Hoffenheim, parabéns ao Nico pela masterclass e a bravura: tudo o que disse Vítor Bruno
Treinador do FC Porto fez a antevisão do jogo com o Hoffenheim, da Liga Europa, que se realiza amanhã, às 20h00, no Estádio do Dragão
— O Hoffenheim tem marcado muitos golos, mas também tem sofridos. Pode ser uma debilidade?
— É o que procuramos em cada jogo: ir ao máximo em busca do equilíbrio entre os momentos defensivo e ofensivo. Sermos consistentes e robustos no ataque. O Hoffenheim é uma equipa muito vertical, por isso teremos de estar atentos e tentar tirar a bola a um adversário que não se sente confortável quando tem de correr atrás da bola. Precisamos de manter aquilo que temos vindo a construir e evitar o erro comum de olhar apenas para o plano estratégico e descurar a nossa própria identidade. Analisámos o Hoffenheim, mas não podemos desvirtuar o que é nosso. Temos de ser agressivos e manter um grande equilíbrio, que será a chave para o jogo de amanhã.
— Haverá a possibilidade de o Djaló ser titular, depois da boa exibição na Taça de Portugal?
— Na defesa e no meio-campo tivemos duplas novas... São jogos de realidades diferentes. Nada é comparável, cada jogo tem uma história diferente. O adversário de amanhã é muito diferente do Sintrense, e os paralelismos são poucos ou nenhuns. Não lançámos o jogo contra o Sintrense a pensar no Hoffenheim. Procuramos levar para o jogo o que é melhor e o que melhor se adapta ao adversário. Não olhando só para ele, mas também considerando as nossas próprias características.
— Existe favoritismo do FC Porto neste encontro?
— Não somos favoritos a nada, temos uma fé inabalável em cada momento e um grande desejo de vencer. Somos candidatos, não favoritos a nada. Não podemos nos deixar embriagar por quem é o adversário ou pela classificação atual da Bundesliga. É tudo relativo.
— O facto de ter havido duas semanas sem competição terá repercussões neste jogo?
— Não conhecemos outra palavra-chave que não seja trabalho diário. Foi o que fizemos durante estes 15 dias, com base no Sintrense. Não preparámos o Sintrense a pensar no Hoffenheim. Podemos, numa fase, levar o jogo para outra ideia, mas não preparamos um jogo a pensar noutro. Nessas duas semanas focadas no Sintrense, vi muito pouco do Hoffenheim. Mas, assim que acabou o jogo em Sintra, foquei-me no Hoffenheim. Amanhã temos espaço para treino, mas foram 15 dias a preparar o Sintrense.
— Tem algum plano especial para travar o Kramaric, a estrela do Hoffenheim?
— Olhei para o Nico não porque tenhamos feito algo contra ele em específico, mas porque ele pode nem jogar... Já houve jogos da Liga Europa em que não começou. Tentamos ao máximo evitar que isso aconteça, mas sem focar apenas em anular determinado jogador. É diferente ter o Bülter na frente ou o Max, jogar o Stach no meio-campo ou o Grillitsch. E é diferente se o Kramaric jogar ou nem sequer estiver em campo. Ter o Hlozek a jogar por trás dos avançados... Não queremos fugir do nosso trabalho. Peço que não desviem nada do que é nosso, tentando tirar o máximo partido do que o adversário nos oferece.
— Que impacto pode ter o facto de o FC Porto chegar a este jogo com seis golos sofridos nos dois anteriores?
— Não tem impacto. Sinceramente. O FC Porto tem um ponto, tem de adicionar três pontos ao que já temos. É atacar o jogo, e amanhã é o mais importante de todos. Não há jogos de vida ou de morte. Gosto que os jogadores desfrutem do jogo com entrega, sentido de responsabilidade e que representem os valores do FC Porto. Temos vários exemplos. O Nico pode jogar em várias posições, por exemplo. O que pedimos ao Nico quando está mais atrás é o mesmo que pedimos a qualquer outro que jogue nessa posição. Às vezes, é preciso domá-lo um bocadinho, porque agora tem fome de golo e é preciso controlá-lo um pouco. Peço compromisso total, bravura e um compromisso inegociável. Contra o Bodo, houve alguns comportamentos do Rodrigo Mora, e se compararmos com o que ele fez com o Arouca, vemos as diferenças. É muito fácil ouvir falar sobre o Mora e questionar porque é que ele não tem minutos... É preciso ter cuidado. O mesmo se aplica ao Fábio Vieira. Observem o comportamento dele na hora de recuperar frente ao Sintrense. O André Franco também. Isso tem significado. Ver jogadores darem as mãos e perceberem que não vão ser infalíveis. Podem errar e devem errar, mas o espaço para lidar com o erro é curto. Pode durar meio segundo, não mais. É preciso procurar resolver e, acima de tudo, resolver.
— As exibições do Martim e do Djaló criaram-lhe alguma dúvida na estabilidade da defesa?
— Criam-me dúvida, como cria dúvida o Fábio Vieira, ainda não estando em pleno. Como deu o Vítor Jaime, como deu o Wendell e o Fran Navarro, que merece cada cêntimo do vencimento que aufere no FC Porto. Todos me fazem pensar; o que quero é que compitam para me tornarem a vida difícil. Se joga o Nehéun, o Djaló, o Zé Pedro, o Otávio... Depende de muita coisa do que queremos com a bola, da forma como se complementam. Dinâmicas há muitas. No fundo, queremos dar riqueza ao nosso jogo, dificultando ao máximo a missão do adversário, sem desvirtuarmos o que é nosso. O que nos preocupa e move é isso. Parabéns ao Nico pela masterclass que deu na comunicação e parabéns ao João Brandão e à equipa técnica pela primeira vitória da equipa B.
— Qual é a diferença entre jogar Martim Fernandes ou João Mário?
— Não posso entregar tudo aqui hoje, se não começo a dar sinais do que pode acontecer amanhã. Depende muito do adversário e de quem joga na frente do lateral. Essa é uma condição importante da qual não nos podemos alhear. O Martim está a fazer o seu percurso e a ter o seu crescimento normal. Até o João Mário, numa recente entrevista, antevê um grande futuro ao Martim. Quando há colegas da própria posição a elogiar o colega, para mim é sinal de unidade que depois se transporta para o campo. Eles sentem a qualidade que está do outro lado e obriga-os a competir a alto nível para poderem dar resposta em jogo e serem opções regulares no onze. São tão importantes aqueles que começam de início como os que acrescentam a partir do banco. Às vezes o jogo pede que comece um para depois injetar outro que acrescente algo de novo, dependendo do adversário, da estratégia, de quem joga à nossa volta. O Martim, no último jogo, teve nuances que não tem levado tanto a jogo, porque sentimos que era o momento ideal para o fazer e testar num espaço diferente com bola do que aquele que habitualmente ocupa. O João é mais de vertical, de linha, de corredor. Também tem essa formação de raiz e recolhendo um pouco mais no campo não perde isso. Mesmo com pequenas adaptações que possamos fazer, ele não vai perder, porque é dele, é inato, cresceu com ele. Oferecem coisas diferentes: um joga melhor por dentro, o outro melhor por fora; um é mais acelerador, outro, se calhar, toma melhores decisões mesmo sob pressão; outro, se calhar, no último terço é mais decisivo na forma como assiste colegas; outro, se calhar, é mais robusto a defender. Eles complementam-se. Tentamos em treino fazer com que sintam as dificuldades que têm para tentar melhorá-las. Com o João temos de caminhar num sentido, com o Martim noutro. Há pontos de contacto no que são fragilidades e pontos fortes. Depois, é tentar levar a treino para que melhorem o rendimento com o trabalho diário. Isso é o que nos preocupa e que nos guia. Se joga o Martim ou o João, depois depende do adversário, da estratégia, de quem joga à volta deles. E tomamos decisões nesse sentido.