Angélica: «Em Paris dizem que não é agradável nadar no Sena. A água não tem qualidade»

Natação Angélica: «Em Paris dizem que não é agradável nadar no Sena. A água não tem qualidade»

NATAÇÃO06.08.202321:00

«A prova foi mesmo cancelada, foi pena. Lamento termos perdido este momento competitivo, mas, sobretudo não se ter concretizado a expectativa que existia por ser uma oportunidade de nadarmos no local onde vão decorrer as águas abertas nos Jogos de Paris», declarou Angélica André a A BOLA após a organização da Taça do Mundo de Paris ter decidido, esta manhã, não realizar os 10 km femininos e masculinos devido à elevada poluição existente nas águas do Sena.

Após os nadadores já não terem realizado qualquer treino nos dias anteriores por causa da sujidade que a água apresentava – consta que o problema terá sido ampliado pelas chuvas frequentes que têm caído na capital francesa, o que fez com que houvesse infiltrações dos esgotos para o rio -, logo ao final da tarde de sexta-feira a organização já adiara para domingo a prova feminina de sábado.

Mas, depois de na madrugada deste domingo terem efetuado novos testes à qualidade da água, tiveram mesmo de cancelar a competição que serviria de test event para Paris-2024. As mulheres tinham partida marcada para as 7.30h e os homens 11.30h.

Além da nadadora do FC Porto, Portugal apresentava-se também na capital fracesa com Mafalda Rosa e Tiago Campos (ambos Rio Maior). Parte da Seleção que ainda há três semanas competiu no Mundial de Fukuoka, juntamente com Diogo Cardoso (Sporting), e que compõe a equipa em que a federação aposta para a qualificação olímpica.

«Há uma coisa que as pessoas de Paris, e não só, nos dizem: o rio Sena não é um local muito agradável para se nadar. Que a água tem pouca qualidade. A questão é que, em termos políticos e por desejo do comité organizador, só querem fazer a prova no rio. O local é muito bonito e atrativo em termos do espetáculo. Isso é verdade», vai contando Angélica sobre o percurso que está previsto existir entre duas pontes e que permite que o público possa acompanhar de perto e em ambas as margens. E também servirá para a natação no triatlo.

Mas chegou a treinar lá? «Não, não… Não dava mesmo, só treinámos na piscina. Os valores da água devem ter, no máximo, 1000 [colónias de bactérias por 100 ml de água]. Estavam a 4000», vai contando Angélica que, a par de Tiago, foi olímpica em Tóquio.

E, depois do que viu, apesar do local ser entusiasmante, caso se apure para os Jogos pensa que vale a pena o risco de daqui a um ano tudo voltar a acontecer? Além disso existe a poluição dos barcos que andam sempre no Sena com turistas e até o desfile dos países na cerimónia de abertura está planeado que aconteça no rio.

«É um local bonito, mas onde quer que aconteça nos Jogos a prova será sempre atrativa e trará público. Acho é que já deveria existir um plano B. A federação francesa tem insistido nisso, mas o comité organizador nunca quis saber dele. Só quer este. E agora que se chegou ao test event aconteceu isto. Na verdade, para mim é irrelevante se é ou não no Sena. Haverá sempre público», considera a medalha de bronze no Europeu de Roma-2022.

No entanto, competir no rio, e sobretudo nesse dentro de uma cidade, é muito diferente do mar. Prefere essa água mais parada ou onde pode existir alguma ondulação? «Bem, com os anos e a experiência vamos nadando em todos os locais, mas as condições de que mais gosto é água mais fria e um bocadinho de ondulação. Há quem não seja muito a favor dessas condições, mas qualquer coisa serve. Estarmos bem preparados, treinados e focados é que é importante», responde rindo-se.

E, caso em fevereiro de apure para os Jogos, interessa-lhe saber o mais cedo possível qual o tipo de águas em que competirá? «Não, já nadámos várias vezes nestas condições, em que há água é mais parada, ou até exista alguma corrente. Estamos adaptados a isso», garante.

Depois do cancelamento, ainda não existe uma nova data para o test event, mas há quem considere que, face a este contratempo, o COI tenha agora maiores receios e, no mínimo, exija a existência de outro local alternativo.

«Não ter havido o prova fui sobretudo mau para a Mafalda e o Tiago, que têm disputado todas as etapas do Circuito Mundial de taças do mundo e querem entrar no ranking. Para eles era importante terem competido. No meu caso, não fui a todas as provas, era sobretudo bom porque decorria onde vão ser os Jogos», salienta Angélica que em Fukuoka foi 15.ª nos 10 km e 4.ª nos 5 km

«Eles não estão propriamente desiludidos, foi igual para todos. Estamos é aborrecidos por a decisão de não se nadar apenas ter sido anunciada depois das 4 da manhã. Acordámos a essa hora e tínhamos o pequeno-almoço às 4.30h. Foi quando soubemos. Podiam-nos ter dito ontem e assim teríamos dormido mais tranquilos sem estar na dúvida se nadávamos ou não», concluiu.