Os 26 nomes do escândalo
Ciclismo. Foto: SÉRGIO MIGUEL SANTOS/ASF

Os 26 nomes do escândalo

CICLISMO04.10.202310:39

Quem é que o Juiz do Tribunal de Instrução Criminal leva a julgamento. Adriano Quintanilha, Hugo Veloso e Nuno Ribeiro «abusaram da sua profissão de modo grave». Julgamento em Penafiel ainda sem data marcada

Com a decisão do Juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Penafiel de levar a julgamento os 26 arguidos da Operação Prova Limpa, desencadeada pela Polícia Judiciária, Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) e Ministério Publico, continua a ser colocada perante a opinião pública a mais sofisticada rede de dopagem no desporto português.

Os 26 arguidos que A BOLA divulga incluem os nomes da Associação Calvário de Ciclismo, Adriano de Sousa Quintanilha (responsável pela equipa), Nuno Ribeiro (diretor desportivo) Hugo Veloso (coordenador e diretor-geral), Nelson Rocha (mecânico), José Ferreira Rodrigues (Diretor desportivo adjunto), Jorge Miguel Formigal Almeida, Rui Homero Ramos Sousa, João Manuel Pereira Rodrigues, Marco Hélder Soares Ferreira, Carina Lourenço, Paulo Vilela Magalhães, Hugo Sancho e José Alves de Sousa (os últimos seis na condição de colaboradores da equipa na aquisição e venda de substâncias, mas sem vínculo contratual), todos estão acusados de tráfico de substâncias e métodos proibidos.

Àqueles juntam-se os ciclistas João Rodrigues, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Samuel Caldeira, José Fernandes, Ricardo Vilela, Joni Brandão, Jorge Daniel da Silva Magalhães, Daniel Mestre, José Gonçalves, Daniel Freitas e David Ribeiro, por administração de substâncias e métodos proibidos que fazem parte da lista da Agência Mundial Antidopagem (AMA), Union Cycliste International (UCI) e Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP). O processo referente ao ciclista Jorge Magalhães ainda decorre nas instâncias desportivas, Daniel Freitas (Radio Popular-Paredes-Boavista), que representou os dragões entre 2016 e 2018 está suspenso por quatro anos. O antigo ciclista Hugo Sancho (Miranda-Mortágua) também cumpre quatro anos de suspensão, por anomalias no Passaporte Biológico e responde pelos crimes de tráfico e administração de substâncias e métodos proibidos. A instrução foi requerida por alguns dos arguidos.

RECURSO A TRANSFUSÕES

O MP acusou Adriano de Sousa Quintanilha, Nuno Ribeiro e o contabilista e diretor-geral da equipa, Hugo Veloso, de terem elaborado «um esquema» de dopagem na W52-FC Porto. De acordo com o despacho de acusação, os 26 arguidos são acusados pelo tráfico de substâncias e métodos proibidos. Quintanilha, Ribeiro e Veloso terão formulado, «pelo menos desde o ano de 2020», o propósito de «aumentarem a rentabilidade dos seus ciclistas».

O julgamento, ainda sem data, vai realizar-se em Penafiel.

O juiz considerou consistentes, inequívocas e diversificados os elementos de prova corroborantes da utilização de práticas dopantes pelos atletas da equipa W52-FC Porto, mormente o recurso persistente à manipulação sanguínea (transfusões), bem como à administração e consumo de substâncias proibidas em competição e fora de competição.

«ESQUEMA VULGARIZADO»

«Na verdade da análise dos elementos transcritos, transparece associado à equipa, o recurso constante a práticas dopantes, no período de 2021 e 2022, com intervenções dos respetivos dirigentes, do pessoal de apoio e com a colaboração de outras pessoas, alguns dos quais ex-ciclistas e conhecidos de elementos da W52-FC Porto que serviam de intermediários. (…) Conseguimos seguramente indiciar a existência de um verdadeiro “esquema de doping” que de tal forma se encontrava vulgarizado no seio da equipa, que foi possível recolher elementos de prova essenciais, no autocarro, no carro de apoio, nos locais onde os atletas se encontravam hospedados e na residência da maior parte deles».

De acordo com o juiz, o arguido Nuno Ribeiro aproveitando-se da sua qualidade de diretor desportivo e do ascendente que por essa via detinha sobre os ciclistas como Joni Brandão, João Rodrigues, Samuel Caldeira, Ricardo Mestre, Amaro Antunes, Rui Vinhas, Ricardo Vilela, José Fernandes, Jorge Magalhães e José Gonçalves, fomentou o uso por estes das substâncias: «Betametassona, hormona de crescimento, (contida nos medicamentos Somatropin, Genotroi e Saizen), hormona luteinizante (contida na Manotropin) e artificialmente estimulada pelo medicamento Gonarodelina, TB 500, hormona IGF, testosterona e insulina, bem como a extração e reintrodução de sangue, (transfusões sanguíneas).»

COMO NUNO RIBEIRO GERIA

Refere ainda que Nuno Ribeiro instruía os ciclistas «sobre os dias, horas e forma» de administração das referidas substâncias que adquiria. Guardava-as em casa e/ou nos hotéis, preparava as substâncias e deixava-as já nas seringas nos quartos dos ciclistas para que as consumissem, ou chamava-os ao seu quarto no hotel para que as consumissem, perguntando quando as tinham tomado assim como a quantidade.

O juiz estima ainda que Adriano de Sousa Quintanilha, Hugo Veloso e Nuno Ribeiro «abusaram da sua profissão de modo grave, violando os deveres de atuarem em prol do desenvolvimento desportivo da modalidade, promovendo a dopagem de praticantes desportivos, revelando desprezo pela sua integridade e pela sua saúde, havendo concreto e fundado receio de que possam vir a continuar esta atividade criminosa».

Refira-se que entre os ciclistas, Amaro Antunes viu o seu processo arquivado, «praticando os factos supra descritos, sempre de forma livre, voluntária e consciente».

Os ciclistas José Fernandes, Samuel Caldeira, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Ricardo Vilela, Daniel Mestre, João Rodrigues, Daniel Freitas, Marco Paulo Vilela Magalhães e José Gonçalves encontram-se suspensos pela ADoP pelo período de três anos e beneficiaram da redução de pena em 12 meses, por admitirem a violação da norma antidopagem e aceitarem o período de suspensão.

A pena mais pesada foi aplicada a José Rodrigues (diretor desportivo adjunto) com 25 anos de suspensão, situação que poderá ser extensiva a Nuno Ribeiro (pena máxima) - por posse de substância e método proibido, - betametazona, efedrina, metanfetamina, Fenetilina, hormona de crescimento, humano, IGF, EPO, anfetaminas, cortico trofina, hidrocortisona e glucocorticoides.

Joni Brandão foi suspenso pela ADoP por seis anos, João Rodrigues por três anos a que junta mais quatro anos aplicados pela UCI por anomalias no Passaporte Biológico, enquanto se aguardam pelos resultados dos controlos antidopagem realizados pela ADoP no decorrer da Volta a Portugal e que se cifraram em 241, efetuados no final das etapas e fora de competição, os quais se espera não venham provocar novos casos no ciclismo português.