Extremo do Rio Ave confessa que o impedimento de inscrever jogadores dificultou o início da temporada dos vila-condenses, mas sublinha que o grupo «encontrou soluções» para sair da fase «menos positiva»
Ukra, que cumpre a segunda passagem pelo Rio Ave, desde que regressou a Vila do Conde em 2021, proveniente do Santa Clara, admite que não têm sido tempos fáceis para o emblema vila-condense.
Em entrevista ao jornalista francês Rémi Martins, o jogador de 35 anos reconhece dificuldades no início «atípico» da época, sobretudo pela impossibilidade de inscrever atletas, que atiraram os vila-condenses para os lugares perigosos da tabela da Liga: «Sabíamos que ia ser uma época atípica, porque sabíamos que não íamos ter a possibilidade de inscrever jogadores. Mas tínhamos uma coisa a nosso favor, que era um grupo que já vinha do ano anterior, já nos conhecíamos. Começou esta época e parecia uma continuação da época passada, porque não entrou nenhum jogador novo. Obviamente que pensávamos que iríamos ter mais pontos do que aqueles que temos agora. Passámos por uma fase menos positiva, mas existe espírito, entrega, entreajuda e compromisso entre os jogadores e para com o clube. Agora, nos últimos dois jogos fizemos quatro pontos, e encontrámos as soluções para sairmos deste momento menos positivo», vinca.
Sobre a recente aquisição de 80 por cento da SAD do clube por parte de Evangelos Marinakis, que significa um investimento em reforços já em janeiro, Ukra confirma que o plantel já sabia de antemão acerca da possibilidade de chegarem caras novas no mercado de inverno: «Era algo que nós sabíamos que estava a ser tratado, pela presidente. Nós dizemos que o Rio Ave é uma família, e realmente é, porque em casa, quando queremos encontrar uma solução, juntamos sempre as pessoas, e aqui é mesmo assim. A presidente falou com os jogadores, com os capitães, e com toda a estrutura. Nunca nos escondeu qual era a solução de que estava à procura. Sabemos que hoje em dia, o futebol moderno é isto: investimento, potenciar e vender. Se queremos modernizar-nos, temos de seguir os passos de todos os clubes, e aquilo que acontece no futebol. Nós, enquanto jogadores, estamos tranquilos e confiantes, porque sabemos que aquilo que a presidente está a fazer é para o bem de todos. Isso permite-nos estarmos focados naquilo que temos de fazer, que é jogar dentro do campo».
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O antigo extremo do FC Porto recorda a passagem pelos dragões, na qual não acredita que pudesse ter feito mais: «Muita gente já me fez essa questão, mas não acredito. Sempre dei o máximo de mim, desde que estou no futebol profissional. O ano em que estive no Porto foi o ano em que ganhámos tudo, com o mister André Villas-Boas. Tínhamos o Hulk em grande forma, o Varela em grande forma, o James, o Cristian Rodríguez.... Tínhamos muita gente de qualidade para a minha posição. Mesmo jogando pouco, aprendi diariamente. Treinares com jogadores daquela qualidade permite aprender receções orientadas, como encarar os defesas, pensar mais rápido, muitas coisas. Não só com jogadores da minha posição, mas com todos, cada um tinha as suas características. Se formos inteligentes ou 'ratos', aprender um pouco de cada um pode permitir-nos formar opiniões e tomar decisões em função de todos os jogadores. Na altura, eu quis sair do Porto, e o André Villas-Boas não queria que eu saísse, disse que eu era preponderante para a equipa. Olhando para trás, Isso deixa-me muito feliz e orgulhoso por ter passado pelo Porto, apesar de ter jogado pouco».
O jogador de 35 anos foi questionado sobre a candidatura de Villas-Boas à presidência dos azuis e brancos, algo que não «esperava», quando esteve no plantel dos dragões, há 13 anos: «Nunca pensei nessa possibilidade. Na altura, apanhei o Villas-Boas em 2010, e sabia do amor dele pelo Porto, mas nunca pensei que pudesse ser presidente. O Pinto da Costa tem feito um trabalho fantástico, pelos títulos que tem desde que se tornou presidente, mas sabemos que tudo o que começa tem um fim. Não sei quando será o fim, mas como na vida, nós nascemos e morremos, uma relação começa e acaba. Tudo na nossa vida tem um fim. Não sei qual vai ser o desfecho, mas daquilo que conheço do André, sinto que tem competências para liderar o Porto. Está nas mãos dos sócios do Porto, mas certamente que, com um ou outro, o clube vai ficar bem entregue».
Acerca dos desacatos na Assembleia-Geral dos dragões, Ukra frisa que «não gosta de ver confusão», em qualquer clube: «Isso não faz parte da minha filosofia de vida. Aliás, quando há confusões ou 'stresses', é algo que me incomoda, que me deixa um pouco desconfortável. Obviamente que fico triste, porque são situações que ninguém gosta de ver».
O jogador dos vila-condenses soma uma internacionalização pela Seleção A, quando foi lançado por Fernando Santos, em 2015, frente a Cabo Verde: «Só o facto de o meu trabalho ser reconhecido e ter sido chamado para jogar um amigável, deixa-me feliz e realizado. Não importa se foi só uma vez. Todos os colegas que tive ajudaram-me a realizar esse sonho. Se não fosse à seleção, não iria ficar triste. Dou sempre o melhor de mim, todos os dias. Há jogadores que se calhar têm mais capacidade do que eu e não vão chegar à seleção. A vida de jogador é mesmo assim. O importante é dar o melhor de nós todos os dias, sermos bom colega... Eu valorizo muito isso. Eu quero acabar a carreira e não quero que digam que fui bom jogador. Quero que digam que fui boa pessoa. Até hoje nunca pisei nenhum colega meu para jogar. É por isso que eles olham para mim com admiração e respeito. Muitas vezes preocupo-me mais com eles do que comigo próprio», sublinha.
Veja aqui a entrevista completa de Ukra, no canal oficial do jornalista Rémi Martins: