Entrevista A BOLA Rui Almeida e o mercado de treinadores em Portugal: «Há pouco tempo e pouco espaço»
Treinador português recorda os três meses em que esteve ao comando do Gil Vicente, marcados pela morte do diretor-geral e pela pandemia de COVID-19
Na Liga Portuguesa, Rui Almeida contou apenas com uma breve passagem enquanto treinador principal. Foi na época 2020/21, ao comando do Gil Vicente, durante três meses e sete jogos marcados pela instabilidade, não só provocada pela pandemia de COVID-19, mas também pela morte de Dito, diretor-geral. Diz Rui Almeida que a sua saída foi um espelho do que acontece no campeonato, dado o «pouco espaço e pouco tempo». O técnico português mostra-se disponível para voltar a trabalhar em Portugal, mas reforça que só no final de uma época ou de um contrato é que «a pessoa pode ser avaliada».
- Esteve três meses à frente do Gil Vicente, numa altura que ficou marcada pela morte de Dito, diretor-geral, e pela pandemia de COVID-19. Como foi trabalhar nesse ambiente?
- O sucesso para mim é sempre se a pessoa terminou o trabalho. Se não terminou, não fazem ideia do que é que vai acontecer. Há uma coisa que é clara em relação ao Gil: fui convidado pelo Dito e infelizmente aconteceu aquela tragédia. Depois, o diretor desportivo que estava decidiu tomar outra decisão em relação ao diretor-geral. Nesses sete jogos, jogámos com Porto e Sporting fora. Acima de tudo, não é nenhuma novidade em relação àquilo que está a acontecer neste momento na Liga: pouco espaço, pouco tempo. Tive alguns clubes em França. Na maioria, terminei o contrato. Ou fiquei até ao final de uma época. Aí é que a pessoa pode ser avaliada.
- Sente que merecia mais tempo?
- O tempo é o de perceber, em relação àquilo que foi construído… tanto que houve muitos jogadores que estavam e acabaram por sair maximizados. Acima de tudo, há que perceber que não tem nada a ver com o treinador, tem a ver com decisões de política do clube. Mas acho que, transversalmente, as coisas têm de ter sempre um seguimento em relação àquilo que é. E verificamos que, quando há essa continuidade, o trabalho acaba por acontecer.
- Sente que é dado pouco tempo aos treinadores nos campeonatos portugueses?
- Acho que é questão de uma pessoa se adaptar ao plantel que está, ou conseguir levar o plantel, ou conseguir escolher um bocadinho o plantel, ou conseguir maximizar as suas ideias através dos jogadores que possa trazer. No caso, é sempre uma questão de nós conseguirmos chegar ao fim. Esta questão de ter articulação vertical nos clubes é fundamental para o sucesso. Naturalmente vou à direção, mas entre diretor desportivo e o treinador é fundamental, porque isso tem uma articulação diária no clube. Só assim se pode maximizar um projeto que se quer para o clube. Foi isso que foi o desafio, porque, na verdade, foi para isso que o Dito me desafiou. Provavelmente eu não tinha vindo a Portugal [de outra maneira], não sei. Normalmente, é a direcção que escolhe e nos leva. Em França, tive essa felicidade com o diretor desportivo, que já conhecia de outros locais. Quando me levou, sabia muito bem aquilo que eu queria e eu sabia o que é que ele queria. Alguns jogadores foram contratados em função daquilo que nós tínhamos como ideia para a equipa. Sabíamos que havia exigência, o clube tinha descido de divisão, ia haver alguma exigência da parte dos adeptos em relação à forma de jogar também. Portanto, foi isso que foi feito.
- Aceitaria um projeto em Portugal, primeira ou segunda liga?
- Em Portugal, sim. É um meu país, claro que sim. Mas perante algumas questões de articulação. Que cultura tem o clube? Nos anos anteriores, subiu, desceu, subiu e desceu quantas vezes? É no norte? É no sul? Isso, depois, leva a pensar. Tenho tido alguns mercados, essas janelas vão estando abertas.