O dragão tomou posse numa noite triste (crónica)
Vitória do FC Porto sobre o Chaves. Foto: André Alves/Grafislab

Chaves-FC Porto, 0-3 O dragão tomou posse numa noite triste (crónica)

NACIONAL04.05.202423:05

Duas equipas a jogar sem alegria perante a tabela. Chaves ficou reduzido a 10 aos 28 minutos. Ataque do FC Porto deu frutos

Foi perante um estádio triste, com menos adeptos do que seria de esperar se nesta altura do campeonato a equipa da casa não estivesse quase a descer de divisão e a visitante não estivesse já arredada do título, que o FC Porto venceu o Chaves e segurou, por agora, o terceiro lugar na Liga.

Nem transmontanos nem portistas desejariam estar a lutar por estes objetivos, mas se no início da época alguém dissesse que, à 32.ª jornada, o FC Porto ia entrar em campo com uma defesa composta por Martim Fernandes (18 anos), Zé Pedro (26), Otávio (22) e João Mendes (24), também ninguém acreditaria.

Curiosamente, foi com este trio habituado a jogar na equipa B mais o central reforço de janeiro que os dragões não sofreram golos nesta partida, o que não acontecia na Liga há sete jogos (a última vez tinha sido contra o Portimonense, na 25.ª jornada).

PEPÊ NO MEIO E CHAVES COM 10

Com Galeno ausente por castigo, adivinhava-se o regresso de Taremi à titularidade, mas Sérgio Conceição não abdicou de ter Pepê no meio e preferiu encostar o iraniano mais à esquerda, ainda que sempre com tendência a aproximar-se da área.

Revelou-se certeira esta opção do técnico, com o brasileiro a sofrer a falta que deu o primeiro golo precisamente por ali e a iniciar naquela zona a bela jogada do segundo. Pepê já se adaptou a várias posições no FC Porto, mas é mais feliz - e decisivo - no seu habitat natural.

Também pelo meio, mas da primeira parte, o Chaves ficou reduzido a 10, por expulsão de Júnior Pius. A entrada dura sobre Alan Varela veio pouco depois de uma discussão acalorada com o árbitro, pelo que os dois cartões amarelos surgiram com naturalidade.

Se já estava complicado para o Chaves, mais ficou, pois claro. E o resultado ao intervalo até podia ser mais avolumado, se Rodrigo Moura não tivesse defendido o remate de Evanilson, aos 41, e se o VAR não tivesse anulado o golo de João Mendes por fora de jogo, aos 43.

PENÁLTI PARA TAREMI

A segunda parte começou com mais cabeça: primeiro a de Héctor Hernández, que cabeceou por cima após cruzamento de João Correia; e depois com a de Pepê, a chegar ao cruzamento de Francisco Conceição. O brasileiro voltou a aparecer na área do Chaves pouco depois, mas não teve o instinto matador para finalizar a boa jogada de Nico González e Taremi.

Sérgio Conceição está habituado a que os seus jogadores falhem muitos golos esta época e, portanto, não terá sido por isso que, um minuto depois, fez Pepê recuar para o lugar de Martim Fernandes, o primeiro a ser substituído. Entrou então Romário Baró e o treinador terá gostado de ver o recuado Pepê a combinar com o médio recém-entrado e a sofrer o penálti que deu o terceiro do FC Porto. Marcou Taremi, que por agora não se contém nos festejos, não vá ser este o último golo marcado com aquela camisola.

Por esta altura já Moreno tinha mudado, e voltou a mudar, mas perdoem-me a repetição do verbo quando vos disser que o Chaves não mudou assim muito: procurou sempre um jogo sem ritmo, mesmo continuadamente a perder, para que a organização não se desfizesse. É verdade que jogar com menos um durante mais de 60 minutos contra o FC Porto tornará mais injusta esta avaliação, mas também bastará olhar para a tabela para constatar que esta equipa dificilmente faria melhor.

Do outro lado, Conceição ainda estreou mais um jovem - Gonçalo Sousa, de apenas 17 anos -, o que terá agradado aos defensores da formação André Villas-Boas e Zubizarreta, que estavam num camarote do estádio a assistir. Terão certamente ouvido os adeptos do FC Porto a cantarem, perto do fim do jogo, por Jorge Nuno Pinto da Costa. A tomada de posse está marcada para a próxima terça-feira, mas até lá fica uma justa vitória dos dragões, um passo em frente em direção à Liga Europa e um Chaves a rezar por um milagre.