Na segunda parte da entrevista à televisão do clube, Ugarte agradeceu aos adeptos e confessou que, um dia, gostava de voltar a Alvalade. -- O que é melhor para si, um grande desarme de carrinho ou um golo? -- Desfruto mais com um carrinho. --Mesmo com poucos golos para mostrar? -- Sim. -- Afinal, o Ugarte é um número 6 ou um 8? -- Agora mais um número 6. Às vezes tenho de me habituar nesta posição mas no Sporting sempre fui um 6. -- Foi uma evolução para si? -- Jogava mais na frente e isso também enriquece o meu nível, mas agora sim, sou 6 e aprendi muito. No Famalicão não era metade do jogador que sou agora e isso também é muito importante para mim. -- Porque escolheu o 15 aqui no Sporting? -- Gostava muito do cinco mas na altura já estava ocupado. Gostei do 15. -- Tem número incríveis em termos de recuperações de bola na última época. Gosta daquele confronto físico, dentro das leis, dentro de campo? -- Sim. Para mim é natural. Jogo assim e na equipa também já todos sabem como jogar e que trabalho têm de fazer. Fico confortável no confronto físico. -- Imagine que estava aqui em campo e lhe aparecia pela frente o Ugarte. O que lhe fazia? -- Tentava fazer-lhe uma cueca e acho que conseguia [risos]. A mim dão-me muitas cuecas. -- Dar tudo em campo é o mais importante? -- Sim, sempre joguei assim e sempre jogarei porque é a minha maneira de ser e de jogar. Fui muito feliz no Sporting. -- Qual o momento mais feliz em Alvalade? -- O mais feliz foi quando estava no balneário com Pedro, o nutricionista, no jogo com o Arsenal depois de ser expulso. Estava a ouvir os penáltis e, quando passámos na Liga Europa, esse foi um dos momentos mais felizes. -- O Coates disse que o Manu fez de propósito ao ser expulso para não marcar os penáltis… -- Isso fica para mim… -- Mas ia ouvindo os golos enquanto marcavam os penáltis… -- Antes de ver, estava a ouvir. Era uma tortura mas, pronto, correu bem e esse foi um momento incrível. Só fiquei com pena de não poder ir ao campo para festejar com os meus companheiros mas festejei com o Pedro. -- Qual o momento mais complicado que viveu aqui? -- É difícil sempre que se perde jogo, fico sempre um bocado chateado, triste. -- Como vive com esses momentos? Fecha-se? -- Guardo muito para mim. São coisas que tenho de melhorar, falar mais e tento desligar-me um bocado do futebol. -- Como é que reage aos ‘corredores da morte’? -- Acho que o mister tem alguma coisa contra mim, está sempre a bater-me… Mas também já dei algumas fortes. -- Quantas vezes já passou por aquele túnel? -- Muitas… O Paulinho dá forte. -- É o que dá mais forte? -- O Paulinho não sei o que tem contra mim. Deve estar apaixonado. -- A 23 de novembro de 2021 estreou-se pela seleção do Uruguai. O Sporting também foi fundamental nisso? -- Sim, muito importante. Por isso também estou muito agradecido porque tive a possibilidade de jogar na seleção e para um jogador é muito importante estar lá. O Sporting tem grandes jogadores e vir para aqui aprender foi muito bom. Foi um passo muito grande. Estou na seleção graças ao Sporting. -- Como reagiu quando soube que o seu nome estava na convocatória para o Mundial de 2022? -- Fiquei muito, muito feliz. Estava em casa e foi incrível porque às vezes começo a pensar que ir a um Mundial com 21 anos é incrível. Não joguei mas desfrutei muito e nisso há muito mérito do Sporting. -- Estava um bocadinho nervoso antes da concentração? -- Estava muito nervoso. Sou muito assim antes duma convocatória. Agora estou um bocado melhor e já relaxo um bocado mas sempre antes da convocatória fico assim, bem como antes dos jogos. -- Como é que faz para ultrapassar esse nervosismo? -- Tento desligar-me mas é difícil. Vivo muito o futebol. -- Jogar um encontro da Liga dos Campeões ou frente ao último classificado da Liga é igual? -- Sim, sempre. No Uruguai já era assim. Independentemente de contra quem jogo, mostro sempre muita raça. A mentalidade é assim e nunca vai mudar. -- Como foi jogar na Champions e na Liga Europa? -- Na América do Sul o top é a Champions. No FIFA jogava Champions e nunca acreditei que ia jogar, apesar de sonhar. Graças ao Sporting joguei Champions, gostei muito. Isso é algo muito importante para um jogador, competir contra as melhores equipas. -- Ainda joga FIFA? -- Sim, continuo, continuo. É muito bom. -- É melhor do que quem? -- Do que o Seba [Coates], seguramente; melhor do que o Paulinho, do que o Franco [Israel]. -- E pior do que quem? -- Não sei como joga o Inácio, mas deve ser melhor do que eu. O Pote joga muito bem; o Dani [Bragança], também. Tenho de melhorar. -- Vai sentir falta das brincadeiras? -- Sim, muito, com todos. São relações no futebol que vou ter de manter. Quando tiver dias de folga, vou cá estar. -- E vai sentir falta dos adeptos do Sporting? -- Sem dúvida. Quando cheguei senti muito carinho e agora ainda mais. Sempre que vou jantar, as pessoas abordam-me com boa disposição, muito carinho e isso é o grande que tem o Sporting. Estou muito agradecido a eles; o ambiente em Alvalade é único. -- Como é quando se houve o ‘Mundo Sabe Que’? -- Canto sempre, embora não saiba a letra na perfeição, porque começam a cantar a música e o árbitro começa o jogo antes dela acabar. Às vezes estou a jogar e a tentar cantar. Isso é único e característico do Sporting. É muito bonito. -- Prefere dançar a cantar? -- Sim. -- Dança muitas vezes ou foi só na comemoração da Taça da Liga? -- Tenho de ter muita confiança. Às vezes sou tímido. Os movimentos de dança são mais de miúdo. -- Como aprendeu a dominar tão bem o português? -- Quando cheguei não sabia muito e comecei a pôr as legendas em português e depois de quatro/cinco meses já dominava a língua. Ainda não está perfeito, mas já domino bem. -- Como será agora o francês? -- Tenho de ter aulas porque não sei nada. -- De que vai ter mais saudades? -- Do dia a dia. Vir para a Academia, tomar aqui o pequeno almoço, depois almoçar, falar com os cozinheiros. Vou ter muitas saudades e dos jogos em Alvalade. Vou ter saudades das viagens da Academia para o estádio. Um bocado triste por isso mas é um passo que vou ter de dar para crescer como jogador. -- Quem deu mais: o Ugarte ao Sporting ou o Sporting ao Ugarte? -- Muito mais o Sporting a Ugarte. Deixei sempre tentar tudo mas o Sporting deu-me tudo. Não só no futebol mas também fora, que é muito importante. Isto muito agradecido ao Sporting e vou ter muitas saudades. -- Leão para sempre? -- Leão para sempre. -- Espera regressar um dia? -- Sim. Gostaria muito de voltar. Vamos ver. Agora vem uma nova etapa depois se verá. -- O mate vai consigo ou fica com Coates? -- Vou levar porque é algo que me faz lembrar o Uruguai e vou manter, de certeza. -- Uma mensagem aos adeptos… --Quero agradecer a todos, senti sempre muito carinho e vou ter muitas saudades de Alvalade cheio. Espero voltar um dia. -- As emoções já passaram? -- Já não tenho mais água no corpo.