Ciclismo Dauphiné Libéré vai testar pelotão do Tour
A 75.ª edição do Dauphiné Libéré é um dos últimos confrontos antes da Volta à França, num percurso desenhado na região vulcânica de Auvergne em redor de Chambon-sur-Lac que se inicia no domingo dia 4 e finaliza oito dias depois no Forte de la Bastille nas proximidades de Grenoble.
O Dauphiné Libéré que era designado há alguns anos por Critérium du Dauphiné Liberated, foi criado por George Cazeneuve em 1947 e organizado pelo jornal Le Dauphiné Liberated, a partir de 2010 passou a fazer parte das provas organizadas pela ASO (Amaury Sport Organization) que tem como principal competição a Volta à França.
A competição desenrola-se em grande parte nos Alpes em redor de Dauphiné
no mês de junho e durante uma semana, antecedendo a Volta à França. A competição conhecida pelas suas dificuldades montanhosas, tem passagem por grandes desfiladeiros e chegadas em altitude, devido à sua localização geográfica.
Após a II Guerra Mundial, quando o ciclismo era um dos desportos mais populares em França, juntamente com o boxe, o jornal Le Dauphiné Liberated decidiu organizar um evento de ciclismo com etapas pela região que aconteceria um pouco antes a Volta à França, no mês de junho.
Desde o início, esta competição que permite uma melhor preparação para o encontro de julho, atrai os melhores ciclistas franceses - Louison Bobet ,Jean Robic, Lucien Tessier, Jacques Anquetil e Raymond Poulidor, a que se juntaram estrangeiros como Luís Ocaña, Eddy Merckx, Joaquim Agostinho, Bernard Thévenet, Robert Millar, Luís Herrera, Laurent Dufaux, entre outras grande figuras.
Além de um sucesso popular e desportivo, o evento também é um sucesso económico, com muitas cidades a pedirem para serem locais de partida e/ou chegada. Por último, permite experimentar durante a competição os avanços tecnológicos no domínio dos equipamentos de radiodifusão nomeadamente nas montanhas e dos equipamentos de ciclismo.
A forma atual do Critérium é o resultado da sua fusão com o Circuit des Six Provinces-Dauphiné em 1969. Atualmente a corrida é disputada pelas equipas WorldTeams a que se juntam quatro convidadas pela organização do escalão ProTeams. Muitos campeões venceram o Dauphiné Libéré, sendo a única prova que foi conquistada pelos ciclistas que venceram a Volta à França por cinco vezes, Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain.
Uma dezena de ciclistas conseguiram vencer no mesmo ano o Dauphiné Libéré e Volta à França, Louison Bobet em 1955, Jacques Anquetil em 1963, Eddy Merckx em 1971, Luís Ocaña em 1973, Bernard Thévenet em 1975, Bernard Hinault em 1979 e 1981, Miguel Indurain em 1995, Bradley Wiggins em 2012, Chris Froome em 2013, 2015, e 2106, e Geraint Thomas em 2018.
Em 1965, Jacques Anquetil conseguiu a façanha de vencer o Bordéus - Paris, no dia seguinte à vitória no Dauphiné Libéré, não tendo uma noite inteira de sono entre a vitória e o início da clássica.
As cidades que mais vezes sediaram a competição são Grenoble por 44 vezes, Avignon 32, Saint-Étienne 23, Annecy 22, Cambery 21, Gap 21, Lyon 19, Aix-les-Bains 18, Valence 16 Briançon 15 e Vals-les-Bains 15 vezes.
Georges Cazeneuve, membro do conselho de administração do Dauphiné Liberated, permaneceu como diretor até 1980, entretanto criou os Seis Dias de Grenoble em pista. Marcel Patouillard assumiu a partir de 1991 a direção da corrida até 2010, quando passou para a responsabilidade da ASO.
A 1.ª edição realizada em 1947, teve como vencedor o polaco Édouard Klabinski (Mercier-Hutchinson), seguido dos italianos Gino Sciardis (Mercier-Hutchinson) a 10 s e Fermo Camellini (Ray-Dunlop) a 44 s.
Cinco ciclistas venceram por três vezes, Nello Lauredi (Fra) 1950, 1951 e 1954; Luís Ocaña (Esp) 1970, 1972 e 1973; Bernard Hinault (Fra) 1977, 1979 e 1981; Charly Motet (Fra) 1987, 1989 e 1992 e Chris Froome (Gbr) 2013, 2015 e 2016. No prémio da montanha o francês Thierry Chaveyrolat é o recordista com 5 vitórias em 1986, 1990, 1991, 1992 e 1993.
Por países a França comanda com 30 primeiros, 30 segundos e 29 terceiros lugares, seguida da Espanha com 10 - 11- 9, Grã Bretanha com 8 - 4- 2, Colômbia com 4 - 3 - 1 e Estados Unidos com 3 - 5 - 4. O maior numero de vitórias em etapas pertence a Bernard Hinault com 10, seguido de Chris Boardman 8, Freddy Maertens 7, Chris Froome, Iban Mayo e Raymond Poulidor 6, Edvald Boasson Hagen, Thierry Claveyrolat, Nello Lauredi, Bernard Thévenet e Wout Van Aert com 5 primeiros lugares.
Dos 41 portugueses que participaram no Dauphiné - Libéré, os melhores resultados pertencem a Joaquim Agostinho, 2.º em 1981 atrás de Bernard Hinault e 3.º em 1980 atrás de Johan Van Der Velde e Raymond Poulidor, em 2015 Rui Costa foi o 3.º classificado atrás de Chris Froome e Tejay Van Garderen, ano em que venceu a 6.ª etapa, Saint-Bonnet-en-Champsaur e Villar-de-Lans/Vercors.
Em 1973, Joaquim Agostinho venceu o prólogo em Thonon com a equipa BIC, Acácio da Silva esteve presente por duas vezes, em 1987andou um dia com a camisola amarela, em 1988 venceu a 4.ª etapa La Roche sur Foron - Chambery e andou dois dias com a camisola de líder.
Com 10 presenças, Sérgio Paulinho é o ciclista português que mais vezes participou no Dauphiné Libéré, seguido de Joaquim Agostinho com 9 e Nelson Oliveira que este ano completa a quinta participação.
Ivo Oliveira (Emirates vai para a terceira participação depois de ter desistido em 2021 e o ano passado ter terminado em 110.º lugar; «Vou ver se tenho melhor sorte que nas edições anteriores e trabalhar para Adam Yates que vai lutar pela geral«, frisou o ciclista gaiense. Nelson Oliveira (Movistar) corre o Dauphiné Libéré, que serve de preparação para a Volta à França que se inicia dentro de quatro semanas em Bilbao. «O objetivo é preparar o Tour num percurso bastante duro, com muita montanha nos últimos três dias. Desde que me sinta bem, não me desagrada o perfil do contrarrelógio, mas o objetivo é trabalhar como sempre para o chefe de fila, Enric Mas, e adquirir ritmo competitivo porque não corro desde a Romandia (30 de abril), treinar é uma coisa e competir é outra. Quando terminar o Dauphiné tenho 35 dias de corrida que me parece ser o ideal, o ano passado tinha 32 quando comecei a Volta à França», declarou a A BOLA o ciclista bairradino.
Com oito dias de corrida onde predomina a montanha, às primeiras três etapas seletivas, segue-se o contrarrelógio individual que se corre entre Cours - Belmont-de-la-Loire na extensão de 31,1 km direcionado a especialista, num percurso ondulado que apresenta duas subidas que que devem marcar diferenças. A segunda metade da corrida com três chegadas em altitude nos Alpes vão marcar a diferença, a 6.ª com final numa contagem de montanha de 3.ª cat. em Salins-les-Bains serve para os candidatos medirem forças, segue-se a etapa rainha com duas contagens de montanha de categoria especial, nas passagens pelo Col de la Madeleine e Col du Mollard, com final no Col de la Croix de Fer, com a meta instalada a 2.607 metros de altitude.
No último dia e para dissipar algumas duvidas, o pelotão enfrenta três contagens de 2.ª cat., um de categoria especial no Col du Granier e duas de 1.ª cat., a primeira no Col du Porte e a última na meta no final da temível subida da La Bastille, com 1,8 km e uma inclinação média de 14,2%.
No pelotão com 22 equipas surgem como candidatos à geral, Jonas Vingegaard (Jumbo), Adam Yates (Emirates), Enric Mas (Movistar), Richard Carapaz (Ineos), Giulio Ciccone, Jay Hindley (Bora), Daniel Martinez, David Gaudu (Groupama) e Mikel Landa (Bahrain).
O Dauphiné Libéré não é exatamente um paraíso para os velocistas, mas existem alguns com possibilidades de sucesso nas chegadas planas, Dylan Groenewegen, Sam Bennett, Ethan Hayter, Olav Kooij, Ethan Vernon, Matteo Trentin e Milan Menten, vão estar presentes.
ETAPAS
1.ª Etapa Chambon-sur-Lac - Chambon-sur-Lac 158,0 km
2.ª Etapa Brassac-les-Mines - La Chaise-Dieu 167,5 km
3.ª Etapa Monistrol-sur-Loire - Le Coteau 194,5 km
4.ª Etapa Cours - Belmont-de-la-Loire (CRI) 31,1 km
5.ª Etapa Cormoranche-sur-Saône - Salins-les-Bains 191,5 km
6.ª Etapa Nantua - Crest-Voland 170,5 km
7.ª Etapa Porte-de-Savoie - Col de La Croix De Fer 148,0 km
8.ª Etapa Le Pont-de-Claix - La Bastille 153,0 km
Total 1.214,1 km