Volta a Portugal Entrevista A BOLA: o que leva o vencedor de 2022 a trocar todas as vitórias
Aos 28 anos, o vencedor da Volta a Portugal-2022, o uruguaio Maurício Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor) parte na quarta-feira, dia 9 do corrente mês, em Viseu, para a edição deste ano da prova imbuído da vontade de conseguir o ‘bis’ na competição, que arranca em terras de Viriato com 3,6 km de contrarrelógio individual no prólogo e o ‘camisola amarela’ da anterior edição da prova a sair para a estrada quando forem 17h17m - o primeiro, o espanhol Guillermo Garcia (Rádio Popular-Boavista), dá ao pedal a partir das 15h21m -, para a 84.ª edição da Volta a Portugal desde 1927, que irá terminar dia 20 em Viana do Castelo.
Maurício Moreira não esconde o aperto no coração, esta terça-feira, no ‘quartel-general’ da formação dirigida por Rúben Pereira, na pacatez do Luso, vincou, em entrevista exclusiva a A BOLA, que os ídolos do pedal são tudo menos indiferentes ao flagelo das labaredas que, uma vez mais na época balnear, fazem de Portugal pasto e semeiam a dor e desgraça às vidas de muito: por isso, o sul-americano que se sente em casa em Portugal nem hesitava em trocar todos os seus triunfos e vitórias se isso mitigasse a dor do povo português tão afetado, ano a ano, pelas inclementes chamas que tudo devoram e consomem à sua passagem, a cada verão e onda de calor.
- Após o lugar na Volta-2021 e da vitória na edição da prova em 2022, sente-se ‘o alvo a abater’ na edição da maior prova do calendário velocipédico nacional, que na quarta-feira arranca para a estrada, com o prólogo em Viseu? Sente o peso da responsabilidade?
- Sim. É grande, até eu a aumento, coloco muita em mim próprio. Acho que estou preparado para fazer o meu papel, que é estar na disputa dos primeiros lugares. E vamos, toda a equipa, dar o nosso melhor para voltarmos a ganhar!
- Como é ter um companheiro de equipa e amigo, o Frederico Figueiredo, o ‘Fred’, como principal rival, como sucedeu em 2022?
- Não o vejo como principal rival, vejo-o como um companheiro também com qualidades espetaculares e um enorme sentido de responsabilidades. Acho que nos podemos apoiar um no outro: num dia que não estivermos tão bem, sabemos que o outro estará. Queremos é que a equipa Glassdrive-Q8-Anicolor esteja bem representada na frente.
- E quando passa os olhos em revista pela ‘concorrência’ nas outras equipas, quem vê como seus principais rivais a discutir a vitória na Volta-2023? Henrique Casimiro, Vicente Garcia de Mateos, Jesus Del Pino, o António Carvalho, que também era seu companheiro de equipa em 2022?
- Sim, todos esses são grandes corredores. Tenho um grande respeito por eles. Eles também podem estar em forma.
- Onde acha que se irá decidir esta 84.ª edição da Volta a Portugal: serra da Estrela, Senhora da Graça ou no contrarrelógio final, em Viana do Castelo, dia 20?
- Acho que a segunda semana, depois do dia de descanso, quando vierem as etapas mais encadeadas e mais duras, tudo se irá decidir. As etapas têm um nível de dificuldade muito grande e farão a seleção.
- Talvez esteja já no ‘top 5’ dos desportistas uruguaios mais conhecidos e respeitados pelos amantes em desporto em Portugal, depois de Diego Forlán, Edinson Cavani ou Luís Suárez. Já se sente um pouco português, e em casa por cá?
- [sorriso] Sinto-me muito à vontade com o povo português. Todos me tratam muito bem. Todos me tratam bem, e isso é muito importante para quem está longe de casa.
- Já gosta mais de cozido à portuguesa do que chá mate?
- [risos] Nunca fui muito de chá mate. Nem de me acostumar muito à comida de Portugal.
- Se pudesse, trocava a camisola amarela e as vitórias conseguidas na sua carreira para poder parar os 80 incêndios que esta terça-feira lavram em Portugal e semeiam a dor, devastação e miséria por onde passam?
- Sim. É uma coisa horrível. Há tantas famílias que estão a sofrer com os fogos: basta só pararmos por um momento os treinos e determo-nos a ver ou ler as notícias. E olhar para o céu, ou sentir o calor. Casas inteiras e tudo o que as pessoas tinham na vida a arder em meia-hora. Sustentar uma casa e uma família pode levar uma vida inteira, e o fogo dá cabo de tudo nem em uma hora. Por isso, trocaria qualquer triunfo por tirar a dor que as pessoas afetadas pelos incêndios passam nesta hora.
- E treinou-se muito, antes da Volta? Está na melhor forma de sempre, a ‘concorrência’ que se cuide, está ‘de fugir’? Como se sente?
- [risos] A verdade é que os treinos têm sido bastante mais puxados. Hoje [terça-feira] foram 80 km. Está a apertar, mas este foi o dia mais tranquilo. Os dias têm sido muito fortes, mas tem tudo corrido bem, e espero que corra melhor na Volta-2023.