Numa partida em que nunca houve incerteza quanto ao destino dos três pontos, Bruno Lage apresentou uma novidade, antes timidamente ensaiada mas sem a continuidade que a partir de agora deve ter, que teve a ver com o posicionamento de Leandro Barreiro, assumindo o internacional luxemburguês uma missão híbrida, que passava por pressionar alto na saída de bola do Famalicão, ter segurança de passe quando se juntava a Florentino e Kokçu para trabalhar no meio-campo, e, acima de tudo, revelar uma capacidade de chegada, vindo de trás, à área adversária, que não se via no Benfica desde os melhores dias de Pizzi. Foi assim que Leandro Barreiro chegou ao ‘hat-trick’, o primeiro golo feito com um toque subtil, à ponta de lança, o segundo após assistência de Schjelderup e o último, também a passe do norueguês, surgindo com pezinhos de lã, ao segundo poste da baliza minhota. O Famalicão, que bem quis esticar até às imediações de Trubin o 4x2x3x1 que preparou para este jogo, nunca assustou um Benfica defensivamente diferente (a única hipótese de marcar, aos 55 minutos, por Sorriso, deveu-se a um erro de Otamendi). E defensivamente diferente, porquê? Essencialmente porque a equipa foi muito mais eficaz na pressão, com Akturkoglu e Schjelderup a trabalhar nas alas, Barreiro a fechar o meio, e Florentino a proteger os centrais, enquanto que Kokçu, o maestro da equipa, ajudava na meia-esquerda. Será que quando Di María, o virtuoso, regressar, o Benfica consegue jogar assim, em modo de rolo compressor? Provavelmente não, porque haverá que encontrar uma fórmula para compensar o que o mago argentino já não faz defensivamente. Uma questão de fundo a que Bruno Lage deverá dar resposta. O que se viu no ‘poker’ ao Famalicão, que não ganha um jogo desde 3 de novembro do ano passado, foi uma grande sintonia coletiva quando tocou a pressionar, o que permitiu a Trubin uma noite descansada, exceção feita ao ‘soluço’, já mencionado, de Otamendi. Mas se do ponto de vista defensivo o Benfica melhorou globalmente (e nenhuma equipa que não defenda bem alguma vez será campeã nacional), na ótica atacante também há muito a dizer. A começar por Schjelderup, que faz coisas do arco-da-velha, assistiu duas vezes para golo, meteu velocidade no flanco esquerdo sem medo de encarar o um-contra-um e, ao mesmo tempo, deu a ideia de estar apenas a mostrar um terço do seu potencial. Há uma estrela que se está a revelar na Luz, assim quem de direito acredite nele e aproveite um futebol alegre e ofensivo, que não se esquece de defender, e que vai pecando, sobretudo, por demasiada sofreguidão quando na posse da bola. Depois, Leandro Barreiro, que tem golo, ‘timing’ de chegada à área (como Pizzi, ou como o leão Pedro Gonçalves, jogadores que não estão, mas aparecem, para finalizar), e deixou tudo em campo, agarrando com unhas e dentes a oportunidade de jogar onde mais gosta. E há Kokçu, de batuta na mão e cabeça levantada, a pautar o jogo com autoridade, revelando-se um oito moderno, a defender e a fazer jogar, o que permite a Florentino atuar como mais gosta, ou seja sem ter um parceiro ao lado (Javi García, Matic e Fejsa também eram assim). Afinal, como jogou o Benfica, em 4x3x3 ou em 4x2x3x1? Pelo posicionamento na cabeça da área de Florentino, recuado em relação a Kokçu, que baixava para distribuir jogo e a Barreiro, que se adiantava para dar apoio a Pavlidis, falar-se em 4x3x3 será mais correto porque, embora, por vezes, Kokçu surgisse ao lado de Florentino, nunca houve lógica ou dinâmica de ‘duplo pivot’. Perante este quadro, o Famalicão ainda tentou agitar a frente de ataque com Sejk (63), mas houve sempre mais Benfica, mesmo naqueles momentos de menor fulgor, em que os encarnados baixaram propositadamente a intensidade do jogo, para a seguir acelerarem. E por falar em aceleração, que dizer da velocidade de João Rego no lance de quarto golo, em que sprintou pela direita, passou a Akturkoglou, que de seguida assistiu de calcanhar o compatriota Kokçu para o golo de mais belo efeito da noite? Segue-se o Barcelona, que mora num planeta diferente do Famalicão. Que mudanças, individuais e coletivas, irá introduzir por Bruno Lage, depois de ter testado uma fórmula de sucesso? Na próxima terça-feira este mistério será desvendado…