OPINIÃO DE DUARTE GOMES Dois esclarecimentos técnicos sobre o jogo de Barcelos
A precipitação de André Narciso ao assinalar o pontapé de penálti no Gil Vicente-Sporting e a bola que bateu nas costas do árbitro
I. A maioria conhece a regra, mas nunca é demais repeti-la: os árbitros não devem aplicar a vantagem em lances passíveis de pontapé de penálti. Mas essa recomendação não anula a possibilidade de tentarem fazer um compasso de espera para verem o desfecho do lance. Uma espécie de retardar da decisão, como se o braço estivesse pesado e demorasse algum tempo a levar o apito à boca. Esse delay é sugerido porque, às vezes, acontece um golo imediatamente a seguir à infração do defesa. E assinalar um castigo máximo quando a bola entrou ou está na iminência de entrar na baliza do infrator é mau para todos. É mau para o jogo, é mau para a equipa lesada, é mau para o jogador que marcou e é mau para o próprio árbitro, que percebe que foi infeliz no tempo de intervenção. A questão é que, lá dentro, no calor do jogo e perante lance tão determinante, é muito difícil conter esse impulso, o de querer fazer justiça com celeridade. Ou seja, não é fácil evitar a decisão quando há a perceção clara (ainda que errada) que um defesa comete falta sobre um atacante na sua área. Não se trata de arranjar desculpas ou explicações. É mesmo assim. É aliás quase certo que a maioria dos árbitros mais experientes, aqueles que têm muitos jogos no currículo, já passaram por essa desagrável experiência.
Este esclarecimento surge na sequência do lance da jornada passada, entre Rúben Fernandes e Debast (Gil Vicente-Sporting CP).
Como se recordarão, o árbitro da partida assinalou erradamente um pontapé de penálti, na presunção que o capitão dos visitados tinha derrubado o adversário, de forma irregular. Confesso que, à primeira vista, fiquei exatamente com a mesma impressão. Quando apitou, André Narciso não percebeu que Francisco Trincão tinha ficado de posse de bola e com clara possibilidade de marcar para o Sporting. A boa vontade em tomar a decisão correta o mais rapidamente possível retirou-lhe o nervo necessário para aguentar só mais um bocadinho. Não se pode falar em erro, apenas em precipitação.
Há algo que importa sublinhar a este propósito: assim que o árbitro de Setúbal assinalou o penálti, vários jogadores do Gil Vicente pararam e desfocaram do seguimento do lance (em particular Gbane e Andrew, ambos na zona de ação). A bola entrou sim, mas sem qualquer esboço de reação da equipa defensora. É muito provável que, mesmo assim, a bola entrasse. Só não é certo nem garantido que isso acontecesse. Na verdade, não houve golo anulado, porque o árbitro parou o jogo antes.
Mas estes pormenores não anulam o essencial da jogada que aqui se pretende demonstrar: Debast ganhou o lance a Mutombo sem cometer carga sobre o costa-marfinense; Rúben Fernandes não derrubou o belga na sua área; e o árbitro não esteve bem ao apitar de imediato. De resto, mérito adicional para o VAR, por ter cumprido muito bem o seu papel.
II. No mesmo jogo e em momento menos mediático, bola rematada por um jogador da equipa da casa bateu nas costas do árbitro e saiu diretamente pela linha de baliza do adversário. A este propósito, convém aqui recordar que, quando a bola toca/desvia em algum elemento da equipa de arbitragem (que esteja dentro das quatro linhas) só deve haver lançamento de bola ao solo em três situações: quando, depois desse contacto, há golo numa das balizas; quando, depois desse contacto, é iniciado um ataque prometedor; e quando, depois desse contacto, a equipa que detinha a posse de bola perde-a para os opositores. Em todas as outras situações — nomeadamente nesta, em que a bola saiu do terreno de jogo —, a partida deve recomeçar em conformidade. Neste caso, com pontapé de baliza para o Sporting.
A todos os meus amigos um Santo e Feliz Natal. Boas Festas com muita saúde, amor e alegria.