Há viúvas a chorar no Estádio do Dragão
Calma, sugere Galeno aos adeptos do FC Porto (GRAFISLAB)

Há viúvas a chorar no Estádio do Dragão

O FC Porto lá vai ganhando os seus jogos na Liga, mas 19,52 por cento dos seus adeptos ainda não completaram o luto e assobiam, apupam e insultam.

O FC Porto parece ser um clube ainda dividido entre o passado de Jorge Pinto da Costa e o presente de André Villas-Boas, entre o passado de Sérgio Conceição e o presente de Vítor Bruno, entre o passado de Vítor Baía e o presente de Jorge Costa.

Ao mínimo sinal de desconforto durante o jogo, soltam-se os assobios e os apupos. É assim em todos os clubes, é assim no FC Porto, Benfica ou Sporting, por exemplo, mas parte dos adeptos dos dragões (mais precisamente 19,52%) parecem não ter ainda completado o luto de 42 anos (negação, raiva, negociação, depressão e aceitação). E 19,52% no estádio, são cerca de 8 mil. E 8 mil fazem barulho: assobiam, apupam, insultam. São as viúvas de Pinto da Costa e de Sérgio Conceição, misturadas com quem não suporta ver a equipa a jogar menos bem.

O FC Porto é, porém, a única equipa que já tem um troféu conquistado em 2024/2025: a Supertaça Cândido de Oliveira, arrecadada de forma esplendorosa frente ao Sporting nas condições que todos recordaremos. Em matéria de títulos, FC Porto, 1, Sporting, 0, Benfica, 0, SC Braga, 0. Há depois a Liga Europa. E aí, sim, houve um jogo dramaticamente mal jogado pelos dragões. Na Noruega, claro. Na segunda jornada, com o Manchester United, nova impressionante reviravolta (0-2 para 3-2) e, por fim, o insólito de sofrer um golo aos 90+1 e (quase dá vontade de rir) por intermédio de Maguire.

Na Liga, excluindo a derrota por 0-2 em Alvalade, em casa do campeão nacional e líder da prova, nada a dizer: 4-0 ao Arouca, 2-1 a SC Braga e Farense, 3-0 ao Gil Vicente e 2-0 ao Rio Ave (no Dragão) e mais 2-0 com Santa Clara e 3-0 com V. Guimarães (fora de casa). Para já, com vitória ou não do Benfica na altitude da Choupana, o FC Porto manter-se-ia no 2.º lugar e com interessante horizonte pela frente.

Além disso, por muito que as viúvas chorem e não completem todas as etapas necessárias ao luto, o FC Porto soma 21 pontos em 24 possíveis. Na última década, para não irmos mais longe, só por uma vez nesta mesma fase da prova (oitava jornada) os dragões somavam mais pontos: 22 em 2017/2018, primeira época de Sérgio Conceição como treinador. E só numa outra (2019/2020) tinha os mesmos 21 de agora. Falemos de golos. O FC Porto leva 18 marcados e 4 sofridos. Diferença: +14. Só mesmo em 2017/2018, na tal primeira temporada de Sérgio Conceição, houve melhor: +16 (19-3).

Significa tudo isto que o FC Porto vai ser campeão nacional? Não. Significa apenas que só perdeu pontos em casa do campeão e líder da Liga e que já defrontou Sporting, SC Braga, Santa Clara e V. Guimarães, quatro dos seis primeiros classificados. Significa também que os adeptos do FC Porto (pelo menos os tais 19,52%), habituadíssimos a vencer desde 1982, deveriam entender que não é só a equipa e o treinador que estão a adaptar-se às dores de crescimento. É o clube em si. Calma, pessoal. Neguem, enraiveçam-se, negoceiem, deprimam-se e, por fim, aceitem e juntem-se aos restantes 80,48%.