giro, mas rivais rejeitam derrotismo. Edição com apenas um português, Rui Oliveira, trabalhador na UAE

O líder do ranking mundial da União Ciclista Internacional, Tadej Pogacar, é de longe o principal candidato à vitória na 107.ª edição da Volta a Itália, que começa este sábado na Venaria Reale, em Turim, para 3400 quilómetros repartidos por 21 etapas até ao próximo dia 26. O esloveno decidiu estrear-se na corsa rosa, acumulando-a com a Volta a França na mesma temporada, com o objetivo de ser o primeiro corredor a conquistar o Giro e o Tour no mesmo ano desde Marco Pantani em 1998.

A estrela da equipa UAE Emirates, em que alinhará o único corredor português nesta edição da corrida italiana, Rui Oliveira, dominou, de forma esmagadora, três das quatro competições em que participou em 2024. Entrou na (sua) temporada com triunfo categórico na Strade Bianche, isolando-se a 80 quilómetros da meta, foi terceiro na Milão-Sanremo, dominou a primeira e única prova por etapas, Volta à Catalunha, somando-lhe quatro vitórias em sete etapas, e voltou a impor-se com toda a autoridade no monumento Liège-Bastogne-Liège, com um ataque irresistível a mais de 30 quilómetros da chegada.

Sem o seu principal adversário, e carrasco, nos últimos dois anos no Tour, Jonas Vingegaard, que prescindiu mais uma vez do Giro para se concentrar no objetivo de conquistar a terceira Grande Bloucle consecutiva – mas, entretanto, vítima de queda grave na Volta ao País Basco, permanecendo em dúvida para a corrida francesa -, favoritismo de Pogacar é indiscutível. No entanto, os seus poucos oponentes assumidos rejeitam entrar em prova já derrotados.

Um deles é o galês Geraint Thomas, segundo classificado na edição de 2023 e superado na penúltima etapa, um contrarrelógio em montanha, por Primoz Roglic. Na equipa do veterano de 37 anos, Ineos Grenadiers, um dos diretores desportivos crê que o talento e a experiência do líder da formação, aliados ao coletivismo e à estratégia, poderão vencer Tadej Pogacar e a sua aparentemente menos forte UAE Emirates.

«É claro que Pogacar pode ser derrotado. Já aconteceu. Creio que esta é uma corrida que ele pode perder», afirmou o britânico Steve Cummings. «Pogacar é uma besta em cima da bicicleta, é muito difícil vencê-lo. Temos de ser realistas, sabemos que Pogacar é o favorito em todas as corridas, mas pode ser uma questão de consistência, de colocá-lo sob pressão e à sua equipa. Se ele fizer tudo corretamente, é difícil de imaginar alguém a vencê-lo, mas é ciclismo, tudo pode acontecer», argumentou Cummings, antigo corredor.

Apesar da besta Pogacar, Geraint Thomas chega ao Giro com ambições de vitória, depois de ter cumprido uma preparação semelhante à da temporada passada. Tal como na aproximação ao Giro de 2023, o galês esteve tranquilamente discreto nas voltas à Catalunha e aos Alpes, deixando as mesmas indicações de há um ano, em que esteve dez dias de rosa. «A minha preparação correu como previsto, sinto-me bem. Temos uma equipa sólida e há um bom vínculo com este grupo. O núcleo é o mesmo do Giro do ano passado, com algumas adições interessantes», começou por afirmar Thomas. «Obviamente, Pogacar é o favorito, mas isso também significa que todos os olhos estarão voltados para ele durante três longas e difíceis semanas de corrida. O nosso plano será ser agressivo, procurar todas as oportunidades para pressionar e saber aproveitá-las», refere o vencedor do Tour em 2018.

A tática de Romain Bardet

Quando foi questionado sobre quais os adversários seriam os mais fortes na corrida à maglia rosa, Tadej Pogacar elegeu, além de Geraint Thomas, Romain Bardet. O francês está de regresso à Volta a Itália após 2022, em que foi forçado a desistir devido a doença quando ocupava a quarta posição da classificação geral, e assume o protagonismo que lhe é reconhecido pelo super favorito esloveno. «Se concordo com o que disse Tadej [Pogacar]? Já será muito difícil lutar contra ele… Espero poder dar o meu melhor, principalmente na terceira semana. Se não perder muito tempo antes, talvez possa fazer algo de bom, mas Pogacar está realmente um passo à frente dos demais, por isso prefiro não me focar muito nele», diz o líder da equipa neerlandesa dsm-firmenich PostNL, que aos 33 anos iniciará o segundo Giro, com a sétima posição como a melhor classificação, na sua estreia na prova em 2021. Apresentando-se em boa forma, demonstrada na recente Liège-Bastogne-Liège com o segundo lugar atrás de Pogacar, Romain Bardet é cauteloso, preferindo guardar o jogo. «Quero jogar as minhas cartadas de uma forma um pouco diferente. Sei que será difícil vencer o Pogacar de um a um. Não estou 100% focado na classificação geral, quero fazer a corrida dia após dia. Posso alcançar uma boa classificação correndo de uma forma menos convencional, como fez Thibaut Pinot [5.º em 2023]. Quero abordar cada etapa como se fosse uma clássica [corrida de um só dia] e veremos aonde essa abordagem levará», concluiu o segundo classificado no Tour de 2016.

Pogacar refuta triunfalismos e pede que respeitem os seus adversários: «Rejeito vitórias antecipadas»

 Quando Tadej Pogacar anunciou, no início do ano, a primeira participação na Volta a Itália, alinhando-a na mesma temporada com a Volta a França, que tem sido a única grande corrida por etapas desde o seu segundo ano de profissionalismo (iniciou-se em 2019 com a Volta a Espanha), desde logo não se vislumbraram adversários capazes de impedi-lo de juntar o Giro aos dois Tour (2020 e 21) ao riquíssimo palmarés.

Sem Jonas Vingegaard, Primoz Roglic ou Remco Evenepoel, todos a apostar no Tour, o vencedor de sete monumentos e de onze etapas na Grande Bloucle e de três na Vuelta vai descobrir os caminhos da corsa rosa, mas as temíveis montanhas dos Dolomitas só favorecem, tal como bastantes quilómetros de contrarrelógio ou até mesmo a etapa na Toscana com os seus característicos troços em terra batida que fazem parte da Strade Bianche, competição que já venceu duas vezes, uma das quais esta época, atacando a 80 quilómetros da meta.

«Reduzir os candidatos à vitória a mim? Não aceito, porque é um desrespeito com os outros corredores. Todos trabalharam muito e querem vencer, e é possível», afirmou Pogacar em antevisão. O esloveno esforça-se por desviar as atenções do indiscutível favoritismo. «Há muitos bons corredores neste Giro, muitos jovens chegam em boa forma e querem mostrar ou confirmar o seu valor. Além desses, creio que [Romain] Bardet tem exibido muito boa forma nas recentes corridas e o [Geraint] Thomas vai querer provar que ainda está forte e creio que fez uma boa preparação até aqui chegar e certamente não dececionará nas montanhas e nos contrarrelógios: Veremos depois das duas primeiras etapas onde estará quem. Em três semanas podemos ter muitas surpresas», declarou o corredor de 25 anos da UAE Emirates.

«Cada vez que começo uma corrida, as pessoas dizem que sou o favorito, estou habituado, aprendi a conviver com isso e estou preparado para lidar com essa pressão. Mas incomoda-me dizerem, em antecipação, que vencerei este Giro, porque, repito, é desrespeitoso com os outros corredores. Rejeito-o!», desabafou o esloveno, que relativizou ainda a possibilidade de conquistar a camisola rosa logo na primeira etapa, com início e final em Turim e cujo percurso adapta-se às suas capacidades de corredor explosivo. «Não é um grande objetivo, o importante é ter a camisola rosa após a chegada à Roma, no último dia. Não precisamos de tê-la desde o primeiro dia, veremos como evolui a prova. Quando houver oportunidade vestir a camisola, não a rejeitaremos, mas temos de correr com inteligência neste Giro», conclui Pogacar.

«A boa responsabilidade» de Rui Oliveira

Rui Oliveira vai iniciar o Giro 2024 com a «boa responsabilidade» de ser o único corredor português em prova e de ter como principal tarefa a de ajudar o companheiro de equipa na UAE Emirates, Juan Sebastián Molano, a lutar por vitórias, ao sprint, em chegadas em que o pelotão chegue massivo à meta. Além deste serviço, o corredor, de 27 anos, terá outro, não menos importante: apoiar o líder da formação árabe, Tadej Pogacar, a conquistar a sua primeira Volta a Itália.

 «É sempre uma responsabilidade estar numa equipa como a UAE [Emirates], ainda para mais vindo para uma grande volta, em que a principal missão é ajudar o Tadej [Pogacar]. Mas, obviamente, venho principalmente com o papel de tentar levar o [Juan Sebastián] Molano às vitórias no sprint. Para mim, é uma boa responsabilidade, não sinto pressão, porque já trabalhei muito com ele, tenho vindo a trabalhar, e isso dá-me bastante confiança», começou por afirmar Rui Oliveira à Lusa.

«Trabalhei muito desde a minha queda, quiçá como nunca trabalhei, para chegar em grande forma a este Giro. Vindo da Colômbia, nestes primeiros dias, estou-me a sentir mesmo muito bem em cima da bicicleta. Prevejo coisas boas, mas só a estrada e os quilómetros dirão o que se pode passar», assume o gaiense, que não compete desde 24 de fevereiro, após a fratura do antebraço (rádio) causada por queda na clássica belga Omloop Het Nieuwsblad.

Rui Oliveira iniciará a quinta grande volta da sua carreira, a segunda participação na de Itália, após a estreia em 2022 – além três presenças na Volta a Espanha, em 2020, 2021 e 2023 -, e terá como principal tarefa, nas chegadas em pelotão, ser o lançador do velocista colombiano Juan Sebastián Molano, com quem treinou, recentemente, quase três semanas na Colômbia. «Foi importante, porque conseguimos trabalhar aspetos técnicos, de sprint e de lançamentos, que só estando juntos é que se conseguem afinar, e estamos mesmo muito confiantes para o que aí vem. Acho que vai ser um bom Giro para nós», disse o corredor, ressalvando, contudo, que esta edição da prova italiana tem «o mais forte lote de sprinters dos últimos anos em grandes voltas».

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