Entrevista A BOLA Rui Almeida: «Lembro-me de treinadores que foram avisados de demissões pelo twitter»
Técnico tenta explicar saída do Al Batin, fala dos projetos na Arábia Saudita e recorda passagem no Egito e na Argélia
Rui Almeida foi adjunto de Jesualdo Ferreira, antes de rumar numa carreira a solo. Terminada uma curta passagem no Al Batin, da Arábia Saudita, o técnico português explica a saída, que descreve como «inacreditável» e relembra a paixão que viveu no Egito, ao serviço do Zamalek.
- Que aspirações tem para o futuro próximo?
- Uma coisa que eu realmente desejo, desde o momento em que deixei de trabalhar com o professor [Jesualdo Ferreira], é chegar a muitos campeonatos de topo. Neste momento, trabalhar - porque trabalhei com o professor na Champions League e na Europa League - como treinador principal nesses níveis. Na Europa, treinar. Fora da Europa, voltar a ganhar títulos, como aqueles que ganhei no Zamalek.
- Esteve até há pouco tempo no Al Batin, depois de cinco jogos, foi demitido. O que justifica isso?
- É respondido por alguns treinadores que saem de lá e não percebem muito bem porquê. Estávamos na zona de promoção. A direção decidiu prescindir de nós e desde então não ganharam mais e estão na zona de descida neste momento. Deram a justificação de quererem melhorar, mas estávamos dentro, claramente, do objetivo, que era entrar nos lugares de subida, porque o Al Batin é um clube histórico. Nos últimos 14 anos, só duas vezes tinha estado na segunda divisão. Há coisas que não se percebem, mas eu lembro-me de treinadores que foram informados pelo Twitter e pelas redes sociais [da demissão]. Pelo menos, fui informado pessoalmente… Estávamos a fazer um trabalho interessante. De certeza que o problema não era o treinador, porque o clube, neste momento, está numa zona de descida. É uma coisa inacreditável.
- O que leva tantos treinadores portugueses para a Arábia Saudita? É uma questão puramente monetária ou o projeto desportivo começa a crescer?
- Pessoalmente, foi questão de experimentar. Achei que era interessante, depois de vários mercados e da presença na Europa, já tinha estado no Egito também, tinha estado na Argélia, já tinha conhecido o mundo árabe. Dada esta publicidade em relação à Arábia Saudita, eu disse ‘ok, vou tentar’, e surgiu a oportunidade, na segunda liga, mas num clube histórico. Coloquei algumas restrições a outros clubes, queria, claramente, um clube que desse acesso à subida de divisão. E achei interessante. Agora, é um mercado que, claramente, teve uma grande mão do Cristiano. A explosão do mercado saudita roda muito à volta do Al Nassr. Daquilo que o Cristiano fez, e agora dos outros clubes, nomeadamente, os clubes do Rei, o Al Nassr, o Al Hilal, e outros cinco, seis clubes. Havia o Neom na nossa divisão, que também é um clube do Rei e esses têm uma presença financeira muito grande. Mas eu acho que, enquanto durar, é um mercado interessante, até porque tem boas condições de trabalho, os clubes têm boas condições de trabalho. O Al Batin tem condições de nível europeu. A única coisa é que, realmente, não há muitos adeptos nos estádios, tirando em três, quatro clubes.
- Há muitas diferenças dentro do mundo árabe, da Arábia Saudita para o Egito, por exemplo?
São mundos distintos. Aquilo que eu sinto de grande diferença do Egito, da Argélia, para a Arábia Saudita, é a paixão. A paixão do adepto em relação ao futebol. É uma paixão gigante. E vive-se no estádio. Vive-se a pressão do jogo.
- Como é que viveu a luta por títulos no Zamalek?
- A melhor forma que tenho para responder a essa pergunta é a seguinte: no dia a seguir a ganharmos, abrimos um treino. Os treinos eram fechados. Estavam 50 mil pessoas para um treino. Invadiram tudo. Portanto, não houve treino. Essa é a paixão do povo egípcio. É realmente muito grande. Mas há pressão. Há pressão para ganhar. No JSK [da Argélia] há pressão para ganhar, porque o JSK é o clube com mais títulos na Argélia. É uma zona muito específica da Argélia. Então, a paixão é exacerbada, completamente exacerbada. Vai para lá da questão futebolística.
- Nota grande diferença da paixão do adepto egípcio, por exemplo, para o português?
- Eu acho que tem a ver com os clubes grandes. Os clubes grandes têm sempre paixão. E a paixão é uma coisa fabulosa. Obviamente, é isso que move o futebol. Mas, naturalmente, querem resultados. E querem que a equipa jogue bem. Não basta ganhar, querem que a equipa jogue bem. Sentimos isso no Sporting, no Braga, no Panathinaikos era igual. Seja onde for, o clube grande tem similitudes muito próprias. Quer ganhar, de preferência, jogando bem e estar no topo da classificação. Essa é a pressão dos clubes grandes.