Uma viagem ao primeiro FC Porto-Man.United (e foi de arromba!)
Há 47 anos, os azuis e brancos golearam os red devils por 4-0, nas Antas, com hat-trick de Duda e golo de Oliveira, na extinta Taça das Taças. Os 9 contos de receita, o dispositivo da PSP reforçado e a espionagem de Pedroto, decisiva para tirar o retrato fiel ao adversário
Uma página de jornal pode contar-nos muitas histórias. Como aquela vez em que o FC Porto defrontou o Man. United, a 19 de outubro de 1977, e goleou o histórico emblema inglês por 4-0, com hat-trick de Duda, o brasileiro favorito de Pedroto, e um golo de Oliveira, na 1.ª mão da 2.ª eliminatória da Taça das Taças. Uma página de A BOLA conta-nos como foi aquele primeiro duelo mágico com a equipa de Manchester, num Estádio das Antas com 70 mil almas e uma receita recorde de 9 contos (448,925 euros), ainda que as expectativas apontassem para um encaixe superior, de «nove mil e oitocentos contos.»
A PSP montou um dispositivo de segurança especial «não fossem os ingleses lançar um dos seus habituais e furiosos ataques», como acontecera antes, num jogo contra o Saint-Étienne. Não houve registo de incidentes.
Fonseca; Gabriel, Simões, Freitas e Murça; Otávio, Teixeira I e Rodolfo (cap.); Seninho, Duda e Oliveira. Um onze sólido do FC Porto que dispensou a entrada do grupo de suplentes formado por Torres, Teixeira II, Gonzalez, Vital e Ademir. Pela pena do jornalista Alfredo Barbosa colhemos algumas curiosidades.
Como a missão de espionagem de Pedroto ao adversário, determinante para uma goleada que espantou a Europa: «Para isto muito terá contribuído a «espionagem» levada a cabo por Pedroto no Manchester United- Saint-Étienne. A perspicácia do grande técnico deve ter-lhe dito que o grande segredo dos êxitos do Manchester United se verificam quando a equipa pode jogar deliberadamente ao ataque e, embora Saint-Étienne nesse jogo, não tenha atacado muito, deve fê-lo feito o suficiente para Pedroto compreender que só poderia discutir a eliminatória, desde que conseguisse que a bola estivesse, o mais tempo possível, junto da defesa inglesa, também porque Pedroto sabia que, entre a sua defesa e o seu ataque, há uma diferença flagrantemente vantajosa para o setor dianteiro.»
O FC Porto foi demolidor. Os golos de Duda (8’, 24’ e 54’), um puro hat-trick, e Oliveira consolidaram «uma exibição a todos os títulos notável e uma goleada histórica, se não esquecermos o prestígio internacional do adversário», escrevia A BOLA.
A tal ponto foi assim, que o treinador do Man. United, Dave Sexton, se rendeu ao talento da dupla portista. «Quanto a mim, o melhor jogador português em campo foi, sem margem para dúvidas, Duda: o melhor avançado que eu já vi atuar! Quero referir, também, o nome de Oliveira, igualmente um grande futebolista.» E respeitando rigorosas regras de diplomacia, o treinador inglês, falecido em 2012, elogiou a arbitragem e o público: «A arbitragem? Considero-a estupenda. No que respeita ao resultado, penso que o mais justo seria, na verdade, o 4-1. Queria, ainda, dizer-lhe que apreciei muito o comportamento, extraordinariamente correto, do público portuense.»
O Zé do Boné, bem ao seu estilo, não deu a eliminatória por encerrada. E fez bem, porque na 2.ª mão o FC Porto perdeu por 5-2, apurando-se para os quartos de final graças aos dois golos de Seninho, em Old Trafford. «Concordo que 4-0 é uma margem confortável. Julgo, porém, que não devemos adormecer à sombra dos louros hoje conquistados. Sei que vamos enfrentar, em Manchester, grandes dificuldades, simplesmente estamos prevenidos contra elas. Se tudo correr como espero, é natural que o FC Porto passe a eliminatória seguinte.» E passou, num acumulado de 6-5. O passeio alegre terminaria com o Anderlecht, vencedor da edição 1977/78 da Taça das Taças: Fernando Gomes ainda deu vantagem pela margem mínima aos azuis e brancos, na 1.ª mão, mas em Bruxelas o Anderlecht, orientado por Raymond Goethals, venceu por 3-0. Os belgas que, em novembro, serão adversários do FC Porto neste novo formato da Liga Europa.