CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Se alguém tem uma solução melhor, que dê um passo em frente… (artigo de José Manuel Delgado)
Os dados estão lançados e é sabido que o futebol da I Liga voltará a partir de junho, assim não haja nenhuma subida exponencial de novos contágios e seja cumprido o caderno de encargos das autoridades sanitárias.
Nestes tempos tão estranhos e dramáticos, quando o que está em cima da mesa é a sobrevivência dos clubes, haverá concessões a fazer, inevitáveis em nome de um bem maior.
Parece pacífico que seja a Direção Geral da Saúde, por exemplo, a dizer quais os estádios que têm condições para acolher os jogos, sabendo-se que haverá necessidades de espaço diferentes daqueles a que estávamos habituados, quer nos balneários, quem nas zonas em que os jogadores serão sujeitos a testes rápidos. E quanto a estes, em cima da mesa estarão as colheitas na nasofaringe, que estão já em prática para os profissionais de saúde e que se revelam altamente fiáveis. Também parece incontornável que os dois clubes insulares joguem no Continente, em nome da saúde pública. Não é agradável, é também pouco justo, mas se houver alguma outra solução que possa ser colocada em prática, que venha ela. Sinceramente, não vejo como. Em jeito de brincadeira, podemos até dizer que, finalmente, os dez estádios do Euro 2004 vão servir para alguma coisa…
Sejamos otimistas e pensemos que é possível levar esta empresa de 90 jogos e da final da Taça a bom porto. E admitamos que, com mais ou menos ranger de dentes, a II Liga fica como está, e sobem os dois primeiros e descem os dois últimos. Fechada esta gaveta, deve abrir-se, de imediato, outra muito mais relevante, a de repensar este escalão dito profissional, que tem tão poucas condições de viabilidade. O dinheiro das televisões é residual, as bancadas apresentam, quase sempre, um aspeto deprimentemente vazio, a quotização é insignificante e vão valendo alguns apoios dos municípios e de alguma indústria. Mas não faz sentido, creio, manter este modelo competitivo, tão megalómano e tão desajustado da realidade.
Deste problema, que saia uma oportunidade de fazer melhor. E aproveitando o balanço, este será também o momento ideal de reformatar o Campeonato de Portugal onde 72 equipas lutam por duas vagas de promoção.
PS – Até que haja vacina e seja retomada a vida mais ou menos como a conhecíamos, muitos desafios vão ser colocados aos operadores televisivos. E muitas dúvidas vão levantar-se, desde a possibilidade de jogos em sinal aberto, aos preços praticados. E volto a uma ideia que tem sido um cavalo de batalha das minhas intervenções de há muitos anos (muitos mesmo…) a esta parte: não aproveitar a conjuntura para avançar para um modelo centralizado da venda dos direitos televisivos, adaptado à realidade específica de Portugal, será um erro histórico que os clubes muito virão a lamentar.