Presidente de Angola alerta Federação: «Não matem o Girabola e o futebol»
João Gonçalves, Presidente de Angola, apela ao «bom senso» no futebol

Presidente de Angola alerta Federação: «Não matem o Girabola e o futebol»

INTERNACIONAL08.09.202317:44

João Gonçalves apelou ao «bom senso» e intervém para pôr fim à maior crise institucional do futebol angolano... Explicamos todos os pormenores deste terramoto que está a abalar Angola

O Presidente da República de Angola decidiu intervir na grave crise institucional que vive o futebol angolano e que coloca em risco não só o campeonato (Girabola) como tudo o futebol do país. Em declarações proferidas à margem de uma cerimónia oficial em Malanje, João Gonçalves fez um apelo ao «bom senso» e lançou um aviso: decidam o que decidirem, os órgãos disciplinares da Federação não podem colocar o Girabola em risco e muito menos «matar o futebol angolano». 

O audio que tramou Tramagal e gerou a confusão

Vamos fazer um resumo dos acontecimentos que levaram o Chefe de Estado Angolano a intervir. Em junho passado começou a circular nas redes sociais o audio de uma conversa de Agostinho Tramagal, treinador da Académica do Lobito. Nesse  audio è possível ouvir-se o treinador revelar que o Petro de Luanda ofereceu o equivalente a 3600 euros como incentivo para a sua equipa vencer o 1.º de Agosto, em Benguela, jogo da jornada 27 e que, no caso de derrota dos militares, permitiria ao Petro isolar-se. Disse ainda que desse dinheiro ficou com perto de mil euros e dividiu o restante pelos jogadores. Agostinho Tramagal comenta ainda que o 1.º de Agosto ofereceu o equivalente a 8500 euros para a sua equipa perder o jogo entre ambos, proposta que garante ter recusado. Mais: Agostinho Tramagal comenta que fez de tudo para a Académica do Lobito perder com o Kabuscorp em jogo da Taça, o que não aconteceu.

Conselho de Disciplina lançou «bomba»

Analisado o caso, o Conselho de Disciplina da FAF decidiu lançar uma bomba que está a colocar em causa os alicerces do futebol angolano. A saber:

1 – Suspender toda a atividade desportiva do Petro de Luanda (campeão  e clube com mais títulos em Angola) por dois anos por recusa em colaborar no apuramento dos factos denunciados por Agostinho Tramagal.

2 – Punir o 1.º de Agosto com uma multa equivalente a pouco mais de 200 euros. 

3 – Descida de divisão do Kabuscorp e suspensão do presidente Bento Kangamba por quatro anos.

4 – Descida de divisão da Académica do Lobito.

5 – Suspensão do treinador Agostinho Tramagal por quatro anos, mais o equivalente a 636 euros em multa.

A inacreditável decisão que nenhum analista entende

As reações não se fizeram esperar e todos os clubes prepararam os seus recursos. A decisão tem espantando todos os analistas, não só pela dureza de algumas delas como pela desproporcionalidade.

A suspensão por dois anos do campeão Petro é a que está a gerar maior indignição e reações. A razão foi não ter colaborado com o Conselho de Disciplina no apuramento dos factos. No fundo, se ofereceu ou não dinheiro à Académica do Lobito como incentivo a vencer o 1.º de Agosto? Situações que o presidente dos petrolíferos, Tomás Faria, desmentiu em conferência de imprensa se urgência. 

1 - Ainda que fosse verdade, como explicar que um clube que se recusa a responder ao pedido de informações do Conselho de Disciplina seja suspenso por dois anos – e estamos a falar do clube com mais títulos em Angola – e outro, o rival 1.º de Agosto, que teria tentado comprar um jogo, na denúncia de Agostinho Tramagal, seja punido com multa de 212 euros?!

2 – Qual o enquadramento legal em termos disciplinares para estas penas? Se não responder a perguntas dá dois anos de suspensão de toda a atividade desportiva, que pena para corrupção comprovada? 

3 – É razoável que o equivalente a 3600 euros para toda uma equipa chegasse como incentivo para se ganhar um jogo? Ninguém acredita, tão baixo è o valor.

4 – Podem tomar-se decisões destas sem prova conclusiva de que houve incentivo para ganhar, tentativa de corrupção ou corrupção consumada? Além das acusações de todos os visados de que não foram garantifdos os direitos à defesa, do aviso prévio à audiêcnia. 

5 – No fundo, pode um desabafo numa conversa informal ser o princípio e o fim de uma decisão com repercussões difícies de imaginar? 

Terramoto em curso

Com esta decisão, o início do Girabola foi adiado até tudo estar definido, desde logo os recursos. A Condeferação Africana de Futebol está a acompanhar o caso, até porque o Petro de Luanda – campeão angolano - é uma das oito equipas que vai participar na primeira edição da Superliga Africana. Ficar de fora seria um rombo reputacional ainda maior para o futebol angolano. Os treinadores vivem na incerteza e dificuldade de saber como continuar a preparar a equipa numa pré-época que já vai longa. Os clubes mais dependentes das receitas de bilheteira correm o risco de sentir dificuldades de tesouraria se tudo se atrasar muito… 

«A situação que se criou è grave, porque ameaça não somente o campeonato nacional, como ameaça o próprio futebol angolano em si, a Federação Angolana de Futebol e as associações provinciais, que me estão a ouvir, saberão melhor do que eu o que fazer no sentido de, repito, salvaguardar apenas duas questões: não comprometer o campeonato e não matar o futebol angolano»

O que disse o Presidente de Angola

Temendo efeitos catastróficos no futebol angolano e percebendo a irracionalidade e desproporcionalidade da intervenção do Conselho de Disciplina da Federação, foi a vez do Presidente da República de Angola entrar em campo. Uma declaração cuidada, mas entendível para quem quiser mesmo entender. 

«O futebol é um desporto nacional. A situação que se criou è grave, porque ameaça não somente o campeonato nacional, como ameaça o próprio futebol angolano em si. Portanto, considero que deve haver bom senso. Se houver necessidade de castigar algum prevaricador, que isso seja feito, mas que nunca ponha em jogo a continuidade do campeonato e que muito menos que não mate o futebol angolano. Não , posso dizer muito mais, mas a Federação Angolana de Futebol e as associações provinciais, que me estão a ouvir, saberão melhor do que eu o que fazer no sentido de, repito, salvaguardar apenas duas questões: não comprometer o campeonato e não matar o futebol angolano.»