Desde Eder que o Stade de France não via uma invasão tão indesejada
A invasão do palco pelos atletas foi o momento inesperado da cerimónia (IMAGO)
Foto: IMAGO

Desde Eder que o Stade de France não via uma invasão tão indesejada

JOGOS OLÍMPICOS11.08.202423:41

Cerimónia de encerramento teve mais piada quando saiu do guião; Passagem de testemunho para LA foi… holywoodesca

PARIS – Sob o céu de Paris, acendeu-se a lenda de Léon Marchand.

O nadador francês que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de bronze transformou-se no novo herói do povo. Durante os Jogos Olímpicos, a presença dele – ou da simples imagem – tornava qualquer lugar uma fonte de histeria coletiva.

E coube a Marchand ir buscar a chama olímpica ao jardim de Tuilleries, onde se manteve acesa durante os 17 dias das olimpíadas, transportando-a até ao Stade de France, onde a festa seguiria.

Com algumas clareiras de cadeiras vazias nas bancadas do recinto, a cerimónia de encerramento começou por ser tudo o que tinha faltado à de abertura: simples no conceito, clássica e elegante no formato e… um espetáculo para ser vivido com gosto. Por atletas e público.

Cerimónia de encerramento de Paris 2024 (José Sena Goulão/Lusa)

Iúri e Patrícia partilharam estandarte

Coube a um dos dois novos campeões olímpicos portugueses a honra de entrar com a bandeira de Portugal no Stade de France para a cerimónia de encerramento. Iúri Leitão, que com Rui Oliveira conquistou o ouro no madison, na véspera, partilhou o momento com a judoca Patrícia Sampaio, cujo bronze tinha sido a primeira medalha ganha pela comitiva lusa na capital francesa.
Além dos dois porta-estandarte, participaram na cerimónia mais 17 atletas: Fatoumata Diallo, Francisco Belo, Jéssica Inchude, Leandro Ramos, Liliana Cá, Samuel Barata, Susana Santos, Tiago Pereira (atletismo); Vanessa Marina (breaking), Fernando Pimenta, João Ribeiro, Messias Baptista, Teresa Portela (canoagem), Rui Oliveira, Maria Martins (ciclismo de pista), Angélica André (natação) e Teresa Bonvalot (surf).
E no meio do jogo de luzes e música, foi possível ver os sorrisos a reacenderem-se. Dias ou horas depois de viverem desilusões olímpicas, atletas como João Ribeiro e Messias Baptista, mas também Maria Martins, conseguiram ultrapassar a dor e viver um momento certamente marcante na carreira de qualquer atleta. E é a melhor forma de se despedirem de Paris.

O palco não é dos atletas?

Os cinco continentes desenharam o palco, onde depois de desfilarem os porta-estandartes, era suposto apenas os anéis olímpicos unirem os povos. Com os atletas a viverem tudo num patamar abaixo. Como que num concerto.

Mas isto ainda eram os Jogos Olímpicos. Onde o palco é para os atletas. Por isso, assim que foram libertados das amarras que os mantinham afastados na zona onde nos dias anteriores era a pista de atletismo, centenas de desportistas de todas as nações tomaram conta do mundo.

Cerimónia de encerramento de Paris 2024 (Hugo Delgado/Lusa)

E nenhum «mesdames e messieurs atletas, por favor queiram sair do palco» os convenceu. Mais parecia uma prequela da ‘Missão Impossível’.

Por muito que o pedido fosse repetido, em francês e inglês, era vê-los aproveitar o seu momento. O seu palco. Onde, entretanto, os concertos começaram, com o público a dar pouco mais do que espaço para os músicos se moverem.

Se eles tinham «mesmo de sair do palco para o espetáculo continuar», a cerimónia não seguiria. Mas seguiu. Deu foi um trabalho inesperado aos seguranças que foram obrigados a subir também eles ao palco para, ao fim de largos minutos, conseguirem que todos os atletas descessem, finalmente, e ocupassem o lugar secundário que lhes estava reservado.

E de repente, numa cerimónia que estava a ser mais um afago ao ego gaulês, com os ecrãs a exibirem os momentos que tiveram atletas da casa em destaque e, de vez em quando, darem espaço às outras figuras desta edição, aquele foi um beliscão doloroso.

Diríamos que o Stade de France não via uma invasão tão indesejada desde que um tal de Ederzito chutou mesmo dali e pintou Paris de verde e vermelho.

É verdade que depois a vida seguiu. Em 2016 e na cerimónia de encerramento. Mas a ferida no ego ficou lá marcada.

A invasão pacífica do palco da cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos feita pelos adeptos (JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa))

Hollywood chegou aos Jogos. Ou vice-versa

Passada a euforia do momento que não estava no guião – e que por isso teve mais piada -, muitos atletas começaram a abandonar o estádio. As clareiras foram aumentando, ao ritmo que os discursos de encerramento se arrastavam… até novo pico de emoções fortes.

A despedida dos Jogos Olímpicos de Paris começou com Tom Cruise a atirar-se do teto do estádio preso a um cabo, e aterrar ali na costa leste dos EUA do palco.

Tom Cruise fez a sua apariçao no encerramento de Paris 2024 (Hugo Delgado/Lusa)

E foi ver muitos dos atletas a renovarem forças para receber o ator de Hollywood e tentar uma foto ou um vídeo enquanto ele se dirigia ao palco, onde estava Simone Biles – com uma bota ortopédica na perna esquerda – para lhe entregar a bandeira olímpica. De estrela para estrela. De mundos diferentes, apesar de partilharem o país.

Tom Cruise arrancou depois de moto, enfiou-se num avião sem os sobressaltos cinematográficos e a (e)missão passou para Los Angeles.

Mudou logo o tom! A festa passou a ser vivida à grande e à americana, com Red Hot Chili Peppers, Billie Eilish e, claro, Snoop Dog. O inesperado elo Paris-LA que se tornou um ícone olímpico pouco expectável de Paris 2024.

Et voilà! Despediu-se França.

É tempo, então, para os EUA receberem e assumirem: agora é «My way». Com todo o fogo de artifício que se espera para em 2028.

Cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos terminou com espetáculo de fogo de artifício (IMAGO)