UCI quer proibir recurso a monóxido de carbono pelos ciclistas
Inalado em doses pequenas e sob rigorosas condições de segurança, este gás é utilizado na medicina como marcador para medir a difusão pulmonar do oxigénio ou a massa total de hemoglobina. Decisão sobre a interdição será tomada pela direção executiva do organismo entre 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 2025
A União Ciclista Internacional (UCI) quer proibir do uso de monóxido de carbono (CO) pelos corredores, alegando motivos clínicos. A inalação deste gás, segundo estudos recentes, permite reproduzir os efeitos da estada dos atletas em altitude, mas equipas e os próprios corredores, entre os quais Tadej Pogacar (UAE Emirates) e Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) garantem que é apenas um método de monitorização do treino em altitude, para a sua adaptação.
«O monóxido de carbono é um gás tóxico inodoro que está regularmente na origem de acidentes domésticos. Inalado em doses pequenas e sob rigorosas condições de segurança, este gás é utilizado na medicina como marcador para medir a difusão pulmonar do oxigénio ou a massa total de hemoglobina», afirma a UCI em comunicado, em que anuncia a proposta de interdição do recurso a CO.
«Inalado repetidamente em condições não medicalizadas pode causar efeitos secundários como dores de cabeça, sensação de fadiga, náuseas, vómitos, dores no peito, dificuldades respiratórias e até mesmo perda de consciência», lê-se na referida nota do organismo mundial que gere o ciclismo.
«Estes efeitos secundários e o total desconhecimento das consequências a longo prazo» são a base de argumentação da UCI para propor a interdição do recurso a CO, decisão que será tomada pela direção executiva do organismo em reunião marcada para 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 2025.
As equipas foram informadas sobre os potenciais efeitos da inalação repetida de CO no desempenho dos corredores, durante um seminário da UCI, em novembro último, após uma investigação do site especializado Escape ter revelou que a prática é utilizada pelas principais equipas do WorldTour. O organismo pediu explicitamente às formações e aos corredores que não utilizassem esta técnica repetidamente, tolerando apenas uma única inalação num ambiente clínico controlado. No entanto, no final daquele mês, a UCI foi mais além e propôs à Agência Mundial Antidopagem (AMA) que tomasse uma posição sobre a matéria.
A UAE Emirates, de Tadej Pogacar e João Almeida, e a Visma Lease a Bike, de Jonas Vingegaard, confirmaram a prática, assegurando que utilizada apenas para testes fisiológicos, permitindo avaliar e monitorizar o efeito do treino em altitude nos corredores e a sua adaptação.
O diretor clínico da UAE Emirates, o médico Adriano Rotunno, especifica: «Não é uma terapia. É uma ferramenta de diagnóstico para compreender a fisiologia dos nossos atletas». Por seu turno, Mathieu Heijboer, diretor de desempenho da Visma-Lease a Bike explica: «Trabalhamos há vários anos com a Bent Ronnestad para fazer estas medições no início e no final do treino em altitude».
Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard confirmaram a utilização deste método. «É um teste de estágio para ver como reagimos ao treino em altitude. […] Não é como se respirássemos gases todos os dias», diz o esloveno, vencedor do Tour em 2020, 2021 e 2024.
O dinamarquês aprofunda: «Admito que possa ser mal utilizado [o método de inalação de CO], mas nunca imaginei que pudesse ser. Penso que já foi esclarecido que esse método é utilizado para avaliar se os treinos em altitude estão a ter efeitos no nosso rendimento ou não. E também já ouvi que, se esse método for utilizado para se substituir aos treinos em altitude poderá causar problemas de saúde aos corredores. Mas não é assim que o usamos», declarou o corredor da Visma-Lease a Bike.
«Dito isto, o que ouvi é que quando se usa apenas uma vez, é o equivalente a fumar um cigarro, e o que quero dizer, é que há muitas pessoas que fumam muitos cigarros todos os dias», argumenta o vencedor do Tour em 2022 e 2023.