Vitória escrita nas estrelas  segundo a lei do mais forte (crónica)
Akturkoglu e Kokçu, dupla turca que tem ganho grande destaque no Benfica de Lage. Foto: André Alves/GRAFISLAB

BOAVISTA-BENFICA, 0-3 Vitória escrita nas estrelas segundo a lei do mais forte (crónica)

NACIONAL23.09.202423:30

A atual debilidade do Boavista convidava ao triunfo fácil do Benfica. Panteras deram o que tinham; águias cada vez têm mais para dar…

O Boavista-Benfica da sexta jornada da edição 2024/25 da Liga portuguesa deve ser contado com algum cuidado, porque se não for devidamente contextualizado pode levar a conclusões apressadas e erróneas, sob diversos prismas. Comecemos pelos Benfica, numa primeira pincelada, para dizer que Bruno Lage está a perceber o que Roger Schmidt, a páginas tantas, se recusou a ver: uma equipa desequilibrada como era a dos encarnados precisava de um melhor balanço a meio campo para poder movimentar-se mais harmoniosamente em todos os setores.

E o que é que fez Bruno Lage? Não mexeu no guarda-redes nem na defesa (para lá do que as lesões o obrigaram), deu nexo ao meio-campo, onde Florentino é a peça que ajuda mais os centrais, Aursnes é o elemento que faz a ligação entre setores, e Kokçu fica com a tarefa do apoio a Pavlidis, enquanto que Di María e Akturkoglu dão largura à equipa e apoiam por dentro cada vez que os laterais sobem, e Pavlidis não fica tão sozinho como estava.

Akturkoglu tem tido papel de destaque no lado esquerdo do 4x3x3

Com este desenho, de repente, o Benfica foi capaz de sair a jogar de trás com maior segurança (embora contra adversários mais exigentes ainda tenha muito que apurar); tornou-se numa equipa mais compacta e solidária na recuperação da bola; e passou a ser capaz de ter presença na área, abdicando do futebol empastado de circulação anémica, que vinha a praticar no último ano e meio.

Está tudo bem no Benfica? Longe disso. Ainda há demasiados passes perdidos, especialmente no primeiro terço, e no derradeiro terço ainda não se vê a assertividade que transforme três quartos das oportunidades em golos. Mas não haverá ninguém quem diga que não está melhor, e que a tendência é de continuar a melhorar, assim Lage consiga incorporar Amdouni nas primeiras opções, e passe a contar com Arthur Cabral para momentos mais madrugadores do jogo. No mais, parece ir no bom caminho.

Quanto ao Boavista, que não consegue inscrever jogadores há quatro janelas de transferências, que dizer? Heróis, que dignificam uma camisola que foi campeã nacional em 2000/2001, e que, mesmo assim, parecem ter condições para se manterem na I Liga, o que diz da qualidade da competição…

Akturkoglu tem tido papel de destaque no lado esquerdo do ataque no 4x3x3

Quanto ao jogo do Bessa, onde nunca esteve em causa o vencedor, e apenas se questionou a dimensão da vitória encarnada, uma palavra de admiração para a arte de Akturkoglu, agitador, assistente, jogador de equipa, um verdadeiro achado; para o renascimento de Kokçu, que recuperou a alegria e assume a batuta, justificando tudo aquilo que Schmidt dele disse, e dele nunca conseguiu tirar; e para algumas dinâmicas coletivas que começam a aparecer, ainda longe do que o FC Porto apresenta (mas não muito), e já não tão longe (mais ainda bastante), do que o Sporting faz, o que só pode ser visto, para os escassos dias de trabalho de Lage, como um elogio.

No que respeita a táticas, o Benfica apostou num 4x3x3 que irá servir de base para outras aventuras, o que só prova que Bruno Lage anda à procura de recuperar o equilíbrio entre setores que o seu antecessor viu fugir-lhe como areia entre os dedos, e não nos devemos admirar se num futuro próximo virmos os encarnados em 4x1x3x2 ou em 4x4x2, tantos e tão díspares são os jogos que terá pela frente, entre Champions e I Liga. Já o Boavista, armou-se num 4x1x4x1 que pode ser transformado em tudo, fez das fraquezas forças, foi digno, mas nunca esteve perto de colocar em causa a vitória do Benfica.

Em resumo, mais um jogo para o Benfica recuperar confiança, num terreno onde, na época transata, começou a perder a possibilidade de revalidar o título nacional. E, atendendo ao momento delicado, do ponto de vista social, que o clube da Luz está a viver, não há nenhum bálsamo melhor e mais unificador, que as vitórias…