CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Tolerância como o barril de petróleo: abaixo de zero! (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL23.04.202014:28

O desporto é importante para a sociedade, e vai ter contributo assaz relevante nos próximos tempos, quando tiver o condão de devolver às pessoas o sentido de normalidade entretanto perdido.

A pensar num regresso, globalmente previsto à porta fechada, várias modalidades vão estudando já fórmulas que minimizem os riscos, cada uma adaptada à sua especificidade. Por exemplo, no ténis, para evitar contágio através da bola, está em cima da mesa a obrigatoriedade de uso de uma luva, para a mão que não segura a raqueta, enquanto que no golfe é admitida a possibilidade de se jogar sem bandeiras nos buracos, para evitar o manuseamento habitualmente feito pelos jogadores ou pelos ‘caddies’. Outras formas inovadoras de recuperar algum tempo e espaço estão na forja, mais fáceis nos casos, por exemplo, dos desportos motorizados, desde que prescindam de espetadores, do que nessa fantástica modalidade que é o ciclismo, não só pela proximidade entre os competidores, mas sobretudo pela dificuldade de aplicar o princípio da porta fechada a um desporto que vive nas ruas.

Curiosamente, em relação aos Jogos Olímpicos, os mesmos responsáves que durante meses insistiram na possibilidade de haver competição em julho deste ano, são agora os primeiros a sair da toca levantando dúvidas quanto à praticabilidade da grande festa do desporto mundial em 2021...

Mas fiquemo-nos, para já, por um horizonte mais próximo: está previsto, para finais de Maio, uma volta de golfe que poderá ficar na história; Phil Michelson e Tiger Woods, vão jogar a pares com dois ‘quarterbacks’ lendários do futebol americano, Tom Brady e Payton Manning, em local ainda a anunciar (mas evidentemente sem público), numa ação solidária que angariará muitos milhões em tempo de crise.

E este também será um papel reservado ao desporto no ‘day after’, virado para o bem comum e para ações inclusivas.

Porque, convenhamos, se já havia pouca paciência para guerras bacocas de alecrim e manjerona em torno dos temas risíveis da clubite mal amanhada, agora, colocando tudo em perspetiva, a tolerância ficou um bocadinho como o barril de petróleo há dois adias, abaixo de zero.