«Depois da queda no Tour notei que a cabeça já não pensava da mesma maneira»
Dois acidentes complicados esta temporada no Tour e na Vuelta, falta da vontade de querer ganhar e a crescente preocupação de não cair levaram o espanhol a tomar a decisão de colocar um fim à carreira
Depois de muitos anos ao mais alto nível, com 31 presenças nas três grandes voltas e nas quais somou: 4 vitórias em etapas no Tour; foi melhor trepador na Vuelta; ganhou a geral no Paris-Nice; e foi campeão nacional de fundo e contrarrelógio, o espanhol Luís León Sanchez (Astana), despede-se no final da temporada.
Pelo caminho representou a ONCE-Eroski, Liberty Seguros, Liberty Seguros-Wurth, Caisse D’Epargne, Rabobank, Blanco Pro Cycling, Caja Rural-Seguros-RGA, Bahrain-Victorious e atualmente veste a camisola da Astana.
León Sanchez (Astana) e Alejandro Valverde (Movistar), são naturais de região de Múrcia e marcaram uma época no ciclismo espanhol e mundial. Agora, conta que chegou a hora de dar lugar às novas gerações. «Comecei a vida desportiva a jogar futebol no Muleño Clube de Futebol da minha terra [Mula], juntamente como meu irmão Pedro, que atua no Múrcia, depois de ter representado o Real Madrid [2010 a 2013]».
«Comecei a andar de bicicleta com cinco anos, e isto acabou por se converter na minha profissão», começou por cintar León Sanchez, que tem bem visíveis no corpo as marcas provenientes da queda sofrida a cinco dias de terminar a Volta à Espanha de 2023 e que resultou numa inflamação do pé direito e problemas no escafoide.
Luís garante estar orgulhoso por tudo o que conseguiu. «Principalmente com a primeira parte da minha vida. Conviver com os meus amigos na equipa de formação Colchão Comodón, onde vivi uma etapa muito feliz», diz reconhecendo o sacrifício dos pais que apostaram e apoiaram os filhos nas decisões desportivas.
«Depois da queda no Tour [2023] notei que a cabeça já não pensava da mesma maneira e não foi difícil tomar a decisão de no final do ano terminar a carreira. Discutimos e analisámos o tema em família e a decisão foi consensual», frisou.
Luís León Sanchez recorda um dos momentos que mais o marcou enquanto profissional. «Na tua carreira nada mais importante como vencer pela primeira vez no Tour, como aconteceu em 2008 na etapa Brioude-Aurillac. Naquela altura voltei a ser uma criança, recordei as horas que passava frente à televisão a ver o Tour. Foi um antes e um depois da carreira».
Por enquanto e sem futuro definido, apenas sabe que o ciclismo profissional de competição acabou após ter competir 90 dias em 2023 e alinhado nas três grandes Voltas - 24.º na Volta à Itália; desistiu na 5.ª etapa da Volta à França devido a uma queda na ligação entre Pau e Laruns; e finalizou na 61.ª posição na Volta à Espanha.
«Deixei a carreira profissional em espera, mas gostei até ao ultimo dia, embora chegar a Madrid tenha sido muito difícil», reconheceu o ciclista que após ter participado no L’ Etape Madrid do Tour de França, ainda vai correr algumas provas de BTT, como o Deserto de Titã de Almeria (7 de outubro) e Arábia Saudita (14 novembro).
«De momento não está nos meus planos continuar a competir, embora admita correr com Alejandro Valverde algumas provas de Gravel, mas, sinceramente, não é do ciclismo que mais gosto, embora reconheça que está em ascensão. Ao longo da carreira também pratiquei atletismo na seleção de Múrcia e no inverno treinei e competi no ciclocrosse. Mas vou ter calma, agora a prioridade é outra, conviver e acompanhar a família e ver o que o futuro nos reserva», afirmou Sanchez que não coloca de parte integrar a equipa técnica da Astana na próxima temporada.
«Vinokourov, com quem tenho uma grande amizade fora do ciclismo e que tive como companheiro de equipa e sofri como rival, disse-me que daqui a umas semanas iremos falar porque tem um lugar para mim na estrutura da Astana, porque há decisões que têm de ser tomadas antes que outros as tomem», foi revelando.
«No ciclismo é preciso passar 150 dias fora de casa, se fosse solteiro e não tivesse família consideraria isso, mas é algo que não faço no momento. Embora a ideia já estivesse na cabeça há muito tempo, decidi na etapa de Múrcia a caminho de Caravaca por estradas que conheço muito bem.»
«Naquele dia só pensei em não cair porque vencer estava fora de hipótese. E quando se perde o senso da competição e não se tem vontade de correr com medo de cair, é melhor tomar uma decisão. Foi o que fiz», justificou.
O espanhol regista 47 vitórias entre as quais: quatro etapas na Volta à França; duas clássicas se San Sebastian (2010 e 2012); Paris-Nice (2009); e quatro etapas Tour Down Under (2005).
No palmarés figuram também: vencedor da montanha na Volta à Espanha (2014); geral na Vuelta a Múrcia (2019); Vuelta ao País Basco (2009 e 2016); La Mediterranéen (2009); Circuit Cyclist Sarth-Pays de la Loire (2010); e duas etapas no Tour da Romandia (2012).
Foi igualmente quatro vezes campeão nacional de contrarrelógio (2008, 2010, 2011 e 2020) e campeão nacional de fundo em 2020.