ENTREVISTA A BOLA «Também foi por influência do Cristiano que a minha carreira cresceu»

Lateral explica porque diz que fica mais rico sempre que convive com o capitão da Seleção

— Após o Europeu existia a dúvida se o Cristiano Ronaldo ia continuar na Seleção. Continuou, e voltou aos golos nesta primeira data de seleções. Como é que o Diogo viu este regresso aos golos? Já está à espera de jogar o Mundial com o Cristiano?

— Ele tem sempre essa capacidade de — se calhar nas horas em que mais duvidam dele, quando surgem mais perguntas — responder da única e melhor maneira que sabe: a jogar futebol e a fazer golos. Foi isso que mostrou a carreira toda e vai continuar a mostrar, quando chegar a hora de terminar, ou de não continuar, será o primeiro a querer fazê-lo, mas está mais do que capacitado para ajudar Portugal e o clube onde está. Isso tem sido bem visível estes últimos meses.

— O Diogo teve uma declaração muito curiosa, em entrevista recente a Rio Ferdinand, quando disse que sentia que ficava mais rico sempre que estava com o Cristiano. São sobretudo conselhos desportivos, ou são mais conversas sobre a vida, em geral?

— É um pouco de tudo. Não é todos os dias que tens capacidade de privar com pessoas com a dimensão que o Cristiano tem. A dimensão futebolística é gigante, mas o alcance, a influência que ele tem junto das pessoas, é muito grande também. Podíamos ter aqui os dois lados da moeda, uma influência positiva ou negativa, mas no meu caso foi uma influência bastante positiva. Tive a capacidade de retirar o melhor que ele tem para dar, futebolisticamente, pela experiência que tem. Está constantemente à procura de melhorar, dentro e fora de campo. Identifico-me bastante com isso, e ele também se identificou com o facto de eu querer aprender, de gostar de estar perto dele, de retirar aquilo que ele tem de melhor. Isso fez com que a amizade fosse crescendo, que os momentos fossem cada vez mais. Foi muito positivo para mim, e desde o momento em que o conheço que a minha carreira também tomou um rumo crescente, e acho que também foi por influência dele.

Cristiano Ronaldo e Diogo Dalot no Manchester United (IMAGO)

— E que dimensão teve a influência de Zlatan Ibrahimovic, com quem privou no Milan, e que até incentivou o seu investimento num complexo de campos de padel?

— Lá está: tentar, ao máximo, retirar coisas de todas as pessoas, e não apenas de figuras de influência maior. De todos os colegas. Consegues sempre retirar algo das pessoas, que têm experiências de vida diferentes, interessantes. Foi outro grande jogador com quem partilhei o balneário e, por passar bastante tempo com ele, no Milan, surgiu essa paixão em comum pelo padel, e foi também muito por encorajamento dele que decidi avançar num grande projeto. Estou extremamente feliz por essa oportunidade também.

— E como está a correr esse projeto?

— Bastante bem. O padel é o desporto mais em crescendo, na atualidade, e isso é importante, pois consegues ter vários bons momentos quando vais fazer um jogo. Tem sido uma modalidade bastante interessante para mim, para experienciar outras coisas para além do futebol, que também é positivo. Tem sido bastante benéfico para a minha vida.

Dalot com Zlatan Ibrahimovic, no Milan (IMAGO)

— Depois de pendurar as chuteiras vai agarrar a raquete de padel?

— [Risos] Não sei. Durante a época não sou grande fã de jogar, para salvaguardar a minha parte física, mas nas férias sou o primeiro a querer treinar um bocadinho e a querer fazer outras coisas, que é benéfico para nós.

Dalot na inauguralão do Padel Athletic Club (PAC), no Porto (foto: Eduardo Oliveira)

— Esses cuidados fora do campo revelam-se também na alimentação. Tem sido uma preocupação crescente, certo?

— Faz parte do nível em que estou. Essa exigência de tratar bem do meu corpo e da minha mente é importante, dada a posição em que estou, do desporto que estou a praticar, e também para a saúde. É um dos pontos em que gosto mais de me focar. Se estiver bem de saúde, vou estar bem mentalmente e fisicamente. É tudo uma consequência, um ciclo que tento aproveitar a máximo para estar ao melhor nível possível.

— O Diogo foi pai há quase um ano. O que isso mudou no jogador?

— Boa pergunta. Mudou o Diogo fora de campo, claro. É uma experiência que muda a tua vida. Começas a ter perspetivas diferentes, prioridades que alteram, mas acima de tudo ganhas um amor por uma pessoa em que és capaz de fazer tudo por ela. Esse sentimento é especial. Começas a compreender também um pouco melhor os teus pais, aquilo que fizeram e continuam a fazer por ti. É toda uma experiência nova, que achas que sabes antes, mas só depois é que começas a sentir aqueles sentimentos.

— Esse sentimento de fazer tudo por alguém passa para o campo?

— Sim. Se já tinhas a sensação de ir para o campo por ti, pelos teus pais, pela tua mulher, pela tua família… passas a ter alguém mais, com um peso bastante grande, pois sabes que o futuro dela pode depender daquilo que estás a fazer, e acima de tudo do exemplo que estás a dar. Ela ainda só tem 10 meses, é difícil perceber o que estou a fazer, mas espero que um dia olhe para o pai como um grande exemplo.

— Tive a oportunidade de cruzar-me com a família do Diogo no Euro. Fiquei com a ideia de um apoio muito discreto, mas muito eficaz, muito presente. É assim?

— Sim. Tive a felicidade de ter a família sempre presente. Foi uma das minhas maiores virtudes, ou sorte, ter sempre os meus pais e a minha irmã presentes, e agora a minha futura mulher também. É a eles que me agarro, a quem devo tudo, e ajudam-me diariamente para estar nas melhores condições. Também por eles faço isto.

— A sua irmã Mariana canta, está a crescer no mundo da música. As canções dela acompanham o irmão nos jogos ou nos estágios?

— Não diria que é o estilo de música para ouvir antes de um jogo, mas em momentos em que preciso de relaxar mais, de pensar noutro tipo de coisas, distrair-me do stress e da exigência do futebol, sem dúvida que a calma e a tranquilidade que ela passa, como pessoa e na música, é importante.

— Se tivermos um jogo do Diogo no mesmo dia de um concerto da Mariana, como fazem os pais?

— Ou dividem-se, ou não há problema, vão só a um dos eventos. Não há problema, sabemos que estão sempre lá para nós, se não estiverem presentes, estão em mente.