Pinto da Costa e Conceição de costas voltadas: os motivos

Entrevista do ex-dirigente à TVI, em agosto passado, na qual considerou «uma deselegância», mas não uma «traição», Vítor Bruno ter aceitado treinar a equipa principal, deixou antigo treinador do FC Porto revoltado

Desde finais de agosto que Pinto da Costa e Sérgio Conceição se afastaram um do outro. Na génese do  mal-estar esteve uma entrevista do antigo presidente do FC Porto à TVI, em que considerou exagerada a ideia de que Vítor Bruno traíra Sérgio Conceição quando aceitou o desafio de André Villas-Boas para liderar a equipa principal. «Traição talvez seja uma palavra muito forte. Vou dizer que foi uma deselegância», afirmou.

«Deselegância» foi um termo que, por seu turno, Conceição considerou desadequado e pouco assertivo no comentário do ex-dirigente, naquela que era a sua primeira entrevista depois da derrota nas eleições no clube. Sendo um homem frontal, disse-o a Pinto da Costa, num contacto posterior à entrevista, lembrando que esteve sempre do seu lado, nos bons e maus momentos, e que esperava uma defesa mais firme.

Essa chamada de atenção ajuda a situar a mais recente polémica sobre um excerto do livro ‘Azul até ao fim’, obra de Pinto da Costa que será lançada domingo, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto.

Desta vez, trouxe à superfície uma revelação sobre dois negócios que o ex-líder dos portistas rotulou de «ruinosos», associando-os a um certa pressão exercida pelo técnico: as compras de Zé Luís (12,2 M com encargos adicionais) ao Spartak de Moscovo e Nakajima (12 M, 50 por cento do passe) ao Al Duhail, do Catar. «Não servia de desculpa a pressão que o treinador [Sérgio Conceição] nos fez para a compra desses jogadores, porque os culpados fomos nós em ceder a essa pressão», escreveu.

Não serviu de desculpa mas, no fundo, responsabilizou indiretamente Sérgio Conceição pelo dilema que o FC Porto teve de enfrentar em janeiro de 2022: vender Luís Díaz para pagar dívida de €6 milhões e não ver o FC Porto excluído das provas da UEFA ou transferir ao desbarato Taremi, Vitinha e Fábio Vieira. Partiu Luís Díaz para o Liverpool por €45 milhões, com pagamento de uma remuneração variável que pode chegar ao €15 milhões.

O esfriar de relações acabou por se refletir nalgumas passagens do livro de Pinto da Costa. Não só neste caso, mas na omissão do nome do treinador entre os que o ex-presidente portista quer no seu funeral. Sendo verdade que não foi 'desconvocado', era natural que Conceição surgisse na lista, por ser o técnico que mais épocas trabalhou com Pinto da Costa e aquele que devolveu o FC Porto aos títulos numa fase delicada da história do clube.

Até que ponto se pode falar de divórcio? Na apresentação do livro, domingo, se saberá. Afinal de contas, no evento cabem 1200 pessoas e se Sérgio Conceição não estiver lá será um sinal forte. E é mesmo provável que não esteja...