O futebol é o jogo do povo! (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO O futebol é o jogo do povo! (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL28.04.202014:02

O futebol, que durante tanto tempo fez da resistência à evolução uma forma de estar e ser, tem sido, ao longo dos últimos anos, palco de mudanças várias, umas ditadas pela necessidade de premiar o jogo limpo - através de uma punição cada vez mais severa dos infratores - outras impostas por inovações tecnológicas que passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia.

Quando comparamos o jogo como era jogado, por exemplo, na década de sessenta do século passado com aquele que hoje vemos, para além de um crescimento físico-atlético exponencial e de uma cultura tática que deixou de ser privilégio de apenas alguns, é na parte disciplinar que notamos maiores diferenças. Passou-se da permissividade perante o jogo brutal – e o que fenómenos como Pelé, Di Stefano, Pelé ou Cruyff tiveram de superar em jornadas de verdadeira caça ao homem sem castigo! – para uma proteção cada vez maior aos artistas. Repito, é incomparável a abordagem disciplinar de então, com a de agora…

Também houve mudanças significativas no tempo útil de jogo, que desde as limitações aos guarda-redes e depois da introdução do conceito de múltiplas bolas, passou a ser cada vez mais largo (e muito há ainda que fazer, sendo que o próximo passo apontará, tenho a certeza, para a cronometragem eletrónica) e a necessidade de adaptação ao vídeo árbitro trouxe mais uma mão cheia de novidades.

Ou seja, de avesso à mudança, o futebol, para sobreviver e prosperar, teve de abrir-se à inovação.

Há 50 anos, quando foram introduzidas as substituições, os treinadores ganharam instrumentos para fazer ainda mais a diferença a partir do banco e quando às duas iniciais, vinte anos volvidos, se juntou uma mais, essa tendência acentuou-se. Veio mais recentemente uma quarta alteração, prevista apenas para os prolongamentos, até que, para dar resposta aos tempos tão especiais quê se adivinham, está em cima da mesa a introdução de cinco substituições, capazes de dividir o esforço da equipa por mais atletas e corresponder à concentração de jogos que se deseja a partir de junho.

Embora ditada por circunstâncias anómalas, julgo não ser abusivo dizer que, uma vez provado o sabor de mais duas substituições, com tudo o que isso trará de vivacidade ao jogo e de teste às capacidades dos treinadores, não haverá volta atrás.

O futebol é o jogo mais belo que o homem inventou. E desde as últimas décadas do século XIX que esta modalidade, nascida entre os brasonados de Inglaterra, foi conquistada pela classe trabalhadora, que fez dela parte das suas vidas. É por isso que, passando pela provação da porta fechada, das máscaras nos jogadores, dos treinos condicionados, de mudanças de regras e de tudo o mais que vai acontecer e ainda não conseguimos antecipar, no fim do dia, que todos desejamos que chegue mais cedo do que mais tarde, o futebol prevalecerá. Porque tem um estatuto que lhe garante a imortalidade: é o jogo do povo!