Vamos entrar na era das bancadas vazias (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Vamos entrar na era das bancadas vazias (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL16.04.202011:55

Ontem tivemos o privilégio de publicar uma belíssima crónica do Luís Castro, que nos ajudou a suportar um bocadinho melhor a provação que vivemos, mas que, também, estou certo, lhe terá muito prazer escrever e sentir-se não a 4.000 quilómetros de quem gosta, mas muito mais perto. Hoje e amanhã, nas páginas de A BOLA, é a vez do Carlos Carvalhal dar um mergulho nas suas origens futebolísticas e partilhar com todos nós a importância da identificação entre clube e comunidade, fator diferenciador no futebol, que explica a persistência, mesmo com altos e baixos, de uns, e a falência dos projetos desenraizados, que sucumbem ao mínimo abanão.

Na nossa realidade temos exemplos, especialmente em SADs que fugiram à matriz do clube-fundador, perderam identidade e acabaram por afundar-se. Felizmente, o futebol é mais do que folhas de Excel…

Já o tinha referido, de forma crua e brutal, no editorial de A BOLA da última quarta-feira, que muita água correrá debaixo das pontes até que voltemos a ter estádios com dezenas de milhares de pessoas. Hoje, tanto no nosso jornal como na MARCA da vizinha Espanha, epidemiologistas diferentes assumem que, de facto, na melhor das hipóteses será necessário ano e meio até que possa conhecer-se alguma normalização.

Até lá, o ‘novo normal’, a que teremos de habituar-nos, vai ditar, quanto muito, jogos à porta fechada, que vão exigir uma abordagem afetiva diferente dos adeptos, e muitos sacrifícios aos jogadores que provavelmente conhecerão longos períodos de estágio, para garantir que se mantêm negativos à Covid-19.

Com a sofreguidão dos amantes do desporto por alguma atividade a transbordar, (vistos e revistos os clássicos, e devo confessar que me emociono cada vez que passam as imagens da meia-final do Europeu de 1984…) há modalidades, como escreve hoje o Vítor Serpa, que podem arrancar antes de outras, pela sua própria natureza. O ténis será uma delas, o voleibol poderá regressar antes das que têm contacto entre jogadores, a natação também, algumas disciplinas do atletismo, o xadrez, os próprios desportos motorizados, enfim, uma série de possibilidades que se abrem neste countdown que nos vai conduzir ao ‘novo normal’. 

Uma coisa é certa: preparemo-nos para um longo afastamento da sensação fantástica de estar num estádio cheio, uma provação tanto para os adeptos, como para os jogadores. Porque atuar para bancadas vazias é cá uma dor de alma…