Mário Narciso: «É possível chegarmos ao terceiro Mundial»
Selecionador afirma que Portugal é candidato a nova conquista, desta feita ao Campeonato do Mundo do Dubai, que se inicia na quinta-feira. E deixa ousada promessa em caso de alcançar o feito... Com 17 títulos internacionais, mostra-se aos 70 anos orgulhoso por ter treinado três jogadores eleitos os melhores da modalidade na última década
O que é que os portugueses podem esperar desta Seleção no Campeonato do Mundo, que vai decorrer no Dubai, entre 15 e 25 deste mês?
— Podem esperar uma Seleção a lutar pelo título de campeão do mundo. Sabemos que não é uma tarefa fácil. Há equipas nesta competição com grande valor, mas nós somos também uma delas. Os jogadores dão-me a confiança de que é possível chegarmos ao terceiro Mundial [depois de 2015 e 2019].
— Em 2021, na Rússia, Portugal foi eliminado na fase de grupos. Isso pode servir de motivação para este Mundial?
— São competições diferentes. Em 2021, tivemos um percalço [derrota frente ao Senegal por 3-5] que fez com que não passássemos à fase seguinte. Aqui não há sentimentos de vingança. Estamos, sim, alertados para isso e não queremos que volte a acontecer.
— Portugal está inserido no Grupo D, com México, Omã e Brasil. Que análise faz dos adversários?
— O Brasil dispensa comentários. Tem uma base de recrutamento para fazer 50 seleções quase todas ao mesmo nível. Omã é uma seleção bastante forte, já jogámos contra eles e não são toscos nenhuns tecnicamente. Fisicamente, será, provavelmente, a melhor seleção na competição. Sobre o México, que é o nosso primeiro oponente, sabemos que tem jogadores muito aguerridos. São adversários complicados, cada um com as suas características, mas se fosse fácil não seria para nós.
— E como caracteriza a Seleção Nacional?
— A nível técnico, temos jogadores parecidos aos do Brasil. Temos uma mescla de juventude com jogadores experientes, todos eles dotados de grande vontade e ambição em conquistar os nossos objetivos.
— Na lista de 13 convocados, Rui Coimbra é a principal nota de ausência…
— Sim, é uma grande baixa. Fez toda a preparação e à última da hora foi dado como indisponível, por apresentar um problema grave num olho e não vai estar presente. Estamos a falar de um dos melhores defesas do Mundo. Temos também o regresso do Jordan Santos, o que é uma boa notícia.
— A Liga acabou em setembro. Como se preparam os jogadores que enfrentam todo este tempo sem competição oficial?
— A Federação Portuguesa de Futebol deu-nos todas as condições para fazermos, ao longo deste tempo, bons estágios de preparação. Os jogadores que já sentiam que iam ser convocados nunca deixaram de se treinar. Durante o inverno em Portugal, os jogadores não deixaram de se treinar e ter contacto com a areia.
— Fisicamente, quão exigente é jogar na areia?
— Na praia, as pessoas procuram as passadeiras de madeira para chegar mais perto da água. Andar na areia é muito mais difícil e se a temperatura for elevada ela queima a planta dos pés. Agora imaginem jogar lá. É mais complicado controlar a bola, mas com o treino e a experiência vamos sabendo os truques do que fazer quando ela bate num monte e muda de direção repentinamente. Há que treinar muito para jogar futebol de praia.
— Com um passado como jogador de futebol, essencialmente no V. Setúbal, o que o levou a optar, posteriormente, pelo futebol de praia?
— Foi uma transição simples. Quando deixei de ser jogador, fui adjunto do Quinito. Depois de muitos anos, saí do meio e fiquei ligado a uma escola de futebol. Entretanto, o V. Setúbal resolveu competir na Liga de futebol de praia e convidaram-me para orientar a equipa e fomos campeões nacionais em 2008 e 2010. Em 2013 [6 de fevereiro] a FPF fez-me a proposta para ser selecionador nacional, substituindo o José Miguel Mateus no cargo. Nunca teria aceitado o desafio se não acreditasse que íamos ter sucesso. Neste período, ganhámos algumas coisinhas, no total 17 títulos internacionais... É um currículo que fala por si.
— Não são muitos os treinadores, que podem dizer que treinaram três melhores jogadores do Mundo...
— Sim, tive esse prazer com o Madjer, vencedor em 2015 e 2016, com o Jordan Santos, que ganhou 2019, e, mais recentemente, com o Bê Martins, em 2022. São jogadores fáceis de lidar e de treinar. Os craques são dentro e fora de campo. O Madjer era um grande finalizador, com uma potência de remate extraordinária, conjugado com uma visão de jogo ímpar. O Bê é um carregador de bola, que dribla na areia com uma grande facilidade. O Jordan reúne, se calhar, as características dos outros dois juntos. São grandes jogadores.
— Em 2019, cortou o bigode quando foi campeão mundial. Qual é a promessa para este ano?
— Se formos campeões, prometi aos jogadores que irei cortar o cabelo todo. Aparecerei em Lisboa todo careca [risos]. Já tenho mesmo pouco e, assim, pode ser que ele volte a crescer com mais força. Desta vez, fica o bigode. Ele é uma referência.