Taça de Portugal, FC Porto, os 'inimigos' Deco e Rui Costa, e o filho Afonso: Ricardo Sousa abre o coração
Nesta entrevista exclusiva a A BOLA, Ricardo Sousa falou do presente e recordou o passado. (Foto: D. R.)

ENTREVISTA A BOLA Taça de Portugal, FC Porto, os 'inimigos' Deco e Rui Costa, e o filho Afonso: Ricardo Sousa abre o coração

Já com uma década de carreira enquanto treinador, antigo médio-ofensivo recorda grandes momentos nos relvados e não esconde a amargura por não ter chegado à Seleção A

Regressar a Portugal é um objetivo? Que sonhos de carreira tem?

O regresso a Portugal está sempre dentro das minhas pretensões. Desde que seja para um projeto vencedor, que me faça lutar por algo. E também foi por isso que coloquei uma cláusula no meu contrato cá na Arábia que me permite regressar a Portugal caso surja essa possibilidade. Sonhos no futebol europeu? A minha cadeira de sonho vai ser sempre a do Borussia Dortmund. É uma equipa que eu adoro ver jogar há muitos anos. Fique fã do Dortmund desde a altura em que o nosso Paulo Sousa jogou lá e, depois, de eu próprio ter jogado no campeonato alemão.

Recuando à época 1998/1999, ofereceu uma Taça de Portugal ao Beira-Mar…  

Esquerdino tocou o céu quando representou o emblema aveirense. (Foto: ASF)

É um dia que nunca vou esquecer [19 de junho de 1999]. Principalmente por ter ganho uma Taça de Portugal por um clube dito pequeno, mas por um clube que é muito meu, como é o Beira-Mar, e juntamente com o meu pai [António Sousa] enquanto treinador. Era algo inimaginável. Foi uma alegria muito grande, um prazer poder oferecer uma Taça de Portugal ao meu pai e que ele merecia. Foi o nosso maior pilar durante toda a época, se não fosse ele, não teríamos conseguido.

Depois disso, vence a Supertaça pelo FC Porto e jogou também no estrangeiro. Foi a carreira com que sonhou ou foi a carreira possível?

Ricardo Sousa num duelo com Paulo Gomes, durante um FC Porto-Vitória de Guimarães. (Foto: ASF)

Na altura era muito mais difícil ser jogador do que é hoje. Com 19 ou 20 anos já tinha 30 golos na Liga. Se isso acontecesse atualmente, se calhar era vendido por muitos milhões de euros. Quando cheguei ao FC Porto, depois de uma boa época no Beira-Mar, diziam que ainda era novo e que tinha de amadurecer. Mas fico extramente satisfeito com a carreira que acabei por fazer. Consegui impor-me no futebol nacional, tive muito boas experiências no futebol internacional, passei por um dos melhores campeonatos do mundo, como é o alemão, que tem muita qualidade. Olho para trás e sinto orgulho na carreira que fiz. Se podia ter feito um bocadinho mais? Já assumi isso muitas vezes.

Foi internacional jovem por Portugal e chegou à então Seleção B. Ficou a faltar a Seleção A?

Estive nas seleções nacionais desde os meus 15 anos, recordo que nessa altura só iam jogadores de Benfica, Sporting, FC Porto e Boavista, nem o SC Braga nem o Vitória de Guimarães conseguiam meter jogadores nas seleções nacionais, e eu, a jogar na Sanjoanense, era sempre chamado à Seleção Nacional. Só aos 18 anos é que acabei por ir para os juniores do FC Porto. Fui construindo a minha carreira a pulso e não ter jogado na Seleção Nacional A foi um desgosto, sem dúvida. Senti-me injustiçado. Numa época no Beira-Mar fiz 13 golos e 20 assistências, fiz do Fary o melhor marcador do campeonato português, no ano a seguir fui para o Boavista e acho que fiz a minha melhor época de sempre, também com 14 ou 15 golos. O Scolari já me tinha dito que eu ia ser chamado à Seleção Nacional, e já depois de ter recebido o prémio de melhor jogador do campeonato português surgiu a naturalização do Deco. Isso fechou-me as portas da Seleção Nacional. O Scolari foi uma pessoa muito aberta e frontal e justificou-me a decisão dizendo que ia levar dois números 10 para o Euro 2004, o Rui Costa e o Deco. Era muito difícil conseguir ombrear. Aceitei, mas fiquei triste, foi um amargo que senti. Lutei muito para estar presente num Europeu que era um dos mais importantes, por ser jogado no nosso País, era algo que iria dar-me muito prazer, mas infelizmente não o consegui fazer.

É um pai orgulhoso pelo trajeto do Afonso?

Sim, o Afonso também cresceu a pulso e tem conseguido impor-se em todas as equipas por onde tem passado. Chegou ao FC Porto muito cedo e impôs-se, ganhou a Youth League como todo o mérito, numa equipa extraordinária com Romário Baró, Vitinha, Fábio Vieira, João Mário, depois fez uma segunda liga fantástica, com 9 ou 10 golos. Seguiu para um projeto difícil, no Belenenses, no segundo ano de sénior, onde também se impôs, e agora chegou ao maior clube polaco, onde tem conseguido, de ano para ano, melhorar as suas exibições. Este início de época está a ser fabuloso e espero que isso a ajude a continuar a sua progressão. Eu sei que ele também ambiciona jogar outro tipo de campeonatos, já recebeu propostas para isso, mas, infelizmente, o Lech [Poznan] foi irredutível e não quis negociar com nenhum clube porque gostam muito dele. Mas ele é um menino que não vira a cara à luta, está sempre pronto para enfrentar todas as dificuldades que possa ter, e estou certo que ainda vamos ouvir falar muito do nome do Afonso.

Afonso Sousa está atualmente ao serviço dos polacos do Lech Poznan. (Foto: IMAGO)