Volta a Portugal Um timoneiro feliz pelo pupilo mas a manter a Guarda elevada
Sorriso franco, alívio, alegria incontida: após a aposta falhada da véspera, na etapa que terminou na Torre (serra da Estrela), o diretor desportivo da GlassDrive-Q8-Anicolor, Rúben Pereira, que trazia à Volta-2023 o vencedor de 2022, o uruguaio Maurício Moreira, mas também o segundo classificado da pretérita edição da prova, Frederico Figueiredo, como mais sérios candidatos apontados ao triunfo, recuperou a ‘camisola amarela’ a Delio Fernández (AP Hotels-Tavira-Farense) com o segundo lugar do russo Artem Nych na 6.ª etapa, que terminou na Guarda esta terça-feira.
«Mudança de estratégia? Não, isto é ciclismo, e voltou a acontecer. Se me perguntarem se era bom ganhar um português era bom, diria que era. Mas para mim, o mais importante é que ganhe a GlassDrive. Tenho na equipa coisas que poucos têm: qualidade e talento. Tendo-o, podemos esperar tudo destes corredores. Nada está ganho, mas também nada está perdido», afirmou um Rúben ainda a normalizar as batidas cardíacas aos jornalistas, após o final da sexta das dez etapas da prova, na Guarda, validando que, com Nych a dar cartas, o russo passa a ser opção e aposta primeira da equipa de Águeda para o triunfo na geral individual, após a chegada à cidade beirã situada a 1000 metros de altitude.
«Se o Artem [Nych] é neste momento o líder da equipa [e a aposta para vencer a Volta, depois de Maurício Moreira e Frederico Figueiredo]? É neste momento o camisola amarela, e a corrida irá fazer-se. O Artem está a provar que é um ciclista que pode ganhar a Volta. Qualquer pessoa que tenha estado atenta ao calendário nacional teria de colocar o Artem no ‘top 5’ dos candidatos a vencerem a Volta. E mesmo antes de vir para Portugal, é ver no palmarés internacional dele que se ganhar a Volta não é um feito por aí e além mediante esse palmarés que já tem», recordou o diretor desportivo da GlassDrive-Q8-Anicolor após a etapa que ligou Penamacor à cidade dos ‘cinco F’s’: farta, forte, fria, fiel e formosa, eis a Guarda.
«O calor tem sido uma dificuldade para ele [Artem], não está propriamente habituado. Mas leva seis anos de ciclismo profissional no ‘top’, esteve na equipa Gazprom. Não está ao mais alto nível, derivado dos problemas que o país dele teve [guerra na Ucrânia] mas é um ciclista de enorme qualidade. Como toda a equipa», foi o elogio do ‘técnico’ às suas tropas.
«Viram o grande trabalho do Maurício [Moreira] neste dia? E do Luís Mendonça, do Rafael Reis, do Frederico Figueiredo, do James Whelan, do Fábio Costa? Acima de tudo, uma equipa é isto: ganhar, só ganha um; vestir a ‘amarela’ só veste um, mas o trabalho mais difícil é conseguir uni-los e por a máquina a trabalhar. Esta etapa foi a prova de que no ciclismo não se depende só de um corredor, antes de uma equipa», afirmou Rúben Pereira na ocasião.
«Não concordo que a etapa da Torre [na segunda-feira, a 5.ª] tenha sido uma derrota em toda a linha para a equipa: foi um dia menos bem conseguido de toda a equipa, um dia muito mau do Maurício. Esta terça-feira, não se pode, também, considerar uma vitória em toda a linha para a equipa. Nada ganhámos ainda: há muita corrida. Nunca me assumi como único candidato à vitória na Volta a Portugal desde o primeiro dia. Sempre disse que temos de ir dia a dia», voltou a ressalvar um diretor desportivo a jogar à defesa mesmo com a constelação de ases do pedal que alinha na formação tido como a mais forte.
«A corrida é muito longa. Sempre respeitei muito os adversários: corremos com muita humildade e muito respeito por todas as equipas. Estamos ‘de amarelo’, vamos passar o dia de descanso de ‘amarelo’, mas ainda faltam três dias decisivos, a contar com o contrarrelógio em Viana do Castelo, há muita corrida pela frente», repisou Rúben Pereira, que sabe que os imponderáveis e surpresas são o sal da Volta e do ciclismo.
«Não escondo que o dia da etapa da Torre foi um dia duro para a equipa: lá isso, foi. Mas o que nos caracteriza enquanto estrutura é saber ultrapassar isso. Esta terça-feira, quando saímos do autocarro, fizemo-lo com uma mentalidade completamente diferente e sabíamos o que tínhamos de fazer, cada um», foi o ‘aviso à navegação’ (leia-se ‘concorrência’).
Quanto a um adversário em particular nas outras equipas que mais considerem para arrancar a ‘amarela’ ao russo que veio da Sibéria brilhar ao calor luso, Rúben Pereira é magnânimo.
«Todos eles [os corredores do ‘top 10’ na classificação geral]. A Volta a Portugal é uma caixinha de surpresas. Não há assim tanto controlo de corrida quanto isso, mas como é óbvio, tanto o suíço [Colin Stussi, da VBG, terceiro da geral, a 30 segundos de Nich] como o espanhol [Txomin Juaristi, da Euskaltel, quarto da geral, a 37 segundos do líder], como o próprio António Carvalho. Mas a corrida ainda vai dar muitas voltas: nomear dois ou três poderá ser um bocado injusto da minha parte. Tudo iremos fazer para que a corrida vá a nosso favor, mas temos de ir dia a dia», concluiu.