CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO O discurso da rainha (artigo de José Manuel Delgado)
A Isabel II, rainha do Reino Unido, Chefe da Commonwealth e Governadora Suprema da Igreja de Inglaterra, no trono há 68 anos, não se atribuiu, vendo de fora, a importância que os seus súbditos lhe creditam. Muitas vezes, até, quando se quer dar um exemplo de falta de poder, diz-se que «manda tanto como a rainha de Inglaterra.»
Porém, o que vemos é diverso e a magistratura de influência que exerce acaba por ser determinante para o estado de alma dos britânicos. Aliás, se quisermos quantificar a importância que lhe é dada nas ilhas britânica, basta passear pelas primeiras páginas dos jornais de hoje, onde o discurso que proferirá esta noite, a partir das 20 horas, é tema central. Isabel II gravou ontem a mensagem aos súbditos, e apelou ao orgulho de uma geração que tem agora a oportunidade histórica de estar à altura da história do Reino e ser motivo de admiração dos vindouros.
Muito se tem falado no estado de guerra em que o Mundo se vive, contra a pandemia de Covid-19. O discurso da rainha, próprio de quem pretende dar uma injeção de ânimo ao povo, prova como o confinamento tem de ser visto como a única resposta eficaz a este ‘blitz’ viral dos tempos modernos, como é adequada a economia de guerra que está a ser implementada por todo o lado e como, ainda, devemos estar preparados para, a seguir, à imagem do que mandou o Marquês de Pombal após o terramoto de 1755, «enterrar os mortos e tratar dos vivos.»
O reinado de Isabel II já tinha visto quase de tudo, desde os desafios do pós guerra, à luta contra o IRA, desde a guerra das Malvinas à crise pela morte da Princesa Diana, passando pela intervenção britânica nas guerras do golfo e na batalha global contra o terrorismo, sem esquecer o mais recente sobressalto, conhecido por Megxit, que antecedeu outro problema bem mais sério, o Brexit.
Faltava-lhe uma pandemia para não lhe faltar nada. Nada lhe falta, agora. E o sentido de Estado da Monarca de 93 anos permanece imperturbável e imutável, contra ventos e marés, uma rocha onde os britânicos se apoiam em tempos de crise, e que por vezes é mal compreendido por quem vê de fora.
O poder intangível de Isabel II vai muito para além dos poderes executivos de Downing Street. Aliás, por Buckingham, para audiências com a rainha, no contexto de uma democracia sólida, já passaram Winston Churchill, Anthony Eden, Harold McMillan, Alec Douglas-Home, Harold Wilson, Edward Heath, James Callaghan, Margaret Thatcher, John Major, Tony Blair, Gordon Brown, Davis Cameron, Theresa May e Boris Johnson…