«Um fomento ao racismo»: Ministra de Lula quer São Januário aberto ao público
Adeptos do Vasco da Gama
Foto: IMAGO

BRASIL «Um fomento ao racismo»: Ministra de Lula quer São Januário aberto ao público

INTERNACIONAL06.09.202317:15

Estádio do Vasco da Gama está fechado por “falta de segurança”. Em causa, a proximidade a uma favela. Anielle Franco, titular da Igualdade Racial, fala em “ato discriminatório”

A interdição do Estádio de São Januário, a casa do Vasco da Gama, um dos mais populares clubes do Rio de Janeiro e do Brasil, chegou a Brasília. A ministra da Igualdade Racial do governo Lula considerou a medida “discriminatória”, nesta quarta-feira, 6.

O caso começou a 22 de junho, quando os adeptos do Vasco causaram tumultos dentro e fora do estádio em protesto contra a derrota, por 1-0, para o Goiás, de Armando Evangelista. Na sequência, o Tribunal Desportivo do Brasil puniu o clube com quatro jogos à porta fechada. A controvérsia surge quando a Justiça Comum manteve aquela interdição por tempo indeterminado, argumentando falta de segurança na região do estádio.

“Vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio”, argumentou o juiz Marcelo Rubioli.

A ministra Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, executada no centro do Rio em março de 2018, considera a decisão “um fomento ao racismo”.

“Na decisão, apontou-se que a proximidade com a favela da Barreira do Vasco é um dos motivos para que não se tenha condições de segurança no estádio. Os órgãos de justiça não devem perpetuar nas suas decisões ações e atos discriminatórios, fomentar a criminalização e racismo vai contra a nossa constituição e o dever do Estado brasileiro. Nós do Ministério da Igualdade Racial encaminharemos um ofício ao procurador-geral do Rio de Janeiro externando a nossa preocupação com a estigmatização que esta decisão criou”, escreveu Anielle, em comunicado.

“Sou flamenguista”, admitiu a ministra, “mas tenho respeito pela história de um clube de origem popular e negra, sou favelada e tenho o compromisso de trabalhar contra a criminalização das nossas favelas e do nosso povo, esta decisão afeta a geração de renda e impacta toda a cidade, a Barreira é parte fundamental da alma do clube, é também dali que as pessoas que trabalham em dias de jogos, o sustento de mais de 20 mil pessoas que moram na favela depende dos jogos do Vasco no estádio”.

A manifestação de Anielle Franco surge após o Vasco ter recorrido à justiça em Brasília para desfazer a decisão da Justiça Comum do Rio e depois de milhares de adeptos do clube terem assistido, simbolicamente, ao jogo entre o Bahia, de Renato Paiva, e o Cruzmaltino, em ecrãs gigantes junto ao São Januário.