Rochele venceu. Perder é outra coisa que ela sabe bem como é
Rochele Nunes precisou de receber assistência depois de sofrer um estrangulamento no combate que a eliminou dos +78 kg dos Jogos Olímpicos (DANIEL IRUNGU/EPA)

Rochele venceu. Perder é outra coisa que ela sabe bem como é

JOGOS OLÍMPICOS02.08.202417:31

Irmão de sete anos da judoca portuguesa morreu há apenas seis meses; Só agora ela pode chorá-lo

PARIS – Rochele Nunes venceu.

Há seis meses, quando perdeu o irmão de sete anos e, pouco depois, viu a mãe ficar com a casa destruída devido às cheias no Rio Grande do Sul, a judoca não teve tempo para fazer o luto. Estava a meio ano de participar nos Jogos Olímpicos e a família deu-lhe força para se focar nessa missão.

Por isso, ela sabe bem o que é perder. E é bem diferente daquilo que aconteceu nesta sexta-feira, em Paris.

Depois de vencer o primeiro combate na categoria de +78 kg frente à tunisina Sarra Mzougui, a portuguesa foi eliminada pela bósnia Larisa Ceric na segunda ronda, por ippon, após sofrer um estrangulamento que quase a fez perder os sentidos.

Só assim seria possível derrubá-la. Porque Rochele não iria sair derrotada. Desse por onde desse.

«Desmaiei porque não ia desistir. Não ia entregar nada de mão beijada», disse após o combate, visivelmente emocionada.

«Foi muito difícil estar aqui depois do que aconteceu. Pela primeira vez na vida pensei desistir e se estou aqui, é porque a minha família me apoiou», disse, ao microfone da Globo.

A judoca que encerrou a participação lusa no judo – coroada na véspera com a medalha de Patrícia Sampaio – lamentou o desaire sofrido, mas mostrou-se orgulhosa de tudo o que fez para chegar à segunda participação olímpica, depois de Tóquio 2020.

«Uma derrota nunca cai bem. Mas eu sei que faz parte e estou muito orgulhosa do meu percurso, e por ter conseguido chegar até aqui. Estar entre os melhores é muito difícil e eu já passei por tanta coisa difícil», declarou, depois, citada pela Lusa.

A atleta do Benfica deixou ainda em aberto a possibilidade de se manter no judo, ainda que referindo que não é altura para pensar nisso neste momento.

«Agora preciso de passar por esses processos que eu tive de acelerar. Vou estar um pouco com a minha família, com o meu marido, com os meus colegas e aproveitar o máximo deles do carinho de que eu vou precisar agora», finalizou.