Saudita faz apelo aos craques após execução do irmão: «Ficarão manchados de sangue!»
Yasser al-Khayat envia cartas às principais estrelas da Liga da Arábia Saudita, de Cristiano Ronaldo a Neymar, passando por Jorge Jesus ou Nuno Espírito Santo, a denunciar as violações dos direitos humanos no país. Jornal inglês publicou a dramática mensagem enviada a Gerrard e Henderson
Yasser al Khayat é natural da Arábia Saudita e luta há muito tempo contra as constantes violações dos direitos humanos no país. E, desde que o seu irmão, Mustapha, foi executado, juntamente com outras 80 pessoas, pelo regime por ter participado, em março de 2022, numa manifestação em Riade pela democracia, o ativismo de Yasser tornou-se ainda mais intenso e, desde então, que tem aproveitado a visibilidade mundial das competições desportivas para denunciar os abusos e as centenas de mortes e apelar às estrelas que têm chegado à Arábia Saudita para que divulguem as atrocidades cometidas por ordem dos líderes do país.
Fê-lo em fevereiro deste ano, antes da final da Taça da Liga de Inglaterra, entre Manchester United e Newcastle, enviando uma carta ao plantel deste último emblema, adquirido pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita liderado pelo príncipe Mohammed bin Salman; fê-lo em março, com nova missiva dirigida ao diretor-executivo (CEO) da Fórmula 1 em vésperas do GP de Jeddah, recordando que o mesmo Grande Prémio em 2022 aconteceu apenas alguns dias após a execução de 81 manifestantes pró-democracia, entre eles o irmão; tal como já fizera meses antes, apelando ao presidente norte-americano Joe Biden para que este denunciasse os abusos durante a sua visita ao país.
E voltou, de novo, ao ataque no passado domingo, enviando várias cartas às principais figuras estrangeiras que, no último ano, se transferiram para clubes sauditas, de Cristiano Ronaldo e Neymar, passando por Jorge Jesus, Nuno Espítito Santos ou Benzema. A imprensa inglesa teve acesso ao texto enviado a Steven Gerrard e Jordan Henderson, respetivamente treinador e capitão do Al-Ettifaq, emblema detido pelo ministro dos desportos saudita, e que esta segunda-feira jogou para a Taça do Rei da Arábia Saudita… Uma carta que pode ler abaixo, na íntegra.
«Caros senhor Gerrard e senhor Henderson, esta segunda-feira a vossa equipa disputa a Taça do Rei. O monarca a quem este troféu é dedicado é o rei Salman. Desde que chegou ao poder com o seu filho, Mohammed bin Salman, em 2015, o seu regime executou mais de mil pessoas. A média anual de execuções quase duplicou durante o reinado deles. A taça que vão disputar é um tributo a esta família. Se vocês chegarem à final e ganharem, vão levantar um troféu em sua honra. Isto não é apenas mais uma taça numa longa carreira, é um exercício de lavagem desportiva por parte da Arábia Saudita dos seus abusos dos direitos humanos.
Enquanto vos escrevo, dois homens, Abdullah al-Derazi e Youssef al-Manasif, estão no corredor da morte por crimes que foram acusados de cometer quando eram crianças. Ambos foram torturados e obrigados a assinar confissões
Se vocês vencerem a Taça do Rei, as medalhas que tiverem no vosso pescoço estarão machadas pelo sangue das pessoas mortas por esta família, vocês próprios ficarão manchados de sangue. Para mim é uma questão pessoal porque no ano passado o meu irmão Mustafa foi um dos executados pela Arábia Saudita, ele foi uma das 81 pessoas mortas num dia, a maior execução em massa da história do país; e mataram-no porque foi a uma manifestação em defesa dos direitos humanos. Muitos outros foram executados pelo mesmo motivo.
Alguns dos que morreram eram crianças, acusadas de crimes capitais, apesar da idade. Enquanto vos escrevo, dois homens, Abdullah al-Derazi e Youssef al-Manasif, estão no corredor da morte por crimes que foram acusados de cometer quando eram crianças. Ambos foram torturados e obrigados a assinar confissões. Vão morrer a qualquer momento. Se falarem disto, vocês podem salvar as suas vidas. Como figuras públicas no país, as vossas vozes podem colocar pressão sobre a família real saudita.
Vocês não assinaram apenas para jogar futebol, vocês assinaram para fazer uma lavagem desportiva da reputação sangrenta que eles têm. O seu fundo soberano financia a Saudi Pro League e paga os vossos salários, mas vocês não devem deixar a família governante comprar o vosso silêncio.»