Premier League aquece os motores (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Premier League aquece os motores (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL13.05.202014:01

O Campeonato de futebol mais rentável do mundo, a Premier League (PL) baseado num modelo de negócio de distribuição equitativa dos direitos de transmissão televisiva (o que recebe mais não chega a receber duas vezes mais do que o que recebe menos, enquanto que em Portugal essa proporção é superior a dez), bilhética em que a procura supera muito a oferta, combate sistemático aos danos reputacionais da competição, e uma internacionalização exponencial, conseguida pela possibilidade de vender um produto credível e apetecível, está finalmente a aquecer motores para tentar concluir a temporada de 2019/20. As negociações preliminares entre as partes envolvidas, PL, jogadores, árbitros, governo, autoridades de saúde e players televisivos foram mais complexos do que noutras paragens, em parte devido a uma solidez financeira que permitiu, mesmo aos menos fortes, fazer valer os seus pontos de vista.
 

Assim, apesar das conversas terem começado com a possibilidade de poucos estádios servirem para todos os jogos, essa ideia terá sido substituída pela fórmula casa/fora, já que todos os clubes possuem instalações de excelência; também as dúvidas levantadas por alguns jogadores tiveram agora resposta através de um projeto de protocolo de conduta, entregue, segundo a BBC, aos clubes, que será uma espécie de Magna Carta até ao fim deste mês de maio, prevendo-se que em junho, seguindo o roteiro enunciado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, já seja possível passar para a fase de contacto que desaguará no retorno da competição.
 

Para já, o documento que deve ser discutido hoje por jogadores, clubes e autoridades sanitárias, e que a ser aprovado levará ao início dos treinos na próxima segunda-feira, prevê que cada jogador leve o carro próprio para o treino, que não estejam em cada sessão, simultaneamente, mais de cinco jogadores, devidamente afastados, proíbe os ‘carrinhos’, exige desinfeção antes e depois do treino de todo o material – das bolas aos pontes das balizas, aos cones e demais apetrechos – e do próprio relvado. Quanto aos testes, que serão constantes, deverão ser remetidos, após autorização do Sindicato dos Jogadores, a um registo central, para aí ficarem catalogados. 
 

Há, pois, na maior parte dos países, a ideia, por parte de governos de direita, como o inglês, do centro, como o alemão, ou de esquerda, como o português, de que o regresso do desporto de competição, especialmente o futebol, concorrerá para uma intangível mas importante sensação de normalidade das populações; ao mesmo tempo, concorrerá, ainda, para uma sensação, mais tangível, essa, de normalidade financeira por parte dos clubes e demais agentes associados ao fenómeno.
 

Por cá, as notícias que apontam para a inclusão da Cidade do Futebol e do estádio de Barcelos no lote de recintos com capacidade para acolher vários dos 90 jogos que faltam para completar a I Liga, são bem vindas. Para fechar este ciclo falta saber qual a solução para os jogos caseiros do Marítimo, que continua a fazer finca pé do direito de jogar em casa, valha o que isso valer desportivamente, neste novo mundo à porta fechada. Essa é, para já, a pedra no sapato deste processo já em marcha…